TEACHER VII - RECORDANDO 2 - CAPÍTULO 15

RECORDANDO 2 – Capítulo 15

Rupert deitou-se de lado na cama e segurou a mãozinha de Leonardo, deitado entre os dois. Continuou seu relato:

- Nas férias de dezembro, eu tirei pra pensar, pra pesar tudo e decidir o que faria da minha vida. Comecei a pensar se era aquilo mesmo que eu queria fazer. Me perguntava se eu ia poder passar o ano inteiro olhando pra você daquela forma, porque nem me passava pela cabeça te contar o que eu sentia. Eu morria de vergonha só de me imaginar te dizendo: “Laura, eu estou apaixonado por você!”. Sempre te via olhando pra mim com ar benevolente e dizendo: “Filho, isso é só uma fase. É carência. Eu poderia ser sua mãe! Tente esquecer...”. E no fundo dizendo: “Sai, garoto, vá procurar alguém da sua idade!”.

Laura riu novamente.

- Pobre de mim!

- Eu tinha pesadelos com isso! - ele disse, rindo também. – Acordava chorando de noite e meu pai vinha saber o que era e eu não dizia, desconversava... Era o caos! Uma vez eu gritei pra ele que ia largar a droga da faculdade porque não suportava mais. Nós brigamos feio, ele me jogou na cara que eu tinha feito o maior banzé no passado por que queria estudar e agora queria desistir... E eu quase não fiz a matrícula mesmo naquele ano. Só fiz porque a Tereza passou duas horas tentando me convencer de que você não ia se sentir bem, de soubesse que eu tinha deixado o curso por sua causa.

- Não ia mesmo. Apesar de tudo, essa moça sabe das coisas...

- É, só que isso atiçou a minha revolta. Eu estava tão decidido que disse a ela que era isso mesmo que eu queria. Que você viesse a saber e sofresse por minha causa como estou estava sofrendo por você.

Laura pegou o pijama de Leonardo colocou nele, enquanto sorria, balançando a cabeça.

- E ela?

- Ela me disse que era isso mesmo que eu merecia, sofrer por sua causa, já que não tinha coragem de abrir o jogo com você. Que você não tinha culpa se eu era um burro masoquista.

- Ela já gostava de você? Já te amava?

- Por mais incrível que pareça!

- E você não se sentia mal falando isso justamente pra ela?

- Eu não tinha mais ninguém pra desabafar e ela sempre foi minha vizinha, estava sempre do meu lado. A gente sempre esteve junto.

- E o Décio?

- Ah, o Décio andava enrolado com a Luíza. Tinha casado meio na marra. A Luíza saiu da faculdade porque engravidou, lembra? Ela fazia Letras.

- Lembro.

- O Décio passou maus bocados naquele ano também. Passou até fome porque o pai dele não quis sustentar os dois... Ele estava desempregado e tudo.

- E foi aí que você o ajudou...

- Foi… Eles moraram aqui em casa nos cinco primeiros meses de gravidez da Luíza e ele passou a trabalhar na oficina comigo. Depois arrumou outro emprego como escriturário numa escola aqui perto de casa, alugou uma casa e aí as coisas melhoraram. Eu paguei quatro mensalidades dele. Eu tinha bolsa e deu pra fazer isso, com ajuda do dono da oficina que gostava dele... mas suamos os dois. No tempo que morou aqui, ele brigava muito com a Luíza, dizia que ela tinha engravidado de propósito só pra colocá-lo naquela situação, ela chorava de um lado, ele gritava do outro, saía de casa batendo a porta, voltava de madrugada, pedia desculpas pra ela e pra nós e... eu e meu pai assistindo a tudo, sem poder interferir. Meu pai quase que me põe pra fora de casa também, numa das nossas discussões a sós. Como é que eu podia dividir com o Décio meu “affair” platônico? Ele, no mínimo, ia me mandar pro inferno! Então... a Tereza, por estar mais perto, pelo menos emocionalmente, teve que aguentar a barra.

- E, graças a ela, você fez a matrícula...

- Foi. Ela me fez lembrar o Maurício e do esforço dele pra me colocar lá me arrumando a bolsa. Eu também pensei muito nele e fiz, mas não tinha mais nenhuma motivação. Não pensava mais no futuro, não pensava mais em carreira, em nada. Só pensava que eu ia ter que olhar pra você três vezes por semana por durante duas aulas inteiras e ver escrito na sua testa: “Não é pro teu bico, garotão!”.

- Nossa! – ela falou, rindo.

Olhando para Leonardo que dormia gostoso, Rupert beijou de leve seu rostinho e continuo:

- Aí, eu decidi não assistir mais as suas aulas. O resto você já sabe.

- Não, não sei...

- O quê?

- O que te deu coragem e motivação pra me dizer que me amava?

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Welcome to my dreams...

CAPÍTULO 15

Velucy
Enviado por Velucy em 23/11/2017
Código do texto: T6179769
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