AMANDA, ESCRITO NAS ESTRELAS II - PRÓLOGO - PARTE 3

AMANDA, ESCRITO NAS ESTRELAS II

PRÓLOGO – DECISÃO – PARTE 3

(Fevereiro de 1989)

- Você entende o tamanho da responsabilidade em que está querendo entrar, filho? – perguntou o padre com seriedade.

Marco ergueu a cabeça, pensou por um momento e respondeu:

- Entendo tanto quanto qualquer pessoa que tenha se casado antes de mim entende, padre. Eu sei que a maioria não entende muito, porque... todo mundo tem problema, mesmo sabendo muito sobre isso e... mesmo sendo mais velho e experiente que eu. Ninguém nunca sabe tudo. Tem gente que se casa, vive dez anos casado e... de repente se separa porque alguma coisa não era como pensava no início. Ninguém sabe nada sobre isso totalmente.

- E você está disposto a, daqui dois anos descobrir, que sua decisão estava errada e ter que se separar da Amanda porque ela não era o que você pensava?

- Eu não quero me casar com ela porque daqui a dois anos eu posso me separar dela. Eu quero me casar com ela porque parece que eu já a conheço há séculos e a gente se reencontrou agora... pra continuar vivendo junto pro resto das nossas vidas. Eu quero viver com ela o resto da minha vida, padre.

Padre Orlando respirou fundo.

- Isso era o que Romeu e Julieta pensavam... e os dois morreram por isso... Você chegaria a esse extremo?

Marco não respondeu. O padre se voltou para ele.

- Você morreria por ela, como Romeu fez?

- Não... o rapaz respondeu.

- Você quis se casar com ela enquanto ela estava à beira da morte. Não é quase a mesma coisa?

Marco balançou a cabeça negando, sentindo a garganta arder com aquelas lembranças.

- Se ela morresse, você morreria também? - o padre insistiu.

A respiração de Marco estava alterada e ele sentiu as lágrimas virem aos olhos quase sem controle.

- Não!... Mas ia ficar bem difícil viver sem ela, ele respondeu finalmente. – O senhor se importaria de não falar mais sobre isso. Não é uma coisa de que eu goste de me lembrar.

Padre Orlando ficou olhando para ele com admiração e sentou-se de novo a seu lado.

- Desculpe, filho... mas você não acha melhor conversar com seus pais e o pai dela primeiro?

- Não, disse Marco, enxugando o rosto. - Eles não permitiriam.

- Não tem ninguém morrendo agora, não é?

O rapaz não respondeu.

- Só uma última pergunta...

- Faça... Marco disse.

- E se a Amanda não quiser oficializar o casamento com você?

Ele olhou para a aliança novamente e sorriu.

- Eu acho meio difícil isso acontecer. Se ela quisesse isso... já tinha pedido pra mim ou pro pai. Ela me ama... como eu a amo.

- Mas ela pode mudar de ideia. Já se passaram muitos meses depois do casamento. Ela pode agora achar que é realmente muito cedo pra assumir um compromisso tão sério com tão pouca idade. Ela só tem... dezesseis anos? É isso?

- Dezessete... Marco respondeu, olhando para o padre, imaginando se ele estava realmente querendo que ele mudasse de ideia ou estava só testando se era aquilo mesmo que ele queria.

- Hum... fez o padre, parecendo ponderar a questão e olhando para o chão.

- Padre, nós já somos casados. O senhor fez a cerimônia, lembra? Eu só quero que o senhor faça a mesma coisa novamente, só que agora na igreja. Ou aquilo não valeu de nada?

O padre levantou a cabeça e arregalou os olhos, confirmando, taxativo.

- Claro que valeu! Foi uma cerimônia legítima, com total validade aqui ou em qualquer país católico do mundo. Não ouse duvidar disso, menino.

- Mas eu não duvido. Nunca duvidei e é por isso que eu estou aqui. Eu me sinto casado com ela pra valer e sei que ela se sente do mesmo jeito. A gente conversa muito sobre isso e gosta da ideia. O sentimento não é unilateral. Eu só estou aqui sozinho, porque ela não pensou nisso ainda. Ou talvez tenha pensado, mas... Acho que, na cabeça dela, seria como desobedecer ao pai que espera que ela se case mais madura, formada e tudo mais... e ela nunca pensou em fazer algo que ele não quisesse, que não aprovasse... mas a gente já é casado, queiram nossos pais aceitem isso ou não.

- Você não engravidou a moça, não...?

- Não! - Marco respondeu, prontamente. - Claro que não, padre. Nós nunca tivemos nada sério a esse ponto.

- Nunca?

- Não, nem antes do casamento.

Padre Orlando viu sinceridade em seus olhos e sorriu, aproximando mais o rosto do dele.

- Mas esse seria um dos motivos pra você querer apressar as coisas, não seria? - padre Orlando ergueu as sobrancelhas e adotou um ar malicioso, com um leve sorriso nos lábios.

Marco corou levemente e não conseguiu encará-lo. Sorriu e pigarreou.

- Pode me dizer, filho, você aqui está praticamente se confessando. Eu não diria pra ninguém, tenha certeza.

Marco ficou sério novamente.

- Padre, eu não quero apressar as coisas. Eu já sou casado com ela. Já poderia ter... – ele olha para a imagem do santo – com todo respeito... transado com ela, se quisesse, mas eu não quis, porque eu sei que na cabeça dos nossos pais isso não seria certo, por mais direitos que a gente tenha de fazer isso. E foi outra condição... que eu tive que aceitar pro meu pai deixar o casamento acontecer e não anular tudo depois que ela acordou.

Padre Orlando balançou levemente a cabeça e molhou os lábios, pensativo, depois concluiu:

- Seu pai o ama muito.

Marco engoliu em seco e respirou fundo.

- Eu sei... há dezoito anos... mas ele não vai ser responsável por mim a vida inteira. É a lei da vida, mesmo que nunca deixe de me amar. Eu tenho que fazer o meu caminho... sozinho... não é?

O padre sorriu e respirou fundo também.

- E pra quando você quer que seja seu novo casamento?

Marco abriu um sorriso e olhou para as mãos, aliviado, mal acreditando que o sacerdote iria ceder.

- Não é pra já. Eu... só vim falar com o senhor pra ver o que o senhor pensava disso... se concordaria. Eu não estou tão desesperado assim.

Os dois riram juntos e Marco passou as mãos pelo rosto, tentando quase tirar o vermelho que teimava em voltar ao rosto.

- Você sabe que há muitos trâmites que devem ser seguidos antes que isso possa acontecer, não sabe?

- Eu sei, ele respondeu rapidamente, voltando a ficar sério. – Eu não quero apressar nada... quer dizer... quero que tudo seja feito da maneira correta. Sem atropelos.

O padre respirou mais uma vez, balançou a cabeça e levantou, dando alguns passos pelo aposento.

CONTINUA...

DECISÃO – Fevereiro de 1989 – PARTE 3

AMANDA, ESCRITO NAS ESTRELAS II

Velucy
Enviado por Velucy em 15/10/2018
Reeditado em 15/10/2018
Código do texto: T6476514
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