O PIANISTA

Capítulo I – A Herança

Estávamos na primavera de 1964, e o golpe já tinha acontecido. Não era a Revolução de 1964 como alguns apologistas sem teoria e fundamento dizem por aí, e sim um verdadeiro golpe de Estado; melhor dizendo, um golpe afoito dos militares.

As vozes democráticas eram silenciadas no Brasil com golpes de cassetetes, ou para piorar, com um mundo invertido de cabeça pra baixo, seja num tanque d’água ou no pau-de-arara.

- Você irá falar?!

- Eu não sei onde eles estão?

- Diga ou morre seu filho de uma merda!

- Eu não tenho nada a dizer general...

Nesse contexto que a nossa história irá se desenvolver. Sempre acreditei que nasceriam flores em solos paquistaneses, e que numa linguagem mais metafísica, mesmo em tempos sombrios e frios da alma humana, nasceria a esperança.

Sendo assim, na primavera de 1964, em 22 de setembro, nasceria Alfred (o pequeno Alfredo como seria chamado na infância). Graças ao seu pai Armênio – dono de um jornal em Belo Horizonte e que por ordens lá de cima tivera que fechar - que levara a futura mãe de Alfred, a jovem Leocádia, às pressas para um hospital mais próximo que pudesse encontrar, em meio às turbulências de saber dos seus amigos desaparecidos e o fato novo de ser pai a primeira vez.

A herança?! Sim, a herança. Podemos interpretar a herança como boa ou ruim. Numa visão histórica, a herança que o Brasil daquela época deixaria para Alfred, seria tão ruim como drástica e sangrenta. Porém, tempos bons anunciariam em um simples testamento... então, esperemos o segundo capítulo para saber de fato, qual seria a verdadeira herança.

(Carlos André)