MI - UMA GAROTA MUITO ESPECIAL (DOZE ANOS DEPOIS) - PARTE 49C

MI – UMA GAROTA MUITO ESPECIAL

PARTE XLIXc

Depois de uma volta curta, mas bem intensa, pelo quarteirão onde André sentiu-se livre e feliz como nunca, na garupa do pai, Wagner o leva para casa, duas ruas adiante do largo da igreja onde estavam inicialmente. Estaciona a moto diante da casa numa rua tranquila, como toda rua do interior onde raramente passam algumas pessoas.

André desce da moto e está com um sorriso imenso no rosto.

- Irado, meu! Muito louco andar nisso!

- Que bom que você gostou. No passado eu tinha uma Harley, bem maior, mais rápida e mais cara, que eu ganhei do pai da minha madrasta, mas ela viajou tanto de Campinas a Casa Branca que começou a dar defeito e eu troquei por essa. Ainda não me deixou na mão.

O menino senta-se no meio fio da calçada e joga a mochila no chão, feliz, apreciando a moto.

- Você mora aqui? – Wagner pergunta, olhando para a casa.

- Moro... eu nasci aqui.

- Nasceu em casa?

- Minha mãe não quis nem ir pro hospital. Ela diz que queria morrer no dia.

Wagner fica olhando para ele e imagina o que Janete deve ter passado quando deu a luz a seu filho sozinha e sem o apoio dele.

- Ela disse isso pra você?

- Só diz quando está com vontade de me azucrinar.

Wagner se encosta no guidão da moto, cabisbaixo.

- Senta aqui. Não vou te pedir pra entrar, porque... minha tia não gosta muito de você. Mais por causa do que minha mãe fala que por outra coisa. Ela nem te conhece.

Wagner desce da moto e se senta junto dele.

- André, eu não menti quando disse que não pude vir antes. Eu administro a fazenda do meu pai e não deu mesmo. Não foi por falta de vontade. Todo mundo na fazenda está querendo saber de você. Minha sobrinha é a que mais pergunta. Foi ela que me insentivou a te procurar. Me apressou, é a palavra. Ela queria muito que eu viesse.

- Eu gostei muito dela e da sua madrasta. Só fiquei com um pouco de medo do meu... avô. Ele não pareceu gostar muito de mim.

- Só impressão. Ele nem te conhece direito, como sua tia não me conhece direito também. Mas... me esclarece uma coisa... Você disse que sua mãe te bate ainda por minha causa...

André fica sério e olha para as mãos unidas.

- Só quando eu falo de você. Se não, ela me ignora.

- Me conta isso, filho. Ela não pode fazer isso com você.

- Uma semana depois do início das aulas, eu caí na besteira de falar na mesa do café que estava com saudade de você. Ela... me deu um tapa na cara que eu não esperava.

André coloca a mão no rosto, relembrando.

- Doeu até umas horas. As lágrimas chegaram a grita pra sair do olho, mas eu não chorei. Não achei justo. Eu não merecia. Tia Rosana gritou com ela e me acudiu, mas ela saiu da cozinha me xingando e dizendo que toda vez que eu abrisse a boca pra falar de você, ela ia fazer a mesma coisa.

- Meu Deus... Eu sinto muito, filho.

- Quando eu via as semanas passarem e você não vinha me ver, nem tentava... comecei a ver que ela tinha razão. Desencanei e comecei a viver minha vida de antes. Ter pai não era pra mim. Nunca tive, por que tinha que ter agora?

Wagner passa o braço em volta dele e o abraça. André encosta o rosto no peito dele e começa a chorar.

- Se você não vai nunca mais vir me ver, me esquece. Vai embora e não volta mais. Não fica aparecendo na minha vida de doze em doze anos. Isso só vai me fazer te odiar ainda mais do que minha mãe.

Wagner o faz olhar para ele e coloca seu rosto entre as mãos.

- Isso não vai acontecer, André. Eu vou vir te ver sempre que puder. Como eu disse na fazenda, você é meu filho e vai ser sempre. Nem que eu tenha que conseguir na justiça, eu vou conseguir legalizar essa situação. Vou conseguir ter a sua guarda compartilhada ou não com sua mãe. Ela não pode continuar fazendo o que faz com você, por minha culpa. Eu vou dar um jeito nisso. Te prometo. Tenho advogados que podem ajudar nisso. Só não precisa dizer nada a ela ainda. Não quero que você sofra mais por causa disso. Confia em mim?

- Acho que sim.

Wagner o abraça.

- Olha... minha sobrinha vai fazer treze anos no dia dezesseis do mês que vem e ela quer muito que você esteja na festinha dela.

- Minha mãe não vai deixar. Não vou nem sonhar com isso.

- Mas eu vou e você vai estar lá. A Mi quer muito que você vá e não vai me perdoar, se eu não conseguir isso.

- Mi? Que é Mi?

Wagner ri.

- É o apelido que eu coloquei nela antes de ela nascer. E quando ela nasceu, nasceu de oito meses, era bem pequenininha e o apelido pegou.

- Mi... É engraçado. Eu não vi o pai dela quando fui lá. Ele é muito bravo?

Wagner sorri.

- Por quê?

- Eu gostei dela... Ela é uma gatinha... Tem um cabelo comprido lindo...

Por um momento Wagner se lembrou do menino de doze anos que ele foi, quando inocentemente paquerava a amiguinha Mônica quando brincava com ela na fazenda.

- Vai devagar, rapazinho. Ela tem só treze anos. Se o pai dela não vigia, eu estou de olho nela desde que ela nasceu. Ela é minha sobrinha e afilhada. Pega leve.

- Ei, hein! Não disse nada... Só disse que ela é gatinha.

- Eu sei. Começa assim...

- Começa o quê?

- Nada... Esquece...

MI - UMA GAROTA MUITO ESPECIAL (DOZE ANOS DEPOIS...)

PARTE 49C

OBRIGADA! BOM DIA!

DEUS ABENÇOE A TODOS NÓS!

Velucy
Enviado por Velucy em 18/08/2018
Código do texto: T6422657
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