RP - ERA UMA VEZ... EM CASA BRANCA - PARTE 35

ERA UMA VEZ... EM CASA BRANCA

PARTE XXXV

Cláudio sai do carro e ela faz o mesmo e se gruda no irmão.

- Está com medo? - ele pergunta, sentindo a força com que ela segura seu braço.

- Não... - ela responde, mas não é isso que sua atitude diz.

Salomão tinha visto o carro se aproximar muito antes, pela janela da casinha. Sai à porta quando os vê se aproximarem. Salomão é bem velho e tem cabelos e barba brancos. Seu semblante é grave e austero.

- Boa tarde, Salomão.

O velho continua olhando para ele e para a menina e apenas meneia com a cabeça. Cláudio já conhece aquela atitude do velho jardineiro. Pretende falar o mínimo para não aborrecê-lo.

- Eu estou procurando meu irmão. Ele está desaparecido desde essa manhã. Só queria saber se você o viu em algum lugar por aqui.

- Wagner nunca vem aqui. Ele tem medo de mim. Você sabe disso.

Os cabelos brancos e despenteados e a longa barba do velho, realmente lhe davam um ar um tanto estranho. Fatores que sempre fizeram Wagner ter medo de chegar perto daquela casa quando os dois brincavam por ali quando crianças. Cláudio gostava de pregar peças nele provocando seu medo, mas admitia que ele mesmo não sentia medo, mas atração pelo velho, coisa que não conseguia explicar.

- Você não o viu passar, nem de carro ou na moto?

- Não passam muitos carros por aqui. Esse terreno é meio perigoso pra carros e motocicletas, por causa da boçoroca.

- É, eu sei... Está certo. Obrigado, Salomão. Até mais.

Quando o rapaz já está entrando no carro, o velho pergunta:

- Como está seu pai?

Cláudio se volta e responde:

- Preocupado com meu irmão, mas, de saúde, bem. Os empregados antigos têm saudades de você. Devia ir até lá qualquer dia. Ficaríamos muito felizes com sua visita.

- Não quero assustar as meninas, diz ele, olhando para Diana que se esconde atrás do irmão como a querer se ocultar, mas sempre olhando para ele, por pura curiosidade infantil.

- Se você nunca for até lá, elas não podem se acostumar com você.

- Wagner nunca se acostumou, mesmo com você trazendo ele sempre aqui pra brincar. Só você nunca teve medo de mim.

- Não, eu sempre... gostei daqui, dessa casa... do seu jardim... de brincar na boçoroca.... Das suas jabuticabeiras, suas flores. E você sempre me tratou muito bem. De uma forma ou de outra todos na casa que te conhecem gostam muito de você. Não se esqueça disso.

O velho abaixa a cabeça e vira as costas, entrando na casa sem dizer mais nada.

- Vamos embora? - Diana pede, baixinho, puxando a camisa do irmão.

- Vamos, ele concorda, ainda olhando para a casa.

Quando o carro está de novo em movimento, Cláudio pergunta sorrindo:

- Ficou com medo dele, bobona?

- Ele é esquisito. Nunca vi ninguém assim antes. É velho, feio e dá a impressão de ter vindo de uma daquelas estórias de terror que passam na televisão de noite.

- Que bobagem, Diana. Não é possível que você tenha medo de uma pessoa só porque ela é diferente e mais velha que você.

- Na televisão, não tenho, mas o Salomão estava na minha frente. Me deu arrepios.

- Mas ele não está morto. Ele só é... velho, como você e eu e todo mundo um dia vai ficar também. Você tem medo do seu avô, por exemplo?

- Claro que não!

- Mas ele também tem cabelos brancos, barba branca e é feio como o Salomão.

- Meu avô não é feio, Cla! - ela diz, batendo de leve no braço dele. – Esse Salomão é diferente demais.

- Não é tão diferente. É quase a mesma coisa. Só que você conhece o seu avô e o ama porque ele é pai da sua mãe, te viu nascer, te traz presentes...

- E o vovô... ah, o vovô é o vovô!

- O Salomão podia ser seu avô, qual o problema?

- Deus me livre! Nunca!

Cláudio desiste, sorri e passa a prestar atenção no volante.

Depois de muito rodar, o carro estaciona à beira da boçoroca. Uma formação natural provocada pela erosão que foi feita por um rio. Ela ocorre em torno de toda a Casa Branca. Tem vários quilômetros de extensão, em algumas partes, vários metros de altura e, no fundo desse cânion natural, correm as águas límpidas de um córrego que não tem mais de poucos centímetros de altura, de maneira que se pode ver a areia quase branca em seu fundo.

Cláudio e Diana descem do carro e ela se agacha ao lado dele, olhando para a água límpida que corre intermitentemente, lá embaixo.

- A gente vai descer até lá?

- Até desceria... se não fosse tão grande e eu estivesse com mais tempo e pelo menos vestido de acordo, mas acho que o Arnaldo já deve ter tido essa ideia. Olha ali. Há uns policiais ali embaixo.

- Ele não está em lugar nenhum, Cla, ela diz desanimada. - Sumiu de vez. Eu ainda acho que ele fugiu por minha causa.

- Tira essa besteira da cabeça, Diana. O delegado vai encontrar o Wagner pra gente. Aí a gente vai poder dar quantos puxões de orelha tiver vontade nele. Não pense mais nisso.

- Eu quero que o papai o deixe uma semana sem ir na cidade, como faz comigo quanto eu faço arte.

Ela se levanta, cruza os braços e emburra, mas seus olhos se enchem de água.

- Eu estou com saudade dele, Cla.

Ele a abraça e Diana começa a chorar e soluçar alto. A garganta dele também aperta, mas não é momento de se deixar levar pela tristeza. Não na frente da irmã. Ele a leva de volta para o carro e voltam para a fazenda.

RETORNO AO PARAÍSO – ERA UMA VEZ... CASA BRANCA

PARTE 35

OBRIGADA E BOA TARDE!

DEUS ABENÇOE A TODOS!

Velucy
Enviado por Velucy em 08/02/2018
Código do texto: T6248564
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.