RP - ERA UMA VEZ... EM LONDRES? - PARTE 8

ERA UMA VEZ... EM LONDRES?

PARTE VIII

- Não pode ser chamado de castigo, diz Wagner. - Está valendo a pena. Mas você ainda não me disse como você e seus amiguinhos me trouxeram pra cá. Me colocaram num caixão?

- Mais ou menos isso. Do que você se lembra?

- Bom, me lembro do soco e me lembro que dois grandões me empurraram até um carro na estrada e nós entramos nele. Depois o brutamontes que me bateu, colocou um pano molhado na minha cara e eu apaguei. Não vi mais nada.

- Dali mesmo nós fomos pro aeroporto onde estava o jatinho particular de Mr. Russel. Na cidade de Campinas, o aeroporto é Vira...

- Viracopos?

- Isso. Dentro do jato havia lugar suficiente pra caber o carro onde a gente estava, de modo que nem precisamos sair dele pra entrar no avião. Você tinha sido colocado debaixo do banco traseiro do carro porque é óbvio que haveria uma inspeção nele antes que fosse embarcado. Como tudo foi feito com muito cuidado, ninguém notou nada e viemos pra cá sem maiores problemas.

- Debaixo do banco? Não tinha um lugar mais apertado, não?

- Mr. Russel pensou em tudo. O carro tem muito espaço, depois eu te mostro. E quando entramos no avião você saiu de lá, claro.

- E eu dormi o dia inteiro só com aquele coice de mula?

- Coice de mula? – ela pergunta por não entender o termo.

- Só com aquela quantidade de sedativo...

- Ah, sim... Quando você ameaçava acordar era sedado de novo. Mr. Russel achava que se você acordasse dentro de um prazo muito curto de tempo, iria querer avisar sua família e ele não teria coragem de recusar, mas ele queria dar um susto neles primeiro.

- O homem é fogo, hein? Eu vou querer saber e muito breve o motivo dessa rixa com meu pai.

- Ele vai te contar tudo, não se preocupe.

- Por que ele se trancou lá no escritório e não quer mais falar comigo?

- Não é que ele não quer falar com você, ele tem muitos negócios a tratar.

- Nessa idade e rico como é... no lugar dele, eu me aposentaria.

- De certa forma é disso que ele está tratando.

- Quem vai cuidar de tudo isso quando ele parar?

- Isso só ele vai poder dizer. No testamento dele vai estar esclarecida essa dúvida e mais outras que você possa ter.

- Testamento? Que coisa mais fúnebre... Ele realmente está dobrando o cabo, mas não parece estar precisando de testamento ainda.

- Eu também penso assim, mas, na idade dele, a morte não manda recado. E ele tem muito dinheiro. Não pode deixar essa fortuna nas mãos de qualquer um.

Os dois ficam algum tempo sem falar. A neve começa a cair mais forte, o frio fica ainda mais cortante como se quisesse atravessar os agasalhos.

- Uma hora dessas, eu estaria de sunga curtindo o sol de trinta graus à sombra na beira da represa. Vamos voltar pra casa?

- Você vai se acostumar.

- Como você se acostumou? Eu sei que você não é daqui. Muito pelo contrário, você é portuguesa. Seu sotaque português é um charme.

- Mais eu morei algum tempo no Brasil. Sou portuguesa de nascimento. Eu vim pra cá com quinze anos.

- E trocou nosso país tropical por essa geladeira?

- Eu vim trabalhar.

- Com quinze anos?

- Eu não nasci em berço de ouro como você. Meu pai era português e perdeu tudo no Brasil. Conseguiu um emprego num cargueiro e, como só tinha a mim, conseguiu me trazer junto com ele pra cá, primeiro pra Portugal, depois norte da França. De lá pra cá foi um pulo. Meu pai morreu e Mrs. Russel, que era dona de um orfanato em East End, me encontrou e me trouxe pra cá pra ser dama de companhia dela. E eu não saí mais daqui.

- Então faz pouco tempo que ela morreu.

- Quatro anos.

- Você sabe se minha família ficou sabendo?

- Não, não ficou. Eu acho que ninguém lá tinha interesse em saber disso. Você e seu irmão não a conheciam. Seu pai não tinha nenhum tipo de relacionamento amigável com Mr. Russel e vice-versa, por isso não havia motivo para informá-los.

- Eu nunca imaginei que houvesse tanto problema entre as famílias dos meus pais. Meu pai nunca tocou no assunto, nunca. Nenhum comentário. É certo que eu não entendia por que meu irmão tinha um nome estrangeiro entre o nome dele e o sobrenome do meu pai, Russel Valle. Eu não tenho Russel no meu nome. Tenho o nome do meu avô paterno, Wagner Valle, mas também nunca me importei em perguntar pro velho quem tinha sido minha mãe. Se tinha família ou não. Ela morreu quando eu era um bebê. Pra mim era suficiente saber que ela se chamava Cristina, ou Christy, como eu descobri hoje pelo meu bisavô, e era muito bonita, mas na idade em que eu podia começar a fazer perguntas sobre isso, meu pai se casou de novo. Uma surpresa pra mim. A Magda só tinha vinte e dois anos. Um ano depois, nasceu minha irmã mais velha, outra novidade. Aí eu comecei a me encostar na situação. Me apeguei à nova mulher, comecei a chamá-la de mãe e esqueci o resto. Esqueci que um dia uma mulher chamada Cristina havia sido mulher do meu pai e havia me colocado no mundo... Bizarro, não?

Linda não responde.

- Vamos voltar pra dentro da casa? - ele pede. – Está muito frio aqui fora.

- Vamos, ela concorda.

RETORNO AO PARAÍSO – ERA UMA VEZ... EM LONDRES?

PARTE 8

OBRIGADA E BOM DIA!

DEUS ABENÇOE A TODOS!

Velucy
Enviado por Velucy em 13/02/2018
Código do texto: T6252408
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