RP - ERA UMA VEZ... EM LONDRES? - PARTE 3

ERA UMA VEZ... EM LONDRES?

PARTE III

Até esse momento, Wagner não tinha reparado no sotaque do velho e, em seu pensamento, elogia seu ótimo desempenho na língua latina, mas resolve manter esse ponto de vista para si mesmo.

- Você fala inglês, menino? - Mr. Russel pergunta, indo sentar-se numa poltrona de espaldar alto, acolchoada em veludo marinho.

- Mais ou menos, meu pai e meu irmão falam muito bem, porque um é fazendeiro e o outro é médico e precisam disso, mas eu não estou com a mínima vontade de fazer isso na atual situação, se é o que o senhor pretende que eu faça. Eu adoro minha língua.

O velho solta outra gargalhada estridente.

- Grande piada! No fundo, todos vocês jovens brasileiros são loucos por cantores estrangeiros: americanos ou ingleses. Eu sei disso.

- Nada a ver. Música é outro assunto.

- Mesma coisa. Não me enrole, filho. Eu conheço você desde que usava fraldas. E sente-se aí. Não gosto de falar com alguém mais alto do que eu.

Wagner se senta numa outra poltrona.

- Linda, mande ver um lanche para nós três. Você nos acompanha, não?

- Se o senhor faz questão...

- Faço, ele diz, sorrindo.

- Vou providenciar, diz ela saindo da sala.

- Está com fome, garoto?

- Acho que sim. Eu estou dormindo há um dia e pouco... acho...

O velho fica olhando para ele com olhos sorridentes, como se o estudasse.

- Igualzinho a ela... - ele fala, depois de alguns segundos. – Só não tem seus olhos azuis, infelizmente. Você já viu ou tem alguma fotografia de sua mãe?

- Tenho uma, num porta-retratos no meu quarto.

- Seu pai lhe fala dela?

Wagner fica sem saber o que responder. Na verdade, Leonardo nunca lhe falou da mãe. Ainda mais depois de seu casamento com Magda. O nome de sua mãe só era pronunciado muito raramente por ele mesmo quando menino em conversas com o irmão que muitas vezes desconversava. Coisa que ele nunca entendeu direito.

- Bem... muito pouco... - ele finalmente responde.

- Eu fazia ideia. Ele não se deu ao trabalho nem de colocar a memória da mulher na mente do filho.

- Papai se casou de novo quando eu tinha sete anos. Ele não se sentia muito bem em comentar sobre ela na frente da Magda.

- Quem é Magda?

- Minha madrasta.

- Mas você sabe ao menos o nome dela?

- Claro, era Cristina.

- Christy. Christy Marie Russel. Foi assim que meu filho a batizou e registrou.

- Eu a conheci como Cristina... Se é que eu a conheci. Eu tinha meses de idade quando ela morreu.

- Eu sei disso. Por culpa do seu pai.

- Que é que o senhor sabe sobre isso? O senhor não pode falar assim do meu pai.

- Eu sei tudo sobre isso! E eu estou na minha casa. Posso falar mal de quem eu quiser e quando eu quiser, principalmente em se tratando do seu pai!

Wagner se levanta nervoso.

- Mas eu não sou obrigado a ouvir, sou?

- É!

- O senhor não tem autoridade sobre mim. Eu mal o conheço e não pedi pra vir pra cá. Nas leis brasileiras isso é sequestro, rapto e eu quero voltar para São Paulo!

Mr. Russel encosta-se tranquilamente na cadeira, sorrindo irônico e diz:

- Pode voltar.

- É óbvio que eu não vou poder voltar sozinho. Foi o senhor quem me trouxe.

- E não vou mandá-lo de volta até que tenhamos conversado tudo.

- Tudo o quê? Eu não quero conversar nada, nem quero ouvir o senhor falar mal do meu pai ou da minha família, mesmo que seja pra defender minha mãe. Uma mãe que eu nem conheci.

Mr. Russel se levanta sério e pensativo. Aos poucos o sorriso vai aparecendo em seu rosto e ele finaliza:

- Eu gosto de você, garoto. É bem como sua mãe.

Linda entra para anunciar que o lanche está servido.

- Você deve estar com muita fome. Isso tira o humor de qualquer um. Vamos comer alguma coisa.

O velho começa a andar na direção da porta pela qual Linda apareceu, mas Wagner se coloca na frente dele e o faz parar.

- Eu não quero tomar nem comer nada! Eu quero voltar pra casa. Meu pai, meu irmão e minha madrasta devem estar aflitos por minha causa. Eu quero voltar!

RETORNO AO PARAÍSO – ERA UMA VEZ... EM LONDRES?

PARTE 3

OBRIGADA E BOM DIA!

DEUS ABENÇOE A TODOS!

UM CARNAVAL ABENÇOADO E CONSCIÊNCIA!

Velucy
Enviado por Velucy em 11/02/2018
Código do texto: T6250726
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.