RP - ERA UMA VEZ... EM LONDRES? - PARTE 24

ERA UMA VEZ... EM LONDRES?

PARTE XXIV

A última frase de Miguel foi dita por ele, batendo no ombro de Cláudio.

- Sabia que ia sobrar pra mim. Obrigado pela parte que me toca.

- Ah, mas você é diferente, meu amiguinho. Você não é um filhinho de papai do tipo comum. Nunca vi um cara que nasceu rico dar duro do jeito que você dá. Se eu não te conhecesse há quase dez anos, eu diria que você é ganancioso. Trabalhar na Santa Casa de Misericórdia de Casa Branca, no Hospital Santa Mônica e ainda no Orfanato do Desterro demonstra que você parece querer ficar mais rico o que você já é. Mas você não é ganancioso. É apenas um excelente médico, um homem de respeito, um ótimo filho, um irmão maravilhoso...

- Miguel, para por aí, Cláudio pede. – Você está doente ou amanheceu com vontade de puxar meu saco hoje?

- Não, só queria te pedir uma grana emprestada. Dava pra adiantar algum até o fim do mês?

Cláudio ri e balança a cabeça.

- Ele riu! Alonso, o doutor Cláudio riu! Faz uns dois meses que eu não vejo esse cara rir.

Cláudio se afasta deles e olhando em volta, assegurando-se que ninguém está prestando atenção, mostra o dedo médio para Miguel que olha para ele boquiaberto. Em seguida, Cláudio se afasta e sobe as escadas correndo, saindo dali.

Alonso ri a valer e se surpreende também com aquele gesto vindo de quem veio, porque Cláudio não faria isso em ocasião nenhuma.

- Eu queria ter fotografado isso! - Miguel exclama. – Isso é pecado, Cláudio Valle!

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Naquele dia, Jairo vai almoçar sozinho. Quebra a rotina de levar a filha com ele até o restaurante da praça da matriz, como sempre fizeram desde que mudaram para a cidade.

Havia recebido o recado de Cláudio de que não precisava mais falar com ele e, depois da operação, atende a seus pacientes com a mesma atenção e prestatividade de sempre.

A uma e meia, ele chega ao restaurante Barão e se senta na mesma mesa de sempre, perto da porta do restaurante, de onde pode ver a igreja matriz. Juliano, um dos garçons, aproxima-se e ele pede sua refeição habitual. Juliano sente a falta de Mônica e pergunta:

- A Mônica não veio com o senhor hoje, doutor?

- Não, ele responde, sem levantar os olhos do cardápio que lê sem necessidade por já ter pedido o que vai querer, apenas por não querer prolongar o assunto.

- Ela não veio trabalhar com o senhor hoje?

- Veio, Juliano, mas não veio almoçar comigo.

- Ah, sim...

O garçom percebe que o médico não está querendo conversar e se cala.

- Me traga também um suco de melão, por favor, Juliano.

- Sim, senhor.

O rapaz se afasta. Jairo coloca o cardápio de lado e se põe a observar os carros e as pessoas que passam na calçada, meio sem ver nada nem ninguém. Olha para a igreja com ar triste e pensativo. Fica tão concentrado em seus pensamentos que nem percebe que Mônica se aproxima dele e pergunta:

- Por que você veio sem mim?

Ele olha para ela como se acordasse de um sonho.

- Ah... Eu pensei que você estivesse... muito ocupada.

- É isso mesmo ou você está me evitando?

Ele não responde imediatamente. Olha em seus olhos com ar severo e diz:

- Eu não conseguiria evitar você, mesmo que quisesse. Nós moramos na mesma casa.

- Mas desde ontem você não falou comigo nenhuma vez, ela diz, sentando-se a sua frente. – Hoje também não. Saiu antes de mim, não quis nem tomar café comigo e eu não te vi nenhuma vez no hospital. Isso não é evitar?

- Eu não tenho assunto pra falar com você, Mônica. E também não sou de ferro. Não tenho sangue de barata.

- E o que eu preciso fazer pra você voltar ao normal comigo? Eu não gosto de te ver zangado e triste assim.

- Eu não sei. Isso quem deveria descobrir era você. Você sabe o que me fez ficar assim, agora descubra a solução para o contrário, embora eu ache que não tenha mais como voltar atrás, não é mesmo?

- É... acho que sim... Eu não posso voltar no tempo.

- Então talvez não tenha solução mesmo. Você não é mais a filha que eu vi nascer e crescer.

- Eu sou a mesma, pai...

- Não, não é, e você sabe que não é. Você mentiu pra mim e continua mentindo.

- Eu não menti. Eu disse a verdade um pouco tarde demais... mas não menti...

- Pra mim é a mesma coisa.

Juliano aproxima-se com uma bandeja e a coloca diante de Jairo.

- Como vai, Mônica? Pensei que não viesse hoje.

- Oi, Juliano, ela cumprimenta com um sorriso.

- Você vai querer almoçar também?

- Não, hoje não, obrigada.

- Não me diga que a comida do hospital superou a nossa?

- Não! Eu só não vou comer nada mesmo.

- Nem um suco natural? Está muito calor... O nosso suco de jabuticaba está especial. Eu recomendo.

- É, pode ser. Traga um pra mim então.

- É pra já, com licença.

O rapaz se afasta e eles ficam novamente sozinhos. Jairo começa a mexer a comida que está no prato com a ponta do garfo, sem nenhuma vontade de comê-la.

- O que o deixou tão zangado é o fato de eu não ter dito o nome do pai do meu filho, não é?

Ele joga o garfo dentro do prato num gesto de impaciência e cruza as mãos sobre a mesa, aborrecido, mas não diz nada.

RETORNO AO PARAÍSO – ERA UMA VEZ... EM LONDRES?

PARTE 24

OBRIGADA E BOM DIA!

DEUS ABENÇOE A NÓS TODOS!

Velucy
Enviado por Velucy em 18/02/2018
Reeditado em 20/11/2018
Código do texto: T6257024
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