RP - SÃO PAULO - PARTE 18

SÃO PAULO

PARTE XVIII

- Minha mãe batia em você? - Wagner pergunta.

Cláudio não responde. Wagner levanta a cabeça e pergunta de novo:

- Batia, Cláudio?

- Não... Acho que por medo do meu pai. E eu... sabendo que ela não gostava de mim, procurava ficar sempre longe dela. Naquele dia, ela correu atrás de mim e talvez quisesse fazer isso. Desceu as escadas também, mas quando chegou nos últimos cinco degraus, pela fraqueza, ela tropeçou e caiu, rolou pela escada, batendo a cabeça no chão... com força.

Wagner começa a soluçar compulsivamente. Cláudio para de falar e espera que ele se acalme. A narrativa também o deixou muito abalado e ele procura se refazer. Minutos depois, Wagner ergue a cabeça e enxuga o rosto, olhando para o altar.

- Não foi meu pai que matou ela, foi? Diz que não foi. Você mesmo disse que ele tentou se aproximar dela. Não foi ele o culpado disso tudo, foi?

- Se não foi ele, fui eu...

- Não! Você era uma criança, Cláudio. Foi o vovô e ela mesma. Meu pai não teve culpa de nada! Não teve! Ela aceitou fazer o jogo que ele propôs, a revelia do que o avô pediu. Ele só quis ajudar o pai e ela aceitou o jogo. Sabia o que estava fazendo. Ela também teve culpa.

- Parece que as posições se inverteram, diz Cláudio com leve sorriso. – Antes quem o defendia era eu.

- Tem que continuar defendendo. Ele é o único pai que a gente tem, pombas!

- Wagner! Olha onde você está.

O rapaz olha para o altar e se benze.

- Perdão, meu Deus, saiu sem querer. Mas a gente não pode ficar contra o papai, Cláudio. Isso não vai ser legal. A gente tem que pensar na Magda também.

- Então não mexa mais nisso. Deixa essa mulher viver a vida dela. Se ela não procurou por ele nem por mim é porque não quer mais saber de nós.

- Ela pode estar com vergonha do que fez. Você mais do que eu sabe bem que naquela época era motivo de muita vergonha uma mulher ter um filho, ainda solteira. Ela deve saber de alguma forma que o papai está casado de novo e não deve ter entrado em contato com você porque... também deve estar com vergonha e com receio de ser... repelida, sei lá. Ponha-se no lugar dela.

- Quantas vezes eu já fiz isso e só encontrei mais motivos pra não querer vê-la nunca mais. Eu acho que ela foi vítima sim, mas uma vítima muito passiva. Às vezes, eu penso que ela quis realmente se livrar de mim.

- Não...

- Pois bem, se não quis por que não voltou e lutou pra ficar comigo quando criança? Por que saiu de Casa Branca tão rapidamente que ninguém sequer ouviu falar dela.

- Não fala assim...

- Wagner, eu estou falando de alguém que eu nem conheço. Eu nunca vi o rosto dessa mulher. Nem o nome dela eu sabia. E não fui eu que criei essa situação.

- Você está falando da sua mãe! Querendo ou não, você está aqui conversando comigo porque ela te colocou nesse mundo.

Cláudio se cala.

- Você é médico e é muito mais ligado em gente do que eu. Imagine o sofrimento dela. Ela era tão criança quanto a Mônica quando teve você.

- É... Eu sou médico e justamente por saber a importância que tem um filho pra uma mulher... é que eu não consigo entender a passividade dela.

- Ela deve ter tido seus motivos. A gente não estava lá pra saber. É isso que eu quero descobrir quando encontrá-la.

- Está certo. Então descubra, mas não fale mais comigo sobre esse assunto, se não quer me ver contra o papai e contra ela. Os dois erraram e ponto final.

Cláudio levanta-se, benze-se de novo e sai da igreja. Wagner vai atrás dele.

- Você está sendo muito radical com tudo isso. Nem parece você falando. Não termina nosso papo por aqui, Cláudio. Espera pra ver o que vai acontecer. Você pode se surpreender com o resultado.

- Eu vivi vinte e sete anos sem saber dela. Sofri o pão que o diabo amassou nas mãos da mãe que ficou no lugar dela. Não me peça pra esperar surpresas. Já tive muitas nos últimos dias. Algumas muito ruins e outras que me fizeram sentir que a vida vale a pena.

Cláudio para no pé da escada e se volta para o irmão.

- Eu vi a mulher que eu amo voltar pra mim sem que eu tivesse mais esperança de que isso fosse acontecer. Eu vi minha filha se mover dentro dela num ultrassom e a senti na palma da minha mão tocando a barriga da Mônica. No momento, eu não preciso de nada que não vá me surpreender, se não for de maneira positiva. Deixa a minha vida em paz. Ela já está bem bagunçada. E você tem razão de novo. Eu não sou o mesmo homem que saiu de Casa Branca. Aquele homem... morreu.

Wagner se cala.

RETORNO AO PARAÍSO – SÃO PAULO

PARTE 18

OBRIGADA E TENHA UM ÓTIMO DIA!

DEUS ABENÇOE A NÓS TODOS!

Velucy
Enviado por Velucy em 06/05/2018
Código do texto: T6328402
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