ANÉIS EM PEDAÇOS - QUINTO CAPÍTULO DO ROMANCE

“ANÉIS EM PEDAÇOS” - QUINTO CAPÍTULO DO ROMANCE "OS PERCALÇOS DE UMA CONQUISTA"


-- Beijos meus amor. Torça por mim. Despediu-se Leny subindo a sua rua, com os pensamentos em alvoroço. Mas...

Estas foram as últimas palavras de Leny ao se despedir de Osmar naquela noite de sexta-feira. Ao chegar em casa, ainda transtornada pelo que aconteceu na quarta-feira com o Alexandre, evitou se abrir com a sua mãe, que insistia: -- O que está havendo com você minha filha? Anteontem eu vi você chegar triste e aborrecida, subiu para o quarto e não voltou mais.

Leny: -- Estou cansada mãe. Semana cheia de problemas. Vamos deixar pra conversar amanhã.

Valdívia: -- Assim espero e volto a lhe pedir pra não esconder nada da sua mãe. Além de lhe ver triste, tenho notado você sem a aliança. Vocês brigaram?

Leny: -- Sim mãe. Briga feia. Terminei com ele e joguei a aliança na cara dele.

Valdívia: -- Mas isso passa logo. Briga boba de namorados é assim mesmo. Daqui a pouco vocês voltam a se entender.

Leny: -- Depois que você souber o que aconteceu, não vai achar que foi briga boba. Estou com ódio dele e não quero vê-lo nunca mais na minha frente.

Valdívia: -- Agora fiquei preocupada. O que ele fez com a minha menina? Conte tudo e não me esconda nada.

Leny: -- Vamos deixar isso para amanhã mãe. Hoje não dá. Vou tomar um banho, deitar e procurar esfriar a cabeça.

Ao deixar sua mãe toda preocupada, Leny subiu e entrou no banho. E enquanto aquela água morna caía da sua ducha, os seus pensamentos lhe trouxeram a imagem de Osmar acariciando-a e excitando-a naquele banho a dois do último encontro no hotel. Leny estava apaixonada e somente a lembrança de Osmar a transportava para outra viagem, bem longe do turbilhão que ela estava vivendo. Ela se ensaboava e se tocava com os olhos fechados para sentir a presença dele naquele momento. E lhe chamava através do silêncio que vinha da força do seu pensamento: "Vem meu amor! Como eu preciso de você agora!

O banho foi demorado, relaxante e prazeroso com as carícias em seu próprio corpo, que lhe trouxeram o descanso necessário e o sono tranquilo que a serenidade da imagem de Osmar lhe proporcionava. Dormiu pensando nele, acordou pensando nele e não deixou de pensar nele no decorrer do final de semana, apesar do clima complicado entre as duas famílias de noivos com seus anéis em pedaços.

Ao descer para o café da manhã, Valdívia e João lhe aguardavam ansiosos. E não demorou muito para a mãe colocá-la contra a parede: -- Eu e seu pai estamos aqui preocupados e queremos saber o que aconteceu entre você e o Alexandre.

-- E lembre-se que sempre estaremos dispostos a lhe defender e a lhe ajudar. Completou seu pai João mostrando solidariedade.

-- Foi algo grave e sem propósito da parte dele, que me obrigou a acabar com tudo. Justificou-se Leny.

-- Então diga o que foi menina! Determinaram a mãe e o pai ao mesmo tempo.

-- O Alexandre é que vai ter que fazer isso meu pai. Eu exigi que ele viesse aqui se explicar com você. E disse mais: se não viesse, eu contaria tudo. Devolveu Leny com decisão.

-- Não estou gostando nada disso! Ou você se abre ou vou lá buscá-lo agora! Ameaçou João.

João sempre foi um homem bom, honesto e trabalhador. Mas também era um homem esquentado como todo nordestino que se sentia traído, menosprezado e ameaçado. Filho mais velho de cinco irmãos, sua família foi trazida pelo pai para o Rio de Janeiro quando ele ainda era um menino de doze anos. Procurando uma vida melhor e fugindo da seca e miséria da sua cidadezinha no interior de Pernambuco, seu pai e sua família se instalaram numa pequena casa alugada em vila no bairro do Grajaú. Uma casa modesta, mas bem cuidada pela sua mãe. O velho, graças ao seu porte físico, não demorou muito para se enturmar com os estivadores no cais do porto. Saía de madrugada de casa e voltava no fim da tarde, trazendo a renda diária calculada pela quantidade de sacos de sessenta quilos que ele descarregava dos navios e levava-os nas costas até os caminhões ou aos armazéns. Não era muito, mas sua mãe sabia controlar muito bem o dinheiro que o marido lhe deixava todos os dias.

Alguns meses depois, para ajudar nas despesas de casa, João conseguiu um biscate de ajudante nas feiras livres que percorriam as ruas do bairro durante a semana. Também acordava de madrugada, mas voltava no início das tardes para almoçar em casa e se preparar para as aulas na escola pública perto da sua residência. João completou o primário que tinha abandonado em Pernambuco para ajudar o pai na roça, mas teve que deixar o ginásio no segundo ano por motivos de trabalho. Com dezesseis anos começou a aprender o ofício de serralheiro e, mais tarde, se especializou, com a sua experiência, em moldar peças especiais de ferro e metais. Cresceu na profissão e tornou-se muito conhecido no bairro do Grajaú como um grande artífice na arte de criar ferramentas, fechaduras, grades para janelas etc. Abriu o seu próprio negócio que ainda mantinha até hoje com três empregados, cuja renda lhe proporcionou comprar a casa em que morava e criar os três filhos sem atropelos ou dificuldades. Era uma família simples, mas bastante conhecida e considerada no bairro pelos vizinhos.

João era bom de briga, mas só entrava nela se fosse provocado, apesar de muitas vezes tentar evitar. Não foram poucas vezes as que João se meteu em encrencas, desavenças e discussões para defender seus direitos e sua honra. E por Valdívia saber disso, tentou conter o marido.
-- Não vá cometer nenhuma besteira João! Vamos esperar o Alexandre se explicar antes de qualquer coisa. Determinou Valdívia, continuando em direção a Leny: -- Agora você vai contar o que aconteceu, porque não está certo esconder seus problemas de nós. Vamos lá! Conte!

-- Ele me forçou ao sexo, mãe. Tentei evitar, mas ele foi mais forte. Confessou Leny, constrangida e com lágrimas nos olhos.

-- Como é que é? Como foi isso? Aonde aconteceu? Fale logo Leny! Interrompeu João aos gritos e com irritação.

-- Ele foi buscar-me na saída do trabalho na quarta-feira, após marcarmos o encontro solicitado em seu telefonema. Como já não gostava mais dele desde antes do noivado que me pegou de surpresa e sem aviso prévio, não vi melhor ocasião para terminar com tudo. Relatou Leny e continuou, reclamando com indignação: -- Esse noivado armado por vocês e por ele sem eu saber de nada, foi um erro que me deixou incomodada por parecer que eu estava sendo colocada à venda como se fosse uma boneca de pano. Eu sou um ser humano que pensa e tem suas glórias e derrotas como qualquer um.

-- Mas você poderia ter recusado o pedido do pai dele, quando respondi que a decisão de aceitar o pedido de noivado era sua. Questionou João.

-- E eu tive tempo! A surpresa com aquela gente toda à minha volta, deixou-me indecisa e sem ação. E quando dei por mim, o anel já estava no meu dedo com todos aplaudindo. Que raiva! Exasperou-se Leny e continuou: -- Mas ainda não acabei a história. O Alexandre colocou-me dentro de um taxi e quando dei por mim, estávamos entrando num motel. Estranhei e recusei num primeiro momento, mas ele me convenceu em subir apenas para conversar. Ele queria saber o porquê da minha indiferença e das mudanças das minhas atitudes com ele.

-- Mas não tinha outro lugar mais discreto para conversar? Pelo que sei os motéis não são os lugares ideais para reuniões e palestras! Você ao entrar com ele, mesmo não querendo, deu a entender que você estava a fim de algo mais, além de despertar o desejo dele. Repreendeu Valdívia sem acreditar muito na versão da filha.

-- Mas eu estava a fim de somente conversar mesmo e tentar terminar com ele numa boa, sem ressentimentos e mágoas. Justificou-se Leny, continuando: -- Mas ele não deu tempo para qualquer assunto e foi logo pra cima de mim, mostrando a que veio e o que queria. Reclamei, gritei, chorei e me debati, mas ele estava possesso. Era um Alexandre que ainda não conhecia. Ele estava fora de si e magoado pela minha rejeição.

-- E aconteceu, não foi Leny? Quis saber a mãe.

-- Então ele lhe violentou? Que canalha! Esbravejou João dando um soco na mesa com ódio nos olhos e ameaçando: -- Ele me paga!

-- Não vai fazer nada João, até ele vir aqui se explicar. Fique calmo e pense na sua família. Determinou Valdívia preocupada com o gênio do marido.

João, muito a contragosto, resolveu atender a mulher e aguardar o outro lado. Apesar do clima tenso, aumentado com o contragosto do seu irmão Carlos que presenciou tudo e colocou mais lenha na fogueira, o dia passou com tristeza e indignação, enquanto se aguardava as explicações de Alexandre. Mas...

Quem apareceu no lugar do filho foi Antônio, trazendo uma recomendação inusitada logo após os cumprimentos de boa noite à família: -- Meu caro João, foi bem no outro dia que estive aqui pedindo a mão da sua filha para o Alexandre. E hoje eu volto para lhe dizer que este casamento tem que se realizar o quanto antes.

-- Como assim? Explique-se! Indignou-se João diante de uma Leny boquiaberta pela afronta de Antônio.

-- É que os dois tiveram um envolvimento acima da conta que pode trazer frutos antes do tempo. Justificou-se Antônio sem pestanejar.

-- Mas a Leny alega que ele forçou o sexo com violência. Isso é caso de polícia! Ameaçou João.

-- Não foi bem assim. Segundo o Alexandre, houve concordância dela. Devolveu Antônio de imediato, causando a pronta reação de Leny:

-- Então traga o covarde do seu filho aqui para falar isso na minha cara! Ele foi um cavalo, imbecil e ignorante!

-- Mas foi o que ele me disse e estou acreditando. Rebateu Antônio sem dar os braços a torcer.

-- Então saia daqui agora e vá buscá-lo, por que quem está acreditando na minha filha sou eu! Exasperou-se João.

-- E vá logo buscar o seu filhinho! Levantou-se Leny empurrando Antônio pela porta afora.

-- E se ele nõo vir eu vou buscá-lo amanhã na sua casa. E acho bom não me contrariar. Finalizou João cheio de razões e contrariedades.

Antônio saiu e os pais de Leny tentaram acalmá-la. Apesar de não concordarem com ela por ter entrado num motel com o Alexandre, eles abraçaram a filha com a proteção e o apoio que ela estava precisando. Disseram confiar e acreditar na sua versão e que nunca a deixaria sozinha e abandonada em qualquer circunstância. Leny se sentiu confortada e agradecida, beijando-os com carinho e respeito. Mas, infelizmente, Antônio não trouxe o filho Alexandre como exigiu João.

No dia seguinte de manhã, domingo, João se aprontou, tomou um gole de café e, com cara de poucos amigos, saiu ouvindo os pedidos de Valdívia para se controlar. Duas horas depois ele voltou e adentrou em sua casa não só com o Alexandre, mas com os seus pais também.
Após os cumprimentos normais da manhã, acomodaram-se na sala e o rapaz foi questionado imediatamente por João: -- Vamos lá meu rapaz! Repita na frente de Leny o que você falou pra mim a pouco na sua casa.

-- Antes de qualquer coisa, quero dizer que a Leny é o amor da minha vida. O que aconteceu foi uma relação mais intensa entre nós, dentro de um ambiente propício e acolhedor. Começou Alexandre tentando virar o jogo.

-- Mas ela alega que essa relação foi forçada por você, após imobilizá-la. Rebateu João com irritação.

-- Foi isso mesmo que aconteceu? Confessa Alexandre! Interrompeu Leny com fogo nos olhos.

-- O que aconteceu foi permitido por você, ao ingressar comigo naquele hotel. Injuriou Alexandre colocando o corpo fora.

-- Fale a verdade seu covarde! Seja homem! Entrei por que você garantiu que iríamos apenas conversar. Exasperou-se Leny com indignação.

-- Conversar também para entender a sua distância e rejeição após o noivado. Queria que você confirmasse ou não, se existe outro em sua vida. O motivo só pode ser esse seu João, a sua filha deve estar com outro alguém. Queixou-se Alexandre com o amor ferido.

-- Se estou com outro alguém não lhe interessa. O que interessa agora é que você está mentindo e não tem coragem de falar a verdade. Você me atacou dentro daquele hotel e fez de mim uma presa fácil com a sua força. Você me possuiu sem eu querer seu animal nojento. Reagiu Leny com agressividade.

-- Vamos com calma gente. Sem ofensas e agressões ao meu filho. Tentou amenizar Antônio.

-- É um animal mesmo! E sabe por quê? Porque, se eu tivesse permitido, não teria jogado a aliança na cara dele. Continuou Leny com disposição de provar suas palavras.

-- É a palavra de um contra o outro. Difícil saber a verdade... Argumentou Antônio ainda defendendo o seu filho.

-- A verdade é a minha. Diga Alexandre! Confessa seu tarado! Exasperou-se a moça levantando-se da poltrona, espalmando o rosto e socando o peito do rapaz com raiva.

-- Chega! Vamos acabar com isso! Fora todos daqui! Gritou Valdívia com irritação.

-- Estou acreditando na minha filha e vou defendê-la com unhas e dentes. Não apareça mais na minha frente rapaz! Isso é caso de polícia ou de lavada de honra. Sumam da nossa frente! E torçam para não termos surpresa daqui a nove meses, porque aí o bicho vai pegar. Determinou e ameaçou João ao abrir a porta expulsando-os da sua casa.

Quanto à surpresa em nove meses, Leny lembrou logo da primeira vez com Osmar e das pílulas anticoncepcionais que alegou estar tomando para encorajá-lo e deixá-lo mais à vontade naquela noite. Mas, agora, começou a arrepender-se por não ter se resguardado com elas.

As visitas indesejadas saíram e, após se acalmarem, os pais de Leny quiseram saber se ela realmente estaria com outro alguém como alegou Alexandre. Lembraram da ocasião em que Leny passou a noite fora e chegou à sua casa na parte da manhã. E se realmente ela perdeu o interesse por Alexandre após o noivado.

E Leny respondeu: -- Depois que comecei a trabalhar, conheci outras pessoas, outros lugares e senti que ainda é muito cedo para me prender a um casamento. O Alexandre me ocupava o tempo todo e reparei que a vida não é só isso. Estou contente com o meu primeiro emprego, quero passar no vestibular de final de ano, cursar uma faculdade, me formar e crescer como gente. Naquela noite que entrei no hotel, eu pretendia mesmo acabar com ele, mas deu tudo errado por culpa dele.

-- Mas você está gostando de alguém? Quis saber a mãe.

-- Você sempre pede para não esconder nada de você, como sempre fiz. Mas isso eu escondi até agora. Estou sim mãe. Estou amando alguém maravilhoso. Alguém que está me mostrando o verdadeiro amor. Confirmou Leny, pedindo perdão em seguida por guardar aquele segredo.

-- E naquele dia que passaste a noite fora, você estava com ele não foi? Quis saber um desconfiado João.

-- Estava com ele naquela esticada até à discoteca e ele trouxe-me de volta pra casa. Esclareceu Leny omitindo o principal motivo da sua noitada.

-- Quem é esse rapaz? O que ele faz? Traga-o aqui para nos apresentar. Surpreendeu-se e aconselhou Valdívia.

-- A situação ainda está muito recente mãe. Deixa-me ter certeza das intenções dele. Não quero decepcioná-los mais uma vez. Ele é um colega da faculdade já formado em administração, cursando outra cadeira para melhorar seus conhecimentos. Está empregado em uma grande empresa. Despistou Leny.

-- Mas veja lá o que você vai fazer com esse rapaz. Lembre-se que uma moça de família não deve se envolver com pessoas comprometidas, nem ficar curtindo momentos prazerosos sem envolvimento sério. Alertou João preocupado com a nova situação da filha, após a triste relação carnal que acabou de ser comprovada entre ela e Alexandre.

-- Tudo bem pai, não vou me esquecer disso. Aceitou Leny concordando com os conselhos de João, mas incomodada com a frase "pessoas comprometidas" que atingiu o seu peito como uma flecha atirada por Osmar.
====================================================
AGUARDE O SEXTO CAPÍTULO OU ACESSE O MEU BLOG COM A HISTÓRIA COMPLETA.
------------------------------
AGRADEÇO SUA VISITA E COMENTÁRIOS. Abraços.
BLOG DO POETA OLAVO NASCIMENTO
------------------------------
POETA OLAVO
Enviado por POETA OLAVO em 22/02/2016
Reeditado em 26/02/2016
Código do texto: T5552027
Classificação de conteúdo: seguro