RP - UM NATAL ATÍPICO - PARTE 2

UM NATAL ATÍPICO

PARTE II

Durante a ceia, Lucila fica ainda mais calada e só saiu do quarto, porque Karen insistiu muito. Como já está acostumada com o jeito da empregada, ela não se abala.

Karen é a única que está alheia a tudo que acontece à mesa e conversa durante todo tempo demonstrando estar muito feliz. Quando a ceia termina, ela diz:

- Mônica, a gente recolhe os pratos e todo o resto e só coloca na pia. Amanhã lavamos tudo. Juntas, nós três faremos isso rapidinho. Vamos descansar.

- Amanhã, você não vai fazer nada, vai descansar, diz Cláudio. - Já se excedeu demais hoje. Eu não sei muito lavar louça, mas sei enxugar e guardar. Deixa que eu ajudo as duas. Quero você na cama ou no máximo no sofá o dia inteiro amanhã.

- Claro. Agora eu obedeço à sua ordem com prazer, ela diz, pegando as mãos dos dois. - Mas antes tenho que dizer uma coisa: este foi o melhor Natal que eu já tive em muitos anos. Obrigada aos dois.

- Pra nós também foi muito especial, diz Mônica, beijando a mão dela.

- O quarto de vocês é na frente do meu. Não é muito grande, mas tem uma cama de casal bem confortável e novinha. Nunca foi usada. Eu comprei depois que meu filho morreu e transformei o quarto dele num quarto de hóspedes pensando...

Ela não continua, mas Cláudio completa seu pensamento.

- Pensando em convidar a mim e minha mulher. Nós estamos aqui.

Karen sorri.

- É, estão... e eu estou muito feliz.

- Pode ir dormir. Deixa que a gente arruma tudo aqui.

- Eu vou... Boa noite ou... bom dia.

- Mônica, vai com ela, ele pede. – Eu quero ter certeza de que essa criança vai dormir mesmo.

- Ah, eu vou mesmo, atesta Karen. - Hoje eu não aguento mais nada.

Karen beija seu rosto.

- Boa noite, meu filho. Boa noite, Lucila.

- Boa noite, senhora.

Lucila já tinha começado a recolher os pratos e travessas da mesa e organizava tudo sobre a pia de modo que no dia seguinte tudo ficasse mais fácil de lavar.

- Eu fecho a casa, Karen, ele diz. - Durma bem.

- Você também, meu amor.

Ela e Mônica saem juntas da cozinha e Cláudio vai se certificar de que as portas do carro e da casa estejam devidamente trancadas. Quando Lucila vem da cozinha, depois de deixar tudo em ordem, ao entrar na sala, ela o vê sozinho sentado no sofá, olhando para a árvore de Natal. Fica desconcertada.

- A senhora Johnson já se recolheu. Precisa de ajuda para fechar as portas?

- Não, senhora. Eu já fechei tudo.

- Não vai descansar? Seu quarto é o...

- A Karen já me disse.

Cláudio ainda fica na mesma posição olhando para ela. Imaginando que ele pretende continuar a conversa que ela interrompeu, Lucila pede:

- Não faça isso comigo, por favor.

- Não faço, se a senhora parar de fugir de mim.

- Eu não posso...

- Por que, não?

- Eu prometi ao seu pai e ao seu avô que nunca mais colocaria os olhos em você. Não posso mais fazer isso fisicamente, quero tentar cumprir pelo menos emocionalmente minha promessa. Não posso ter nenhuma ligação com você.

- Eu já quebrei essa promessa absurda. Meu avô está morto. E você não deve mais nada ao meu pai.

- Ao seu pai eu devo ainda. Ele está vivo, não está?

- Está... graças a Deus.

- Então eu ainda devo.

- Seja lá o que for que você tenha prometido a ele... eu era um bebê na época. Agora não tem mais razão de ser. Eu descobri você. O destino quis que fosse assim. Não dá pra manter essa situação absurda por mais tempo. Você mora aqui nessa casa e, até que Karen volte pra América, a gente vai morar junto porque essa casa é minha agora.

- Mas ela não sabe de nada sobre isso e vai me odiar quando souber. Eu vou precisar ir embora daqui o mais rápido possível, se você contar.

- Karen não te odiaria por ser minha mãe. Muito pelo contrário.

- Por minha causa, a mulher do seu pai... melhor amiga dela... morreu.

- Quando a mulher do meu pai morreu, você não estava mais lá. Os culpados pela morte dela foram meu avô e ele. Você não pode tomar pra si essa culpa.

- Eu sei... Wagner Valle tirou você dos meus braços e levou pra ela criar, mas mesmo assim... Eu e seu pai traímos a mulher dele. Entre mim e ela... claro que a senhora Johnson vai ficar do lado dela. E ela tem razão. Se você insistir em tocar nesse assunto com ela, eu vou-me embora daqui e você nunca mais me vê.

- Quer dizer que... a minha presença aqui não quer dizer nada pra você? Que eu posso acreditar que você me entregou pro meu avô, porque estava... pouco se importando se era minha mãe ou não? Você quis realmente se livrar de mim?

- Não! Claro que não! Quem te contou isso estava redondamente enganado. Nada disso é verdade. Eu tinha dezesseis anos quando você nasceu e só te entreguei pra ele... porque não podia nem me casar com seu pai e nem criá-lo sozinha. Se tivesse ficado com você... ambos teríamos morrido de fome.

- Pois eu teria preferido morrer de fome ao seu lado, no tempo em que eu era um bebê, do que passar o que eu passei nas mãos de Christy Russel. Eu odiei você cada vez que me lembrava disso depois que fiquei sabendo que não era filho dela. Você entende a dimensão disso?

Lucila anda lentamente até a poltrona e se senta chorando.

RETORNO AO PARAÍSO – UM NATAL ATÍPICO

PARTE 2

OBRIGADA PELA COMPANHIA!

BONS PENSAMENTOS NOS ACOMPANHEM!

DEUS NOS ABENÇOE A TODOS NÓS!

Velucy
Enviado por Velucy em 16/05/2018
Código do texto: T6337666
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