RP - EXÍLIO - PARTE 9

EXÍLIO

PARTE 9

- Quantos erros graves o senhor viu o Cláudio cometer nesses... oito, nove anos?

Jairo não responde.

- O senhor não acha que a pena que o senhor está dando a ele é grande demais, considerando-se o tempo que o senhor o conhece e que sabe que o Cláudio não é um homem violento? Mesmo que ele, na pior das hipóteses, tenha batido na sua sobrinha, o senhor nem considera que ela possa ter uma parcela de culpa nisso?

- Você está querendo defendê-lo? Eu pensei que amasse minha filha. Não se importa com o que ele fez a ela?

- O Cláudio não fez nada a ela, doutor. Eles se amam. O erro, se houve erro, foi cometido pelos dois. Eu fico abismado como, de amigo, o Cláudio tenha passado pro status de criminoso com tanta rapidez.

- E ele é! Ele seduziu minha filha!

- Eu não quero ficar batendo na mesma tecla, mas não houve sedução nenhuma. O senhor vê sua filha como uma santa. Meu Deus, como é difícil colocar na cabeça de um pai, que uma moça de dezessete anos, menos até, hoje em dia não é mais inocente, não é mais uma criança. Principalmente Mônica que foi criada dentro de um hospital. É inconcebível que ideias como essas saiam da cabeça de uma mente tão instruída como a sua.

- Havendo ou não sedução, Miguel, você está se esquecendo de que ele é casado! Que desculpa você tem pra isso? É natural também que os homens casados tenham romances com garotas mais jovens? Pra você pode ser normal, você é jovem como ele, mas nenhum pai em sã consciência aceitaria isso.

- A culpa não é só dele.

- Ah, não. Por certo é minha também. Você não tem o que dizer...

- Cláudio e Tânia se casaram novos demais e não se amavam.

- Você parece estar muito bem informado, pra uma pessoa que só clinica na cidade há dois anos.

- Eu conheço o Cláudio há oito. Eu fiz faculdade com ele e sou amigo dele. Amigo o suficiente pra conhecer bem a vida dele. Eu venho seguindo a deterioração do casamento deles há muito tempo. Vocês é que nunca pararam pra ver isso. Nunca perceberam. Eu sou testemunha de que o Cláudio nunca falou em separação por causa do pai, do seu irmão e até do senhor mesmo. O primeiro desabafo dele comigo foi há quatro anos e há quatro anos ele vem aguentando o ciúme doentio da sua sobrinha e o péssimo gênio dela. Ele tem suportado tudo por causa de vocês.

- Não é desculpa...

- Eu sei que não é, mas o senhor nem deu chance a ele de se defender. A condição de pai também não lhe dá o direito de acusá-lo tão drasticamente, a ponto de expulsá-lo da cidade em que ele nasceu, prejudicando a carreira e o prestígio dele como médico de Casa Branca. O Cláudio não é um criminoso, doutor Jairo.

- Quando você tiver uma filha, vai entender, Miguel. Eu lutei muito pra criar a Mônica. Desde os dezenove anos, eu vivo só pra ela. Não era isso que eu previa pro futuro dela. Tudo estava indo muito bem. Ela terminou o colégio com excelentes notas e pretendia fazer a faculdade de Enfermagem e eu estava muito feliz com isso. E agora? O que vai acontecer? Essa criança vai nascer quase no meio do ano que vem. Ela vai perder o ano inteiro de estudos e eu tenho dúvidas se vai querer continuar. Ele virou a cabeça dela.

- O senhor está colocando tudo nas costas dele. Todas as consequências. O senhor nem sabe o que eles podem ter planejado juntos pro futuro deles. O Cláudio sempre teve intenção de fazer pós-graduação em Oncologia Infantil na América e tenho certeza de que deve ter pensado nela também.

- Eu não quero nem saber. Com ela, ele não fica! Eu posso até criar essa criança com ela. Mônica é bem capaz de se reerguer sendo mãe solteira, mas, com ele, ela não fica!

Jairo sai do consultório e Miguel fica olhando para a porta por onde ele saiu e diz para si mesmo:

- Eu tentei... Eu juro que tentei... Amigo, você está numa fria...

RETORNO AO PARAÍSO – EXÍLIO

PARTE 9

OBRIGADA E BOM DIA!

DEUS ABENÇOE A NÓS TODOS!

Velucy
Enviado por Velucy em 17/04/2018
Reeditado em 05/11/2020
Código do texto: T6310861
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