Trama diabólica (Parte 5)

No capítulo anterior, Sofia se dirige até a cozinha e combina com Maria, a responsável por sua casa, expensas da família. Ela promete ajudar a patroa, alegando que dará uma boa desculpa a dom Rafael, caso ele pergunte pela ausência dela. Sofia anteriormente havia recebido um telefonema de Carlos Mendoza, uma pessoa desconhecida. Apesar disso, prometeu que iria se encontrar com ele. O encontro de ambos é formalizado num restaurante. Nesse encontro...

Capítulo cinco

"Trama diabólica"

(*) novelinha de Carla Rejane Silva

- Sofia, não quero que se assuste com o que vou lhe contar. Como disse, sou da família Mendoza. Temos duas fazendas no interior de Penedo. Produzimos pimenta para exportação, e gado de corte. Meu pai já é falecido e minha mãe também. Da família só restou eu e minha irmã Constância. Minha irmã, por ter a saúde frágil, contraiu meningite e ficou dependente necessitando usar cadeira de rodas. Numa dessas viagens ao médico, ela conheceu um homem chamado Pedro Andaluzia, que num primeiro momento a tratava com carinho e respeito. Ao ser apresentado a nós, fiz uma pequena investigação e não vi nada que desabonasse os Andaluzia.

Mesmo não gostando de Pedro, aprovei o casamento só para ver minha irmã feliz. Com o casamento, Constância foi morar em uma fazenda menor, que também pertence a nós. Faço referência a Fazenda Três Corações. Logo em seguida, com a permissão de minha irmã, aceitou receber a irmã e pai de seu marido Camélia e dom Álvaro. Isso foi há quatro anos. Com o passar do tempo, Constância diminuiu sua ida a fazenda Mendoza e toda a contabilidade ficou por conta da família Andaluzia. Sofia, nessa hora, sentiu um frio gélido na espinha, imaginando o pior. Foram interrompidos pelo garçom com a chegada dos pedidos. Sofia tomou um pouco de sua agua com gin tônica se preparando, de antemão, pelo que ainda precisaria ouvir.

- Gostaria de fazer o pedido senhor? - perguntou o garçom a Carlos Soza.

- Com toda certeza. Por favor, me traga uma tequila pura e uma água sem gás. Em seguida a isso, pediremos o almoço .

- Sim senhor. Com licença, madame. Completou o garçom se afastando.

- Continue, por favor – pediu Sofia.

- Por certo que sim. Como havia dito minha irmã se afastou de mim, da minha esposa Judite, da minha filha Catarina. No começo pensei que fosse por causa do casamento e da nova família. Um dia, fui visitá-la e a achei debilitada. Me deu pena. Muita pena. Perguntei o que estava havendo e ela me revelou que contraíra uma gripe forte, e o marido, muito solícito, sempre ao lado dela, me senti meio que desconfortável. Não pude conversar com ela, a sós e também não fui apresentado ao pai e a irmã de meu cunhado. Ao me despedir, percebi pelo olhar de minha irmã, algo como um pedido de socorro. Quanto me afastava da fazenda, fui parado pelo capataz que trabalha ha anos para a família. Pediu que me encontrasse com ele, numa cachoeira que existia dentro da propriedade. Usando palavras dele, queria me confidenciar algo.

***

Foram interrompidos novamente pelo mesmo garçom que trazia a bebida e o cardápio.

- O que gostaria de comer? - perguntou à Sofia.

- Estou um pouco sem fome...

- Então é melhor saborearmos o prato da casa. Veja aqui. Carne grelhada ao molho madeira picante, acompanhado de batatas, salada e arroz.

- Perfeito - Sofia respondeu.

Passou o pedido ao garçom, que anotou e saiu. Carlos tomou a tequila de uma vez só.

- Estou ficando assustada, diante do que me falou Carlos e com certeza mais ainda no tocante ao que ainda está por vir.

- Imagino que sim. É compreensível. Mas deixe-me terminar enquanto almoçamos. Não tomei o café da manha direito. Confesso, estou faminto.

O telefone celular de Carlos tocou.

- Desculpe. Minha esposa Judite. Me dá licença um minuto? - Oi amor, sim estou bem, estou na cidade sim, encontrei sim, isso, isso, estou almoçando nesse exato momento com a senhora Sofia Melbourne Andaluzia. Sim esposa de dom Rafael. Sim, ela está bem. Eu ainda não perguntei como foi o acidente. Sim Judy falamos mais tarde, como esta Caty? Sim também estou com saudades. Beijos.

Desligou. Colocou de volta o telefone no bolso de onde o havia tirado.

- Desculpe. Minha esposa esta preocupada. Vamos almoçar? Estou realmente faminto. O garçom havia servido o almoço.

Ficaram algum tempo, cada um remoendo os pensamentos.

- Sofia, sem sairmos do foco da nossa conversa. Pode me contar sobre seu acidente?

Sofia, entre uma garfada e outra, relatou em pormenores tudo o que havia lhe acontecido sem esconder nenhum detalhe.

- Então ninguém sabe que recuperou a memória, pois não?

- Exatamente. Ia falar para dom Rafael, mas em ultima hora decidi me calar. Depois da conversa que ouvi dos três, se contasse a meu marido, com certeza não acreditaria. Não depois da cena do beijo...

- Para seu bem e o de sua família, precisa continuar fingindo, até que consigamos provar. E vou te ajudar e você, em contrapartida, me ajuda. Certo?

- Sim. Mas preciso que me conte tudo, Carlos.

- Fui ao encontro do capataz. Estava deveras curioso. O que vou narrar agora, tem que me prometer, permanecerá aqui, entre nós, até eu conseguir as provas. Promete Sofia?

- Sim. Por um bem maior e pela nossa amizade que ora se estreita, prometo.

- Aloísio, o capataz, me disse, que alguns funcionários foram mandados embora, por ordem de Camélia, e que foram colocados no lugar os dispensados, gente nova. A única que permanece é a cozinheira Conceição, que confidenciou a ele que Constância fica o tempo todo no quarto. Faz todas as refeições lá, mesmo e sempre com uma enfermeira por perto. Está a dita, totalmente isolada do mundo. Percebeu que a saúde de minha irmã piorava, e relatou também pessoas estranhas toda noite na casa grande. Pedi a ele que sempre me relatasse qualquer coisa fora do normal. Agradeci e fui para casa.

- Fiquei muito preocupado, mas naquele momento nada poderia ser feito. Afinal, era o marido da Constância. Decidi contratar um detetive particular e pedi a um contador de confiança que analisasse, em segredo, as finanças de minha irmã. O que foi passado para mim, me deixou em choque. A herança de minha irmã estava no final, e dela restava somente a fazenda Três Corações. Todavia, a fazenda estava penhorada ao banco, em garantia a um empréstimo que minha irmã fizera. Para piorar a situação, descobri que as pessoas estranhas na casa de minha irmã eram, na verdade, jogadores de cartas. Meu cunhado, e o pai, estavam gastando o dinheiro de minha irmã em jogos de azar e a casa fora transformada num cassino clandestino. Imediatamente fui ate a fazenda. Ao topar comigo, Pedro logo veio me encontrar. Ao perceber minha cara de poucos amigos, acho que imaginou que eu sabia, ou havia descoberto alguma coisa escusa. Brigamos feio. Adentrei a casa e fui falar com minha irmã.

Você não imagina que horror. Minha irmã estava tão fraca, tão deprimida, tão para baixo, que mal respondia as minhas perguntas. Liguei para uma ambulância. Em seguida para a polícia. Minha irmã estava sendo forçada a tomar um líquido que a estava matando aos poucos. Apesar disso, nada ficou comprovado. A polícia, sem provas, não pode fazer nada. No mesmo dia, os salafrários deixaram a fazenda. Contudo, para não serem acusados criminalmente, Pedro assinou o divórcio, sem direito a fazenda. Abriu mão de tudo.

- Meu Deus como são inescrupulosos! Como puderam fazer isso com a sua irmã? Pobrezinha! Como esta ela agora?

- Internada, se recuperando em uma clínica. Melhorando, gradativamente. Apenas perdeu o prazer de sorrir. Sinto tanta falta daquela menina alegre, mesmo numa cadeira de rodas. Sempre divertida. Perdeu o brilho dos olhos cor de mel. Por isso preciso impedir que esses crápulas façam de novo.

-Mais do que nunca preciso ser forte. Fingir que não me lembro absolutamente de nada. Minha família corre perigo. Sinto que vem tempestade por ai. Meu coração, como pode perceber, está apertado.

- Sofia você precisa manter a calma. Sei que é uma mulher forte, mas o detetive que contratei, e que vigia todos os passos deles, me disse que eles têm muitas dívidas. Pior que isso. A máfia do jogo não perdoa ninguém. Em vista disso, não desistirão dos objetivos.

- Eu sei. Percebi pela conversa que ouvi. Não se preocupe. Serei forte. Vamos unir nossas forças e colocar todos esses canalhas atrás das grades. Agora sei que era da sua família que falavam e que os planos por lá não deram certo.

Olhando para o relógio de pulso Sofia percebeu que precisava voltar para casa.

- Nossa! Está ficando tarde. Preciso ir embora. Ficaremos em contato.

- Fica tranquila. Tem alguém que está nos ajudando e de olho em tudo.

- Quem?

- Não posso dizer nada por enquanto. Me liga nesse número, a qualquer hora, se precisar. Estou hospedado aqui.

Sofia terminou de comer, Em seguida se despediu e caminhou, resoluta, em direção ao carro. Onde José a aguardava.

Continua no próximo capítulo.

Carlasonhadora
Enviado por Carlasonhadora em 22/06/2018
Reeditado em 15/05/2020
Código do texto: T6371263
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