RETORNO AO PARAÍSO - POR QUE...

RETORNO AO PARAÍSO

POR QUE...

PARTE I

Cláudio acorda na madrugada, sobressaltado, sentindo um aperto enorme no peito e uma vontade enorme de chorar. Não entende por que. Não se lembra de ter sonhado com nada. Olha para Mônica a seu lado, dormindo tranquila, voltada para o outro lado e com a mão levemente pousada sobre a barriga. Fica olhando um momento para ela, depois deita-se de costas na cama e fica olhando para o teto. Sente que o sono secou, não vai conseguir mais dormir. Resolve sair da cama.

Sai do quarto e vai até a sala. Observa que há um colchonete no chão, mas não vê Wagner nele. Onde será que o irmão está dormindo? Não é possível que ele tenha saído. Vai até a porta da sala e abre, indo para a varanda.

A noite está quente e silenciosa. Como a rua é estreita e tem casas apenas de um lado, tendo um canteiro do outro lado da rua, quase não há barulho de carros. Os que raramente passam por ali são os dos moradores da própria rua, mas como são quase três horas da manhã, ninguém passa por ali naquele momento.

Cláudio se aproxima da moto de Wagner e do carro estacionados na pequena garagem e encosta-se nele, olhando para a rua.

- Perdeu o sono?

É Wagner quem pergunta, sentado no sofá, na varanda escura. Cláudio volta-se e tenta enxergar o rapaz. Os olhos vão aos poucos se acostumando com a escuridão e ele o vê abraçado às pernas dobradas junto ao peito, com o cobertor em volta de si.

- Wagner...

- Eu... Quem mais seria?

- O que você está fazendo aqui?

- Estava lá dentro, mas não consegui dormir no sofá nem no colchonete que sua mãe colocou pra mim. Está muito calor. Em Casa Branca pelo menos as noites são quentes, mas tem um ventinho que disfarça. Aqui o calor é parado. Estava ficando sem fôlego e soando em bicas. Vim pra cá, mas não consegui dormir.

- Por causa dos pernilongos? – Cláudio pergunta sorrindo.

- Não... Estava pensando... em você.

Cláudio se aproxima dele e senta-se no sofá no espaço que ele deixou.

- Pensando em mim? Pensando no quê?

- Eu ainda não consigo entender... O que está acontecendo com a gente... Com você... Ainda não acredito que você... tem câncer... Essa é a coisa mais injusta que eu já... presenciei. Deus não pode ser tão injusto...

- Não diz bobagem. Ele não é...

- Então alguém deve ter se enganado de alguma forma. Seus amigos devem ter errado nos exames que fizeram em você. Você não pode ter essa doença maldita... Não você...

- Por que não?

- Porque não pode! Pelo pouco que eu sei dessa doença... ela é um reflexo de todos os sentimentos... ruins que uma pessoa tem dentro de si e que não consegue purgar durante a vida e... se condensa em um tumor em alguma parte do corpo.

- É basicamente isso, Cláudio diz com um leve sorriso. – Você até que está bem informado. No quarto ano de faculdade, eu fiz um estágio de dois meses... estudando crianças com câncer e... fazia parte do curso palestras que tínhamos com especialistas, cientistas e padres de várias religiões que vinham falar sobre o assunto.

- Padres?

- É... Pra quem acredita... no espírito humano... todas as doenças se somatizam mais no espírito da pessoa do que no corpo.

- Foi mais ou menos isso que eu aprendi no colégio. Uma professora do segundo ano um dia, depois de separar uma briga entre dois estressadinhos da sala, começou a falar sobre isso e do que ocorre no corpo das pessoas quando elas costumam guardar rancor de outras, às vezes, por besteira. Na hora eu achei que era bobagem. Ela já estava pra se aposentar e cheguei a pensar que ela estava ficando gagá. Nem liguei muito, mas depois fiquei com aquilo na cabeça e toquei no assunto com a Magda. Queria ter falado com você, mas você nunca tinha tempo. Estava sempre em Campinas, fazendo seus estágios de final de curso. Nem a Tânia te via mais. Mas a Magda mais ou menos que confirmou o que a professora disse. Aquilo não me saiu mais da cabeça.

- Você não acredita ainda?

- Até faz sentido, nos outros... mas não com você... Nunca vi sair nenhum sentimento ruim de dentro de você, Cláudio.

- Você acha mesmo?

- Acho não, eu tenho certeza! Nunca vi você se estressar com ninguém sem um motivo muito justo e certo. Nunca te vi sentir vontade de... se vingar de alguém por alguma coisa que tivessem feito pra você. Você nunca odiou ninguém, Cláudio.

- Odiei sim... ele diz com tristeza na voz.

- Não diz besteira, cara, quem?

Cláudio apoia os cotovelos nos joelhos e une as mãos.

- Você não me conheceu direito, Wagner...

- Como não te conheci? Eu morei na mesma casa com você até seus dezoito anos... e na mesma cidade por toda nossa vida!

- Você conviveu comigo na mesma casa... mas... graças a Deus por isso... não sabia quem eu era.

- Como assim?

- Você era muito criança pra entender o que eu vivi...

Wagner pensa por um momento e lembra-se da mãe...

RETORNO AO PARAÍSO – POR QUE

PARTE I

OBRIGADA POR SONHAR COMIGO!

BOM DIA!

DEUS NOS ABENÇOE A TODOS NÓS!

Velucy
Enviado por Velucy em 15/06/2018
Reeditado em 21/06/2018
Código do texto: T6364765
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