MI - UMA GAROTA MUITO ESPECIAL (DOZE ANOS DEPOIS) - PARTE 6

MI – UMA GAROTA MUITO ESPECIAL

PARTE VI

Maria Cecília se deita de costas na grama, apoia a cabeça no livro e flexiona as pernas, com um sorriso maroto nos lábios.

- Eu sabia que ia te encontrar hoje aqui. Oi, pai.

- Oi, ele responde, sério.

- Vai me dar bronca?

- Eu já fiz isso alguma vez?

- Não, mas... eu fiz uma coisa que acho que você não queria que eu fizesse.

- E o que foi que você fez?

- Ah, você sabe. Você sempre sabe de tudo que eu faço. Chega a ser irritante.

Cláudio ri.

- Eu falei pra minha mãe que falo com você.

- Não tem problema.

- Não ficou zangado?

- Não, claro que não. Eu só ficaria triste se ela brigasse com você.

- Minha mãe quase não briga comigo. Só se eu faço alguma coisa muito, muito, muito grave.

- Tipo...?

- Ficar dois dias sem fazer a lição da escola... ir nadar na represa sozinha ou... comer muita jabuticaba antes de almoçar ou jantar e depois ficar com dor de barriga.

- É... isso realmente é grave.

- Ah, mas quem resiste àquelas bolinhas pretas deliciosas que nascem no jardim do biso Salomão? Eu não resisto, só se não tiver olhando pra elas. E quem manda esse país ser tão quente? A gente tem uma represa deliciosa também no quintal de casa e eu sei nadar. Nada me aconteceria lá.

- E a lição? Que desculpa você tem pra isso?

- Aí... é preguiça mesmo, ela diz com uma careta. – Não suporto Geografia e História. São as únicas matérias que eu sinto preguiça de fazer lição. São muito maçantes.

- Você ainda é muito jovem para ficar rejeitando alguma matéria da escola. Tem que aprender de tudo, pra poder decidir do que vai gostar quando crescer.

- Isso eu já decidi faz tempo. Eu vou ser médica, que nem você. Que nem minha mãe.

- Sua mãe não é médica. É enfermeira.

- Dá no mesmo. Ela ajuda a curar as pessoas, como você também fazia e é isso que eu quero fazer quando crescer.

- Ainda acho que é muito cedo pra decidir isso. Mas não foi por isso que eu vim falar com você.

Maria Cecília se senta e cruza as pernas, feito índio, olhando para o pai com atenção.

- E por que foi?

- Daqui um tempo, eu... não vou poder mais vir te ver.

- O quê?! Por quê? O que foi que eu fiz?

- Nada. Você não fez nada. Você vai fazer treze anos, não é?

- É... dezesseis de abril, e daí? Não posso mais fazer aniversário?

- Claro que pode. Por mim você vai fazer muitos aniversários ainda, mas eu não vou poder ficar vendo você a vida inteira.

- Por que não?

- Ainda não posso te contar, mas... eu vou estar sempre com você, enquanto você pensar em mim.

Os olhos dela se enchem de água.

- Não gostei dessa notícia. Foi a notícia mais chata que você já me deu. Eu não quero ficar sem conversar com você. Ainda preciso que você me proteja.

- Você tem muita gente pra te proteger aqui. Sua mãe, seu padrinho, seus avós, e eu vou estar aqui também, de outro jeito, mas vou.

- Pra onde você vai?

- Não posso dizer, mas eu talvez vá estar mais perto de você do que agora.

- Você vai estar mais perto de mim do que agora? Eu vou poder... tocar você?

- Acho que sim... mas não me pergunte mais nada. Vai ficar tudo bem. Você vai entender com o tempo.

- E quando vai ser isso? - ela pergunta, enxugando os olhos.

- Logo...

- Eu pensei que você fosse aparecer pra minha mãe também. Ela ainda sente muito a sua falta.

- Eu te disse que ainda não posso. Não desse modo.

- Mas ela te ama muito e você não disse que ama minha mãe também?

- Amo, muito, mas existem vários tipos de amor. Você precisa entender isso pra seguir sua vida. A gente esquece de algumas coisas quando cresce, mas eu queria que você não esquecesse disso nunca.

- Meu padrinho também ia gostar muito de ver você.

- Ele também parou a vida dele, porque não conseguiu se desligar do passado.

- A avó Magda diz que ele ainda sente falta de uma namorada que ele teve antes de eu nascer. Ela morreu na Inglaterra. Uma moça chamada Linda. Por isso, nunca quis se casar. Só “namora muito, mas não se liga em ninguém”, palavras do vô... bem zangadas por sinal.

- Ele se sente culpado pela morte dela ainda, mas não foi culpa dele. A gente pode até tentar, mas não pode fazer nada pra impedir mortes como a dela.

- Eu posso falar isso pra ele?

RP – MI - UMA GAROTA MUITO ESPECIAL (DOZE ANOS DEPOIS...)

PARTE 6

OBRIGADA! BOM DIA!

DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!

Velucy
Enviado por Velucy em 03/08/2018
Código do texto: T6408046
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