ANANDA, ESCRITO NAS ESTRELAS II - PRÓLOGO - PARTE 2

AMANDA, ESCRITO NAS ESTRELAS II

PRÓLOGO – DECISÃO - Parte 2

(Fevereiro de 1989)

- Sem problemas, disse a senhora. - Eu estou fazendo o que faço todo dia. O mármore está quase ficando transparente de tanto ser limpo por mim, ela disse, rindo gostoso, mas colocando a mão sobre a boca e fazendo o mínimo de barulho para não incomodar o silêncio do templo.

Marco sorriu também e em seguida entrou pelo corredor atrás do altar e chegou à porta da sacristia. Parou e viu o padre Orlando sentado em uma poltrona conversando em voz muito baixa com uma senhora. Eles estavam inclinados um para o outro como se a conversa fosse muito reservada e particular. Padre Orlando o viu por cima do ombro da mulher e balançou a cabeça sorrindo, como se a dizer que o tinha percebido, mas sem interromper a senhora. Marco esperou, parado no mesmo lugar, sem querer interrompê-lo. Depois de alguns segundos, Padre Orlando colocou a mão sobre o ombro da senhora, lhe disse algumas palavras em seu ouvido e fez o sinal da cruz em sua testa e em voz um pouco mais alta disse:

- Deus a acompanhe e a abençoe grandemente, filha.

- Amém, padre, ela disse, beijando a mão que ele lhe estendeu.

Ela se levantou e saiu, passando por Marco e colocando o véu de novo na cabeça.

Padre Orlando cruzou as mãos nos joelhos e fechou os olhos com a cabeça curvada para frente, mantendo o leve sorriso quase imperceptível nos lábios.

Marco ficou parado, olhando para ele, como se ainda não pudesse entrar e esperou que ele o chamasse. O padre, ainda de olhos fechados, levantou a mão e o chamou apenas com um movimento dos dedos. Com a outra, bateu no acento do banco ao lado dele onde a mulher havia estado sentada, como a pedir que ele sentasse também. Marco entrou e lentamente foi sentar-se no lugar onde ele indicava. Como o sacerdote continuava de olhos fechados, numa atitude que parecia indicar que estava rezando, ele não se atreveu a dizer nada.

Padre Orlando abriu os olhos e olhou para ele, respirou fundo e colocou as duas mãos em sua cabeça. Marco fechou os olhos.

- Deus o abençoe, filho.

- Amém, ele sussurrou, num suspiro.

- O que veio fazer aqui? - o padre perguntou com voz suave e o mesmo sorriso benevolente nos lábios.

- O senhor se lembra de mim?

- Claro, claro que me lembro. Você é o menino que eu casei no ano passado com um anjo adormecido.

Marco sentiu a garganta apertar e uma vontade grande de chorar com aquelas palavras, mas segurou a emoção, apertou as mãos e continuou:

- Isso mesmo...

- E como você está agora?

- Bem... Porque meu anjo acordou, padre.

- O Senhor seja louvado! - o padre disse, com fervor, fechando os olhos e o abençoando novamente, fazendo o sinal da cruz no ar diante dele.

- Pra sempre, Marco respondeu, com a voz embargada, arrepiando-se inteiro.

- E como é que ela está?

- Bem... muito bem, graças a Deus.

Padre Orlando abriu os olhos azuis e o fitou e depois olhou para a aliança na mão esquerda de Marco.

- Vocês vivem bem? São felizes juntos?

Marco pensou que o padre imaginasse que ele e Amanda vivessem juntos desde então e esclareceu:

- A gente está feliz. Está tudo bem comigo e com ela, mas... a gente não vive junto, padre.

- Não?

- Não...

- Por que, não? - padre Orlando perguntou com uma pequena ruga na testa.

- Foi a condição que nossos pais me deram pra poder me casar com ela. Se ela voltasse, a gente ia esperar um pouco pra... viver junto. A gente ainda era... é... muito jovem.

O padre balançou a cabeça, assentido lentamente, como a ponderar o caso.

- Entendo... E no que eu posso ajudá-lo agora?

- Eu... quero me casar com ela pra valer... na sua igreja.

Padre Orlando estreitou os olhos ainda sorridentes e os fixou nos olhos de Marco que se sentiu vasculhado por dentro e seu coração acelerou novamente temendo que o religioso fosse lhe dar mesmo o sermão que esperava ouvir do pai, se ele contasse para ele.

- O que seus pais pensam disso... Marco Antônio, não é?

- Isso mesmo, ele confirmou, descobrindo que o padre tinha realmente boa memória.

- O que eles pensam disso?

- Eles... Eles não sabem dessa minha decisão, padre.

- A decisão então é só sua?

- É...

- Por quê?

Marco baixou os olhos e olhou para a aliança que acariciava, nervosa e quase que involuntariamente. Levantou a cabeça e respondeu:

- Porque eu amo a Amanda, como amava no ano passado; porque eu já tenho dezoito anos e já sou dono da minha vida e porque o senhor já nos casou. Nós já somos casados diante de Deus.

- E porque ela não está aqui com você nesse momento tão importante das suas vidas?

Marco ficou sem fala. A pergunta era pertinente. Por que ele não tinha trazido Amanda? Seria porque ela não sabia de nada? Porque ele tinha decidido sozinho? Que era outra loucura nascida em sua cabeça num momento de desespero como antes havia acontecido?

- Porque... eu imaginei que o senhor... não fosse concordar.

O rapaz não conseguiu levantar os olhos para encará-lo. O padre apertou os lábios, segurando um sorriso e levantou-se, dando alguns passos até o pequeno altar onde havia um genuflexório usado para as confissões dos fieis. Ficou olhando para a imagem de Santo Amaro e pergunto:

- Você entende o tamanho da responsabilidade em que está querendo entrar, filho?

CONTINUA...

DECISÃO – Fevereiro de 1989 – PARTE 2

AMANDA, ESCRITO NAS ESTRELAS II

Velucy
Enviado por Velucy em 15/10/2018
Reeditado em 15/10/2018
Código do texto: T6476512
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.