RP - SÃO PAULO - PARTE 16

SÃO PAULO

PARTE XVI

Cláudio continua andando pelo corredor e vai entrar no elevador, mas Wagner segura seu braço.

- Quando for o momento certo, eu falo. Não fica chateado comigo.

- Momento certo? Momento certo de quê?

Wagner não responde.

- Como é o nome dela? - Cláudio pergunta.

- De quem?

- Da filha do Salomão, Wagner! Não se faz de besta que eu detesto isso.

- Pra que você quer saber?

- Nem isso dá pra dizer? É segredo também?

- Lucila...

Cláudio pensa um pouco e faz outra pergunta:

- Você sabe o nome da minha mãe, não sabe?

Wagner fica atônito olhando para ele e não responde.

- Sabe, Wagner?

- Que inferno! Chega desse interrogatório ridículo, caramba! Eu não sei de nada!

- É ela que você vai procurar, não é?

Wagner dá as costas e vai encostar-se à parede oposta, mas como Cláudio continua esperando sua resposta e ele desiste.

- Está certo, é ela sim. Satisfeito? Eu não queria dizer pra não te aborrecer, mas não adianta... eu não sei guardar segredo de você nem do papai.

Cláudio encosta-se à parede também, sem ação.

- Essa história da filha do Salomão é verdade... ou foi só uma desculpa?

- Não... Elas são a mesma pessoa. A filha do Salomão... é sua mãe. Ele disse que não contou pra ninguém... principalmente pra você, pra não atrapalhar sua vida... A Mônica encontrou uma fotografia dela na casa dele, debaixo de um travesseiro, dentro de um livro que você deu pra ele. “O velho é o mar”. Lembra?

Cláudio apenas balança a cabeça afirmando.

- Na hora ele negou ter alguma ligação com ela, mas depois abriu o jogo. Ele deu a foto pra vocês dois.

- Pra nós dois? Pra mim e pra ela? Por quê?

- Não sei. Ele entregou pra Mônica e disse que era pra ficar com vocês dois.

- E cadê a foto?

- Está no carro lá embaixo. Eu vou levar e usar como referência pra ter certeza de que é ela mesmo, se eu encontrar...

Cláudio fica em silêncio e, pensativo, olha para o chão.

- Ele contou pra nós também que o papai se casou com a minha mãe por interesse mesmo. As dívidas do nosso avô Wagner eram grandes demais e durante a viagem que fez à Inglaterra, ele conheceu a única herdeira dos Russel e, pra salvar o pai, tentou dar o golpe no meu bisavô, com a ajuda da minha mãe... e conseguiu. Saiu tudo como ele esperava. Papai tirou nosso avô da falência literalmente, mas acabou perdendo a fazenda, apesar de ter ganho tudo de volta quando minha mãe morreu... Tudo isso... por minha causa. Acho que esse deve ter sido o último golpe do papai. Ele engravidou minha mãe, porque imaginava que o vovô Russel não iria deixar o bisneto desamparado.

- E ela? E a minha mãe?

- Segundo o Salomão... não foi só uma aventura do meu pai... Ele gostou mesmo dela, mas não puderam ficar juntos por que o vovô o mandou para Londres... Quando descobriram que a Lucila estava grávida dele, meu avô Wagner só esperou você nascer e... te levou pra fazenda, pro meu pai te criar com minha mãe. Já que meu pai não podia se casar com ela, porque já estava casado com a mamãe, pelo menos teria que assumir o filho. Mas nosso pai não foi totalmente cafajeste, Cláudio. Tudo que ele fez, foi pra salvar o vovô de um mal maior que seria perder a fazenda...

- Ele perdeu a fazenda mesmo assim...

- Mas perdeu pra mamãe e pra mim! E eu vou devolver tudo pra ele. Alqueire por alqueire de terra. Cada vaca e cada cavalo. Quatro Estrelas é dele ainda.

- E você acha que vai poder devolver a essa mulher tudo que ela perdeu? Você acha que a vida dela até hoje foi menos triste do que a do papai, que perdeu alguns alqueires de terra?

- Eu não disse isso, Cláudio...

- Grande pai nós temos... Cláudio diz com desprezo, ainda olhando para o chão.

Wagner se assusta.

- Cláudio...!

- Eu não sabia que tinha sido o vovô que tinha me levado pra casa grande. Papai falou que foi ele que pediu pro pai. Ele mentiu pra mim.

- Mas que diferença faz? Ele te criou, não criou?

- E quem me diz que ele faria isso, se o pai não tivesse tomado a iniciativa antes?

- Você não vai começar a duvidar disso agora, vai? Isso não tem cabimento.

- Eu nunca duvidei. Eu confiei nele todos esses anos, porque pensei que ele tivesse dito toda a verdade. Mas não disse... A verdade toda saiu da sua boca agora. Primeiro... minha mãe não está morta, depois... não partiu dele assumir o erro. Ele fez tudo obrigado pelo pai...

- Eu não disse que ele foi obrigado.

- E também não pode dizer com certeza que não foi. Ninguém pode. Só quem pode é ele... Quem podia confirmar tudo está morto. Inclusive sua mãe. A morte dela deve ter sido... por culpa dele também.

- Você está se ouvindo, meu irmão? Não tem razão de ser o que você está dizendo. Você está falando como o vovô Russel. Ele também disse isso, mas eu não posso ouvir isso da sua boca, Cláudio.

- Ele... Mr. Russel falou do que a sua mãe... morreu?

- Não... No que isso importa agora?

- Não disse... porque eu acho... que nem ele sabia... Não estava lá... Ninguém estava lá... mas eu estava...

Os olhos de Cláudio de enchem de lágrimas, que ele não deixa que caiam e enxuga o rosto.

RETORNO AO PARAÍSO – SÃO PAULO

PARTE 16

OBRIGADA E TENHA UM ÓTIMO DIA!

DEUS ABENÇOE A NÓS TODOS!

Velucy
Enviado por Velucy em 05/05/2018
Reeditado em 05/05/2018
Código do texto: T6327633
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