TEACHER VII - WE KEEP THE HOUSE - CAP. 6

WE KEEP THE HOUSE – Capítulo 6

Mais tarde, enquanto Laura descansava, Rupert levou Tereza e Décio para verem o pequeno Leonardo no berçário.

A enfermeira deixou que ele entrasse, devidamente paramentado e levasse o filho mais perto do vidro para que os amigos o vissem melhor. O bebê dormia gostoso todo enrolado em cobertores e nem parecia ter vivido todo aquele drama das últimas horas. Na verdade ele não estava nem aí mesmo. Hélio entrou na sala e ficou ao lado dele.

- Está feliz?

- Muito... Você não magina quanto...

Rupert olhou para o rostinho do filho e disse:

- Você nem sabe o quanto é amado, bichinho. Não tem nem ideia. Um dia eu vou contar toda essa estória maluca que eu e sua mãe vivemos... em inglês!

Hélio sorriu, bateu no ombro dele e afastou-se.

Meia hora depois, agora do lado de fora do vidro, Rupert continuava orgulhoso namorando o filho ao lado de Tereza e Décio.

- Ele é prematuro, mas é grande, não? – Décio comentou.

- Dois quilos e setecentos... Rupert disse.

- Caramba! Quase alcança o Bob! Meu Rupert nasceu com três! Mas também, pudera, minha Luíza não aguentava mais que isso não... é tão pequenininha. E ele foi feito meio às pressas...

Rupert apenas sorriu.

- Você não pode esquecer de ir à Nestlé, na segunda, não é, Rupert? – perguntou Tereza.

- Boa lembrança, Tê. Minha cabeça está tão a mil que eu sou mesmo capaz de esquecer.

- Já falou pra Laura?

- Falei… Tudo vai melhorar agora...

Rupert foi à empresa, cinco dias depois, no dia em que foi convocado e voltou com um sorriso enorme no rosto à noite. Laura já estava em casa, na cozinha, enrolando bolinhos de chuva, na pia. Leonardo dormia no moisés sobre a mesa e ela, curiosa, perguntou, logo que ele entrou na cozinha:

- E aí, como foi lá?

Ele beijou o filho levemente e foi abraçá-la pelas costas, beijando seu rosto.

- Como é que vocês estão?

- Estamos bem.

- Você não devia estar na cama, não?

- Deu vontade de fazer uns bolinhos de chuva, mas conta logo. Conta como foi?

- Tudo ótimo. Começo na segunda que vem. É só o tempo de mandarem meus papéis pro RH deles e eu já boto a mão na massa.

- E a faculdade? Deu pra conciliar?

- Eles foram muito legais nesse sentido. Eu disse que estava terminando o curso, mostrei meu histórico e eles disseram que, por enquanto, eu posso começar lá à uma da tarde até as oito...

- Oito? Você vai chegar bem tarde em casa…

- Na oficina, às vezes, eu ia até as nove.

- Mas morava perto.

- Ah, eu dou um jeito. São só três meses e meio. Não dá pra matar.

- E o salário?

- Quatro vezes o que eu ganhava na oficina.

- Só?

- Eu sei que é pouco, mas vai melhorar.

- Pelo menos é melhor que o meu... Professor nesse país é artigo descartável, ela falou sorrindo triste.

- Mas você não vai mais trabalhar, vai? Quem vai cuidar do Leonardo?

- Existem creches muito boas em...

- Creche? Você não vai colocar meu filho numa creche tão novinho!

- Não agora, claro, mas no início do ano que vem quando ele estiver com quatro, cinco meses... Eu não posso ficar sem trabalhar, Rupert!

- Laura, no começo do ano que vem, eu já vou estar formado e trabalhando em tempo integral. Meu salário pode melhorar. Não é ainda nada perto do que eu queria, mas dá pra gente viver. Acho até que vou alugar a casa do meu pai, já que não posso vender ainda.

- Não!

- Vou poder investir esse dinheiro em outra coisa, amor. Já não vou ter mais que ficar pensando na faculdade. Daí pra frente seremos só você, o bebê e eu. Podemos pensar em comprar uma casa térrea pra gente aqui perto...

- Rupert, pensa bem, por que não alugamos o meu apartamento e ficamos morando na casa do seu pai, então? Ela é sua agora.

- Naquele fim de mundo? Eu vou trabalhar na zona sul e morar na zona norte? Vou ter que atravessar a cidade inteira! Você não pode sair do seu apartamento. Já se acostumou a viver nele. Seu marido deixou pra você...

- Meu marido é você, Rupert!

Ele calou-se, olhando para ela. A ideia às vezes lhe fugia.

- Esse apartamento é meu e eu estou pedindo que, se você não quiser continuar morando nele, a gente aluga e vai morar na casa do seu pai. Ou ficamos com os dois. Não quero que alugue aquela casa. Seu pai está em tudo lá.

Ele pegou um pouco de massa e começou a enrolá-la nas mãos lentamente, pensativo.

- O que decidimos? – ela perguntou.

- Vou pensar.

- Vamos pensar, Rupert. O aluguel desse apartamento daria mais dinheiro do que o aluguel da casa do seu pai pela localização dele. A gente aluga e em um ano ou menos damos a entrada numa casa ou num outro apartamento perto do seu trabalho. Vamos morar por enquanto na casa do seu pai. Tem tanto do seo Régis naquela casa e a gente pode falar pro nosso filho sobre o avô dele que viveu lá.

- Uma casa tão velha...

- A gente reforma, antes de mudar. Não está tão velha assim. Tem um quintal gostoso lá pro Leonardo brincar quando crescer mais, hum?

Ele colocou o bolinho que tinha feito na frigideira escaldante e olhou para o filho.

- Está certo... Vitória feminina de novo, como diz a Tereza.

Ela o beijou, satisfeita e se apressou em tirar com uma escumadeira os bolinhos que já estavam ficando dourados na frigideira.

Leonardo acordou e Rupert foi pegá-lo no colo.

- O cheirinho dos bolinhos da sua mãe, acordou você, meu anjo? Eu sei o que é isso.

Ele beijou o rosto do filho e Laura perguntou:

- Sabe por que eu não quero vender aquela casa, além do fato de ter recordações bonitas do seu pai pra mim?

- Não, por quê?

- Porque foi lá que a gente dormiu junto pela primeira vez.

Rupert sorriu.

- Não precisa dizer mais nada. We keep the house.

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Welcome to my dreams...

CAPÍTULO 6

Velucy
Enviado por Velucy em 19/11/2017
Reeditado em 19/11/2017
Código do texto: T6176359
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