Capitulo 7

Hoje é quinta-feira, dia de banho de sol e visita no quartel. De manhã ,jogamos futebol de salão ,eu e Geraldo contra Benoni e Antônio Jose , dois contra dois. Uma hora de relógio correndo na quadra atrás da bola. Sou o pior jogador. Canso logo e não aguento o ritmo do jogo. Para mim, o mais veloz é Geraldo, exatamente o mais velho. Paramos para o intervalo e continuamos a pelada até cansar. Perto do meio dia, fomos nos recolher ao xadrez. O sargento do dia chama a nossa atenção para o horário do banho de sol.

Tomamos banho e vamos esperar o almoço poucos minutos depois, a corneta toca anunciando a chegada do carro com a refeição. O almoço é arroz, feijão e bife de carne de gado e algumas pedaços de tomate. Melhor que lá em casa. Hoje, eu fico pensando como conseguir sobreviver comendo a baixo do necessário para viver, comparando ontem com hoje, comemos mais e melhor.

Antônio José comanda a conversa e dá explicações sobre a vã filosofia, da qual era estudante na faculdade. Ele organizou uma escola para nós mesmos, onde estudávamos de manhã após o café. Como ex seminarista, ensinava Latim. E as outras matérias eu não me lembro quem ensinava . Caímos no sono após o almoço e nos levantamos na hora das visitas. O sentinela abriu o portão e tive uma surpresa mais que agradável. Meu pai , que me visitava estava acompanhado de uma ex namorada minha, que morava no Rio de Janeiro e foi me visitar. Mercedes era mais velha do que eu cinco anos.

Ela me falou que viera buscar os pais dela que moravam em Parnaíba. Iria viajar nos próximos dias e me procuraria depois que viesse de lá. Mercedes me apareceu no quartel fora do dia de visita, dizendo que viajaria no dia seguinte. Só que veio a ordem para soltar Antônio José, eu e Ventura que estava preso no Quartel da Guarda Civil com Osvaldo Rocha . Os outros permaneceram presos.

Ainda deu tempo pra sair com Mercedes pelo centro de Teresina. Fiquei sentado com ela no banco da Praça Pedro ll , olhando para o quartel , já com saudade da vida de preso político. Tinha tanta coisa pra conversar com ela na véspera da viagem de Mercedes, que o tempo foi muito escasso. De volta, dei um beijo nela e Mercedes me disse que tinha compromisso. Anos após o reencontro com Mercedes, eu soube que ela estivera outra vez me procurando. Imagino que era para me levar para o Rio de Janeiro.

E eu estava vindo justamente do Rio de janeiro seis anos depois desse nosso reencontro. Mas nunca nos cruzamos por lá. Às vezes eu já familiarizado com a cidade grande, parava pra olhar se ela não aparecia no meio daquela multidão. Nunca mais a vi. Não era nosso destino casar. Me recordo dela e foi o maior amor da minha juventude. Mercedes é branca, olhos esverdeado nariz adunco.

samuel filho
Enviado por samuel filho em 30/07/2018
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