RP - ORLEANS - PARTE 14

ORLEANS*

PARTE 14

Linda começa a chorar e se abraça a Wagner. Ele a abraça forte.

- Sabe... lá em Londres, eu ficava me perguntando... o que você via nele... Ele é um cara tão grosso, tão diferente de você... Tão... ogro. Mas também, não ia ter cabimento se eu visse alguma coisa nele, não é? Homem nunca foi meu forte mesmo... Se você gostava... Gosto não se discute.

Linda se afasta dele e ri entre as lágrimas.

- Quem consegue ficar sério ou triste perto de você?

- Meu velho... Quando eu estou errado e ele certo, nem o Jerry Lewis consegue fazê-lo rir. Seo Leonardo é duro na queda. Meu carisma não consegue nem arranhar a armadura dele.

- Então de quem você herdou esse bom humor?

- Sei lá. Eu devo ter caído de uma carroça de circo. Posso ter recebido alguma coisa da minha mãe também. Ela fez muita piada da vida quando saiu de Londres, onde vivia em berço esplendido, pra vir morar no Brasil e passar pelo perrengue que passou aqui com meu pai. Ninguém merece.

Linda continua rindo e passa a mão pelos cabelos dele.

- Adoro o jeito com que você encara a vida.

Wagner beija seu rosto bem próximo a sua boca e diz:

- Vamos voltar? O pessoal deve estar comendo o gesso da perna do Guto por falta de unhas, por nossa causa. Você está melhor?

- Um pouco...

- Só um pouco? Então, eu devo estar perdendo os meus poderes. Vou ter que comer mais jabuticaba.

- Por que jabuticaba?

- É a fruta símbolo de Casa Branca. O Popeye não come espinafre? Eu tomo suco de jabuticaba. Diz pra mim que está muito melhor... please.

- Estou, ela diz, rindo.

- Assim é que eu gosto.

- Você vem sempre aqui? - ela pergunta, olhando para o anjo no alto da fonte.

- Não muito, mas é aqui que o pessoal costuma vir pra namorar aos sábados e domingos à noite. Amanhã é dia.

- Você não vem?

- Com quem?

- E a Janete?

- A Janete não é namoro. É galho.

- E aqueles beijos mui calientes que vocês trocaram na discoteca desde que chegaram?

- Ela grudou em mim e não larga mais. Se eu a trouxer aqui, ela me pede em casamento. Nessa, eu estou fora.

- Pensei que você namorasse com ela.

- Todo mundo pensa, até ela, ele diz, rindo. - Ela está tentando colocar a coleira no meu pescoço, mas no primeiro sinal de aperto, eu escorrego e caio fora.

- Isso não é errado?

- Acho que sim, mas eu nunca pedi pra ela ficar no meu pé. Eu, às vezes, penso que posso magoá-la fazendo isso. Tenho vontade de dar um basta, mas aí ficaria um clima ruim no meio da turma. Todo mundo está acostumado a ter cada um seu par e, se eu disser pra Janete que não quero nada com ela, ela pode querer sair do grupo, então... já que eu não tenho nada pra fazer nem a perder, vou levando... E dar uns beijinhos, de vez em quando, não faz mal a ninguém.

- São só beijos, então?

- Por enquanto... só, mas se ela insistir em algo mais...

Linda demora o olhar no rosto dele.

- E a Selma?

Wagner franze a sobrancelha intrigado.

- Até isso? Como é que você sabe da Selma?

- Mr. Russel não escreveu no testamento que sabe tudo sobre você? Eu soube através dele.

- Mas eu não contei pra ninguém, a não ser pro Cláudio. Ela só veio aqui umas duas vezes. Quem contou pra ele? Deve ter sido alguém muito a par da minha vida.

- Você contou pra um amigo seu de escola sim. Tente lembrar.

- Amigo de escola...?

Ele pensa um pouco e diz:

- O Gilberto, me lembro agora. Eu só contei pra ele, mas já faz quase três anos que ele se mudou daqui.

- E está paralítico morando em São Paulo.

- É. E como vocês fizeram pra saber de tudo isso? Contrataram detetives?

- Isso mesmo.

- Só que, não espalha pra turma que o Gilberto está numa cadeira de rodas. Ninguém sabe. Ele me fez prometer que não diria a ninguém do nosso pessoal que o conhece, que o acidente tinha sido tão grave. Acabaria com a alegria de todo mundo. Eu só fiquei sabendo, porque o Cláudio me contou. Ele acompanhou todo processo. O Gilberto se mudou da cidade, quando teve alta do hospital, justamente por causa disso. Não queria que ninguém soubesse. Nem da cidade. Ele me escreveu meses depois, pedindo pra animar a turma e se possível pra botar na cabeça deles que os acidentes acontecem, quando devem acontecer e que não tinha nada que ficar com medo de andar de moto. Eu ganhei a minha primeira moto no meu décimo oitavo aniversário, do pai da minha madrasta e aí voltou tudo ao normal. Mas se o pessoal soubesse que ele tinha ficado paraplégico, ninguém ia mais querer se meter a andar de moto de novo. Nem tanto por medo, mas por respeito ao que aconteceu com ele. Ele tinha dezenove anos na época e a coisa foi bem feia. Traumatizou todo mundo.

RETORNO AO PARAÍSO – ORLEANS

PARTE 14

OBRIGADA E BOA TARDE!

DEUS ABENÇOE A NÓS TODOS!

Velucy
Enviado por Velucy em 27/03/2018
Código do texto: T6292194
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