RP - LUCILA - PARTE 7

LUCILA

PARTE VII

CASA BRANCA - SÁBADO – 24/12/77

Em Quatro Estrelas a véspera de Natal não é tão feliz.

Leonardo se trancou na biblioteca, pensativo e calado. Fica, às vezes, parado olhando para o grande retrato de Cláudio pendurado na parede. Wagner voltou de São Paulo contando as novidades. Assegurou que o irmão estava bem e feliz, mas mesmo assim ele está longe, numa cidade diferente e aquele será o primeiro Natal que o velho fazendeiro passa sem o filho mais velho perto dele.

Leonardo sente cada vez mais que está perdendo a confiança e a amizade que os une desde sempre. Cláudio, cedo ou tarde, vai acabar descobrindo que nem tudo que ele disse é verdade. Que ele basicamente quis comprar a amizade e o amor do filho com algumas poucas mentiras.

O velho Russel soube esperar e conseguiu se vingar usando seus próprios filhos contra ele. Wagner foi instrumento dessa vingança para o início do fim. Um erro, qualquer que ele seja, um dia tem quer ser pago. Só que o preço que ele está tendo que pagar é um pouco alto e amargo demais.

Wagner aparece na porta entreaberta e vê à distância que o pai começa a chorar em silêncio. Leonardo não percebe sua presença nem ele quer isso. Não saberia o que dizer. Nunca teve jeito para consolar ninguém. Ele não teria argumentos para consolar o pai.

Sai devagar da porta e vai para a sala. Senta-se numa poltrona com a imagem de Leonardo chorando na cabeça. Magda, que sabe do desolamento do marido, vem até a sala e pergunta a Wagner:

- Você falou com ele?

Wagner nega. Ela se senta diante dele.

- Você poderia me explicar... por que meu marido está assim? Eu não entendo, filho. Não pode ser só pelo fato de Cláudio estar longe. Ele nem fala mais comigo. Eu acho que o que aconteceu não é tão grave assim. Você já disse que Cláudio está bem e feliz agora, mais do que estava enquanto foi casado com Tânia. Agora a felicidade dele é verdadeira. Um dia tudo vai voltar ao normal e ele vai voltar pra casa. Não vejo motivo pra tanto desespero. Leonardo está trancado dentro dele mesmo, como se o filho tivesse morrido!

- Eu também gostaria de pensar que isso vai acontecer logo, mãe, mas...

- Mas o quê?

- Se o doutor Jairo quiser ir em frente com o processo de assedio de menores contra o meu irmão, ele não vai poder voltar tão cedo pra cá. Ele vai ser preso assim que pisar em Casa Branca.

Magda começa a chorar. Wagner vai sentar-se ao lado dela e a abraça.

- Não começa você também, mãe. Essa casa já está se tornando um cemitério. Hoje é véspera de Natal. Eu não aguento mais ver gente chorando.

- Então tire seu pai daquela biblioteca. Ou então me dê uma razão mais forte pra ele estar assim. Ele não pode perder as esperanças totalmente.

- Infelizmente eu não sei como fazer isso, mas eu vou precisar de você pra poder ajudar o Cláudio.

- Precisa de mim pra ajudar o Cláudio? Como? O que eu posso fazer?

- Eu preciso entrar na casa da Luís Gama.

- Pra quê, Wagner?

- Eu preciso pegar o talão de cheques e o resto das roupas dele que ficaram lá. Só você pode me ajudar a fazer isso.

- Como? Você quer que... eu peça a Bárbara?

- Basicamente. Hoje, se possível. Eu quero voltar pra São Paulo no dia vinte e seis e levar pro Cláudio.

- Wagner, falar com Bárbara é até simples, mas hoje Jorge deve estar em casa. Como é que eu vou pedir uma coisa dessas a ele?

- Eu vou com você. Eu não quero roubar a casa. Só quero o que já é do Cláudio: as roupas dele e o talão de cheques. Que tem de mal nisso?

Magda pensa por um momento e concorda. Levanta-se e diz:

- É, pode ser... Eu vou com você. Espera um pouco. Eu já volto.

Magda vai pedir a Matilde e a Diana que cuidem de Elis e sai com ele.

No caminho para a cidade, Magda pergunta:

- Wagner, diga a verdade. Seu irmão está bem mesmo?

- Ninguém nessa família está bem de verdade depois de tudo que aconteceu, mãe. Com ele longe daqui... não dá pra dizer isso. Mas ele está com a mulher que ama, já é o bastante. O Cláudio não é de reclamar, mas eu sei que por dentro ele está morrendo de saudade de todo mundo aqui. Principalmente do hospital e do que ele sempre fez lá.

- Ele está morando onde? Num hotel? Mônica não pode...

- Esse problema já está quase resolvido. Eu... comprei o carro dele e ele vai dar entrada num apartamento pequeno pra eles dois. É um bom dinheiro. O Mercedes vale uma grana, ainda mais que o meu, que eu deixei lá com ele. Dá pro começo.

- Fico feliz que você esteja usando o dinheiro que herdou do seu bisavô pra fazer alguma coisa bem nobre. Estou orgulhosa, filho.

Magda beija seu rosto.

- Eu herdei do meu pai. Quem fez a grana que a gente tem foi ele... mas eu vou devolver tudo pra ele muito em breve.

RETORNO AO PARAÍSO – LUCILA

PARTE 7

OBRIGADA E TENHA UM ÓTIMO DIA!

DEUS ABENÇOE A NÓS TODOS!

Velucy
Enviado por Velucy em 12/05/2018
Código do texto: T6334151
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.