RP - UM NATAL ATÍPICO-PARTE 10

UM NATAL ATÍPICO

PARTE X

No estacionamento da Santa Casa, dois policiais estão encostados na viatura de polícia e apenas olham para Cláudio que conhece os dois e cumprimenta:

- Boa tarde.

- Boa tarde, doutor, eles respondem.

Wagner já está dentro do carro de Cláudio, esperando por eles. Linda está na moto e acena para Leonardo sorrindo. Leonardo sorri discretamente para ela e ao ver o rosto fechado de Wagner pergunta a Cláudio:

- O que é que ele tem?

- Nada. Ele está sendo ele mesmo. O Wagner que a gente conhece e ama.

- Ele vai no seu carro? E nós?

- Nós vamos no dele.

- Ah, me lembro que ele falou que comprou o seu...

- É isso mesmo. Vamos sair logo daqui, pai.

Cláudio ajuda o pai a entrar no Peugeot e sentar no banco da frente. Magda, sentada no banco traseiro, segura a mão do marido com Mônica a seu lado. Cláudio entra no carro e eles seguem a Luís Piza na direção da praça da matriz. O Mercedes e a moto vão logo atrás.

Em vinte minutos estão na fazenda.

Chegando lá, Cláudio e Magda acompanham Leonardo até seu quarto e, depois de colocá-lo na cama, Cláudio faz um exame geral no pai, medindo sua pressão e auscultando seu coração para se certificar de que está tudo bem. Durante esse exame nenhum dos dois fala coisa alguma. A seriedade de Cláudio faz Leonardo sentir receio de dizer o que quer que seja. Ao terminar, Cláudio retira o estetoscópio dos ouvidos e diz:

- Você está ótimo. Só precisa tomar cuidado de agora em diante. Como o Rubens disse: nenhuma emoção forte, alimentação regrada, nada de andar a cavalo e... nada de sexo.

Essa frase final foi dita em tom de brincadeira. Magda, sentada ali na cama ao lado do marido, sorri, corando levemente. Leonardo olha para ele rapidamente e pergunta:

- O quê?

- Estou brincando, mas... eu não recomendaria.

Cláudio olha para Magda e sorri. Leonardo não. Com tristeza na voz ele diz:

- Você não é mais o mesmo, Cláudio.

O médico não responde. Pega a valise e se levanta.

- Aonde você vai, filho?

Sem responder, Cláudio vai até a cômoda e pega um estojo com uma seringa e uma ampola. Prepara uma injeção e volta para perto da cama, aplicando-a no braço do pai. Leonardo sente a picada e faz uma careta leve.

- Que é isso?

Cláudio limpa o local da picada com um pedaço de algodão e responde:

- Você precisa disso de duas em duas horas. A Magda já sabe.

- Sei... ela diz. - Pode deixar que dessa parte eu me encarrego. Vou lá embaixo pedir pra Matilde preparar alguma coisa pra você comer, Leonardo.

- Não estou com fome, ele diz, esfregando o braço levemente dolorido.

- Você não está em posição de dizer não pra nada, diz Cláudio. – Você vai obedecer ao que ela te pedir pra fazer. No momento, aqui, a Magda é a pessoa que mais te ama e você vai obedecer. Pode preparar, Magda, ele vai comer. Ah, e pede pra Matilde fazer um chá de... qualquer coisa calmante pra Mônica. Ela passou mal no hospital.

- Claro, peço sim.

Magda sai do quarto. Leonardo pergunta:

- Está com raiva de mim? Você está diferente.

Cláudio olha para o pai por um momento e finalmente diz:

- Talvez na sua mente cheia de culpas, eu não seja mesmo o mesmo Cláudio. Você está vendo o Cláudio de verdade, não o que você desenhava na sua cabeça. Se você não teve medo de enfrentar o Cláudio menino, por que está estranhando o Cláudio homem? Uma criança é mais fácil de enganar? Uma criança não pede detalhes, não é? Pode-se esconder certas coisas e modificar outras como você fez comigo. É disso que você está com medo?

Agora é a vez de Leonardo calar-se. Cláudio vai colocar a valise sobre a cômoda, respira fundo e volta a sentar-se ao lado do pai.

- Pai... eu disse pra você no hospital e vou repetir agora. Eu amo você do jeito que você é, com todos os defeitos que você tem ou teve. Não são esses detalhes que vão me fazer melhor ou pior do que você me fez, do que eu já sou. A única mágoa que eu tenho agora... que é totalmente perdoável, é que você não devia ter me escondido nada. Seria mais fácil pra mim, naquela época, ouvir certas coisas da sua boca... do que ouvir agora... da boca da minha mãe.

- O que... O que ela te disse?

- Isso não vem ao caso agora. Ouvi coisas que você já sabe.

- Talvez ela tenha mentido...

- Como você mentiu?

Leonardo não responde.

- Eu não vi mentira nos olhos dela. Me pareceu mais uma mulher sofrida e cheia de culpas, como você, mas ela abriu o coração dela pra mim, totalmente...

- Ela mudou muito depois que saiu daqui...

- Como você sabe? Mudou como? O modo de vida dela lá me pareceu muito simples. Ele é empregada doméstica numa casa de família. O que tem de diferente do que ela era aqui?

- Ela não disse a você o que fazia antes?

- Antes do quê? Antes de ir pra lá?

- Antes do irmão morrer.

Cláudio percebe que Leonardo está cada vez mais nervoso e sente no ar que há mais alguma coisa a se saber ainda.

RETORNO AO PARAÍSO – UM NATAL ATÍPICO

PARTE 10

OBRIGADA PELA COMPANHIA!

BONS PENSAMENTOS NOS ACOMPANHEM!

DEUS NOS ABENÇOE A TODOS NÓS!

Velucy
Enviado por Velucy em 18/05/2018
Reeditado em 18/05/2018
Código do texto: T6340005
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