"O LEGÍTIMO E AUTÊNTICO CONFRONTO (INEVITÁVEL E DEFINITIVO DUELO DE MORTE)"

INTRODUÇÃO

Alicerçada nos textos das Sagradas Escrituras Bíblicas, esta extensa história faz-se um registro da constante luta travada entre bem e mal, certo e errado, lícito e ilícito, o que convém e o que não convém. O mal original e o bem supremo; o maior inimigo de nossas almas, a nossa própria mente nesta mesma constante luta entre bem e mal, certo e errado, lícito e ilícito, o que convém e o que não convém, fazendo-nos gerar tanto as ações mais virtuosas e louváveis como as mais perversas e hediondas, amigos e inimigos de nós mesmos, raça criada para o louvor e a glória do Criador, na queda, perdida para o louvor e a glória de si mesma, efêmera e, portanto, finita.

Incitados pelos próprios maus desejos, estes, rebeldes rebentos de um egocentrismo exacerbado, somos vítimas e algozes de nós mesmos, terrível e tenebrosa realidade revertida tão somente através do sincero arrependimento dos próprios pecados com a finalidade de se voltar para o Criador e Pai, dessa maneira, garantindo eterna vida abundante por meio de Cristo, o Qual concede a paz que o mundo não tem, verdadeiro descanso e um suave jugo e leve fardo, vez assim, ter-se dada, com Deus, a reconciliação, possibilitando o conhecimento da verdade pelo caminho de vida, pois o Senhor Deus faz-Se o mais precioso dos tesouros.

Trata-se de uma infinita e eterna viagem da alma humana porquanto o próprio Altíssimo Criador, Soberano e Supremo Deus, faz-Se infinito e eterno, portanto, indo referida viagem além das nossas próprias e, pois, finitas limitações, vez abarcar a própria essência, em si mesma, do Bem e do Mal, em toda sua completude.

I

"AI DECADÊNCIA! QUEDA DE LÚCIFER!"

VOZ OCULTA (NARRADOR)

Ai que que a terra, forma não tinha e vazia era!

a face do abismo, pelas trevas, coberta fazia-se!

ai alva estrela dos celestes fundamentos!

obscureceu-se o seu coração, caiu, quedou-se!

você, sobre o qual Isaías proferiu:

"as suas forças, perdera, na sepultura, lançada fôra

a sua soberba, junto com o som das suas liras!

de larvas, faz-se a sua cama e de vermes, a sua coberta!

ai! como dos céus caiu você, ó matutina estrela, da alvorada, filho!

você, o qual, no coração seu dizia:

'aos céus subirei! acima das estrelas de Davi,

o trono meu erguerei! do Santo Monte, em seu pináculo,

no Monte da Assembleia assentar-me-ei!

do que as mais altas nuvens, mais alto subirei!

como o Altíssimo serei!'

ai pecador mor, do qual Ezequiel também proferiu:

"de beleza perfeita e, de sabedoria, cheio, ai que,

da perfeição, o modelo era você!

no jardim de Deus, no Éden, eis que estava você!

ó que enfeitavam-no as preciosas pedras todas:

esmeralda, carbúnculo e safira, jaspe, ônix e berilo,

diamante, topázio e sárdio! eis que,

de ouro, feitos eram as guarnições suas e os engastes seus!

no dia em que, criado, foi você,

ó que, preparado, fôra tudo! como um guardião querubim,

ó que, ungido foi você, pois

ai que designei-o Eu para isso!

entre as fulgurantes pedras, eis que

caminhava e, no Santo Monte de Deus,

ai que estava você! desde o dia em que criado fôra,

nos caminhos seus, ai que, inculpável, era você,

até que, em você, ai que, maldade, achou-se!

do Monte de Deus, para longe, humilhado,

ó que lancei-o Eu por isso e, do meio das fulgurantes pedras,

ó guardião querubim, ai que expulsei-o!

por causa do esplendor seu, a sabedoria sua,

eis que corrompeu você e, por causa da beleza sua,

eis que, orgulhoso, se tornou o coração seu!

ai que, à terra, atirá-lo-ei Eu por isso!

eis que não mais existirá você, o fim terrível seu,

ó que chegou!"

ai anjo de luz em pai das trevas tornado!

de tudo o que possuía, dos dons com os quais

Deus o constituiu, senhor não mais é!

abaixo fôra lançado, destituído de toda a paz,

à terra chegando e a entrevando!

ai ser digno de desprêzo! ignóbil e tola criatura!

de orgulho cobriu-se e na vaidade chafurdou-se!

a si mesmo enganou-se e o mal que, então gerou,

a luz, a qual seu ser irradiava, absolutamente apagou!

a completa malignidade e a plena perversidade

anularam, destruíram, aniquilaram! agora inexiste!

como remota realidade da qual cuja existência duvida-se,

pela presença do absoluto mal extinguiu-se,

como chama a qual apaga-se e não mais é!

ai que seu maldito coração trouxe-lhe a condenação!

nesta sua condição, faz-se tal situação:

há completa ausência de perdão!

II

"AI ORGULHO! AI VAIDADE! QUEDOU-SE A HUMANA CRIATURA!"

A MULHER (diante da árvore do conhecimento do bem e do mal)

Ai que tudo o que Deus, o Senhor, fez e criou,

como o Seu Criador, tão belo faz-se!

das Suas mãos, as obras, quão singelas e admiráveis são!

o paradisíaco Éden revela-as de maneira tão intensamente genuína!

rica e abundantemente plena do Seu amor!

ai o aroma! ai o frescor! tudo é tão novo!

ó obra dos atos primeiros do Criador!

louvado faz-Se Deus, o Senhor!

ó satisfação! ó regozijo! ó júbilo! ó plena gratidão!

VOZ OCULTA (A SERPENTE)

Certa faz-se de sua adoração, ó mulher?

A MULHER

Quem, a palavra, dirige-me?

o meu Criador, meu Deus e Senhor, de certo não O é!

A SERPENTE (detrás da árvore do conhecimento do bem e do mal surgindo)

Sou eu, a serpente, mulher,

obra e criação das mãos de Deus, também!

da mesma forma, tão bela quanto o Criador, não faço-me?

A MULHER

Mais belo faz-Se o Criador, certo é!

A SERPENTE

Ora, ora, pois vejamos: bela não faz-se esta árvore?

A MULHER

Belíssima!

A SERPENTE

E quais as palavras, por Deus, proferidas?

fôra isto mesmo que Ele disse:

"das árvores do jardim, de nenhum fruto comam?"

A MULHER

Ó não, das árvores do jardim, do fruto comer,

certamente o podemos! contudo, proferiu Deus para que,

da árvore do conhecimento do bem e do mal, portanto,

não comamos! além de, também, não o tocarmos!

se o fizermos, certamente, a morte nos vem!

sim, feneceremos, pois morreremos!

da vida, ceifados seremos! não mais viveremos!

A SERPENTE

Ó mulher, morrerão? certo é que não!

disso, Deus bem o sabe! pois sabe Ele que,

o que ocorrerá, isto, então, o será:

do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal,

quando comerem, ó que, como Deus, serão!

ó mulher, porque abrir-se-ão os seus olhos e, do bem e do mal,

plenos e absolutos conhecedores tornar-se-ão!

A MULHER

Ó que despertou-me a visão!

e o sentido do paladar aguçou-me o desejo!

eis que a bela árvore, portanto, ao paladar,

muito agradável aparenta-me!

sim, atrai-me a ela de forma absolutamente dominante!

e não resisto às palavras a mim declaradas:

ser como Deus, o meu Criador,

o bem e o mal conhecendo? sim,

desejável faz-se, ó árvore, para, de você,

discernimento obter-se! e sim, o meu Criador,

discernimento de tudo, tendo, todo o conhecimento

e toda a sabedoria abarcando, eterno faz-Se!

não menos nós, criaturas suas, de todo o conhecimento,

sabedoras tornando-nos, deixaríamos, pois,

de eternas, permanecer! ai que o não resisto mesmo!

VOZ OCULTA (NARRADOR)

Ai mais plena escuridão!

obscureceu-se o humano coração!

não como Deus, tornou-se o humano ser, portanto,

senão como a astuta serpente, Lúcifer, o anjo de luz caído,

Satanás, o inimigo da alma humana surgido,

o maldito e maligno Diabo, adversário sedutor,

eterno acusador, infalível enganador!

conseguiu o seu intento! ai! conseguiu o seu intento!

no humano coração a dúvida lançou! ai humana criatura!

à vaidade se entregou! a ilusão acompanhou!

quedou-se! quedou-se a criatura! ai homem! ai mulher!

de Deus se apartaram! a confiança abalaram!

a mente transtornaram e o coração turvaram!

à morte se achegaram e a vida, pois, abandonaram

porquanto mortais, sim, se tornaram!

EVA (a mulher)

O que fiz? ai! o que acarretei?

envergonho-me no pó e nas cinzas, pois

agora, sim, mortal tornei-me!

a eternidade a qual desfrutava,

como água ao solo, a qual, sob o sol, evapora-se,

não mais desfruto, esvaiu-se!

de Deus, órfã tornei-me, inda que o meu Criador,

eterno seja, já não O vejo, já não O ouço,

e não O sinto, nem O pressinto:

longe e desamparada estou! sim, órfã encontro-me!

afastou-Se de mim Aquele o Qual vida concedeu-me,

vez que o fôlego de vida em mim soprou,

e livre, agora, estou, para quê,

se de Deus, apartada me tornei,

ao mal me entreguei e a morte eu gerei?

ó Adão, homem primeiro, meu marido e companheiro,

o que foi que eu fiz? o que foi que eu fiz?

e onde encontrava-se, ó marido meu,

quando a Deus contrariei e, assim, então, pequei?

ADÃO (o homem)

Pois sabe agora o que é pecar, ó mulher?

também, não menos, o sei, agora!

não a cobri? faz-se mais fraca?

mas a Deus, seus ouvidos não ouviram!

a Deus, os meus, também, não ouviram,

pois ouviram a você, a qual, com os seus, portanto,

ouviram a astuta serpente! seduziu-lhe a serpente?

seduziu-me você, ó mulher!

ouviu você aos próprios desejos seus?

pois aos meus, ouvi eu! onde eu estava?

fosse onde eu estivesse,

diante de Deus não estaria?

ó Eva, mulher minha, onde era que você estava?

diante de Deus, você, também, não estaria?

pois agiu como se não estivesse!

e por que, do fruto proibido, para comê-lo,

ofereceu-me? comi-o, também pequei!

somos, ambos, os culpados!

acaso, procuro justificar-me?

por que tenta justificar-se, então?

não vê, não percebe, não atenta-se para a realidade,

não mais presente, de que, em comunhão,

vivíamos em perfeito elo tríplice?

Deus, eu e você, ó maldita!

quebrado fôra o elo! sofrimento acarretamos!

para quê, conhecimento, obter-se

se contra Deus rebelamo-nos?

VOZ OCULTA (NARRADOR)

Ai eterna rebeldia! ai mais certa desavença!

ai que a alma faz-se enferma, se adoece e fenece!

longe de seu Criador, a si mesma se entristece!

cega encontra-se, em seu caminhar, perdida!

eis que apenas se enfraquece, tão somente se enfraquece!

ai completa assolação! ai total desolação!

no crescente orgulho vai, em vaidades sempre cai!

ai mal! ai mal! ai torrente abismal!

a galope, põe-se em fuga este ser tão racional!

no entanto, não mais finda o intenso desespêro,

pois que nasce a esperança de perdão tão mais certeiro

para o homem o qual trilha o caminho forasteiro!

ai mal! ai mal! ai torrente abismal!

III

"AI DE MIM! AI DE MIM! MALDITO CAIM!"

CAIM

Ai que o mal me vem à mente

e domina-me de forma premente,

da rejeição a qual sofri, decorrente!

mas ai que sou Caim, de meus pais, o primogênito!

ao mundo eu vim, mas então,

eis que eclodiu Abel, de sangue, meu irmão,

de alma, meu inimigo, este, do qual,

o ódio suscita-me, ai mais amargo fel!

aceitou Deus a oferta de Abel

e, a oferta de Caim, eis que rejeitou!

Abel, Abel, o que de melhor possui

o qual venha, pois, a me superar?

sou eu o primogênito e vem você me desbancar?

ai que não suporto! de mim, assenhoreia-se

a ira como, a paz, desfruta o pacificador!

ai mais angustiante e irreparável dor!

não mais suporto e ao mal, então, me porto!

Abel, Abel, por que veio a nascer?

para que pudesse eu sofrer

e, por fim, o mal invocar para,

vazão, aos meus propósitos, eu dar?

ABEL

Chamou-me, irmão? de mim, algo deseja?

CAIM

Desejo o melhor para nós:

venha, caminhemos e proseemos! vamos ao campo a passear?

ABEL

Ó sim, irmão! razão não há para seu convite eu recusar!

CAIM

Pois caminhemos, então!

ABEL

Sim, meu irmão! assim vamos!

mas vejo que logo aproxima-se o campo!

sobre o que vamos prosear?

CAIM (tirando de dentro de suas vestes um pedaço de madeira extremamente pontiagudo e para Abel apontando-o)

Sobre quase nada!

pois incita-me o ódio e devo rapidamente agir!

ABEL

Ó Caim, meu irmão, deseja atacar-me?

que ódio é este o qual, assim, incita-o?

nutre-o por mim, Caim? é isto?

CAIM (ferindo o estômago de Abel com a madeira perfurante)

Cale-se, Abel! cale-se, maldito!

não apercebe-se mesmo do que fez?

ABEL (ao chão, caído e ferido)

Ai que o mal eu não lhe fiz! por que feriu-me, Caim?

que ódio é este o qual, por mim, nutre?

(Caim pula sobre Abel e com seu irmão luta, ferindo-lhe certeiramente o coração e, assim, fazendo com que Abel, em agonizante e derradeiro grito, venha expirar, portanto, falecendo)

ah...!!!

Ainda era dia, vespertinas horas onde, repentinamente, apagou-se a luz solar e, em trevas, viu-se Caim.

VOZ OCULTA (DEUS, O SENHOR E CRIADOR)

Ó Caim, responda a Mim, seu Criador:

Abel, irmão seu, onde encontra-se?

CAIM

Não sei, ó Senhor Deus!

por meu irmão, o responsável, eu sou?

VOZ OCULTA (DEUS, O SENHOR E CRIADOR)

Ai Caim, Caim!

pois antes falei-lhe Eu, advertindo-o:

"furioso está por quê? seu rosto transtornou-se por quê?

aceito o não será se o bem fizer? porém,

se o não fizer, à porta, que ameaça-o o pecado,

saiba! conquistá-lo, deseja ele, contudo,

dominá-lo deve você!"

o que fez você? ouça, ó Caim!

clamando está, da terra, o sangue de seu irmão!

agora, pela terra, a qual, para receber de sua mão

o sangue de seu irmão,

a boca abriu, amaldiçoado é você!

ai que, quando você, a terra, cultivar,

da força sua, esta não mais dar-lhe-á!

ó que, pelo mundo, um errante fugitivo, você será!

CAIM

Ai! maior do que suportar posso, faz-se o castigo meu!

dessa terra, expulsa-me hoje e, da Sua face,

terei que esconder-me! pelo mundo, errante,

um fugitivo serei e, pois, matar-me-á

qualquer um o qual encontrar-me!

VOZ OCULTA (DEUS, O SENHOR E CRIADOR)

Assim o não será:

a vingança, sete vezes, sofrerá se, Caim, alguém matar!

CAIM

Ai que da presença do Senhor Deus afasto-me!

coloca-me Deus um sinal no peito

para que ninguém o qual venha encontrar-me

possa, então, matar-me! mas ai

que eterna faz-se a minha morte! de Deus, apartado,

em toda sua completude, domina-me a morte!

sim, de Deus, afastado, ai que morto encontro-me!

ai de mim! ai de mim! para onde vou, ó desamparo?

o que farei se o mal causei e, então, pequei?

do que valeu-me o intenso ódio?

ai de mim! ai de mim!

conquanto exista a fulgurante e resplandecente luz solar,

ai que vejo-me tão somente na mais profunda e trevosa escuridão!

dói-me o peito! dói-me a alma!

angustia-me o meu próprio ser!

se no peito o sinal impede minha morte,

em minh'alma, o sinal o qual encontro,

faz-se mesmo crucial, uma marca, uma chaga

a qual faz-se irreparável!

não apaga-se, não destrói-se, nunca vai aniquilar-se!

desejo a fuga, mas para onde se,

de mim mesmo, ai que, fugir, não o posso?

maldito covarde o qual sou!

homicida do próprio sangue fraternal!

Deus meu, Deus meu!

mas o que digo? o que profiro?

blasfemo, agora, se assim, a Deus, invoco!

maldito Caim! infame e desgraçado!

ai de mim! ai de mim!

IV

"AI ! AI! AI! Ó ETERNOS, INSANOS AIS!"

VOZ OCULTA (NARRADOR)

Ai mal! ai terror! ai homem pecador! ai! ai! ai!

quantos ais, enfim, o são? tantos quantos se fizerem,

do humano coração, todos, filhos mais legítimos,

genuínos rebentos da mais irreversível perversidade,

toda ela, em constante ação! pois, ai!

na terra, quando a multiplicar-se,

começaram os homens, ó vaidosa raça!

ai tão humana humanidade! ó que,

finito, tornou-se o homem! para sempre,

de Deus, o Espírito, com a humana criatura,

não mais contenderia! ai perversidade humana

a qual, na terra, aumentara! abundara e transbordara!

ai! ai! ai! ó eternos, insanos ais!

ai Supremo, ai Soberano Senhor!

ai males! ai atos de destruição!

de Deus, cortou-Lhe o coração! ai! ai, ai!

destruído fôra o homem nesta sua primeira morte,

ó de Deus, a mais completa ação!

humanidade e desumanidade,

todos, todos, destruídos, aniquilados, desaparecidos!

mas ó que a Noé, benevolência, Deus mostrou!

em justiça e integridade, ó homem Noé,

com Deus, então, andava!

mas ai corrompida humanidade!

violência! violência! eis a morte, o homicídio!

eis o fim com o Dilúvio!

destruição! destruição! ai pecado original!

ai martírio e sofrimento! ai angústia e grande dor!

assolação! assolação! desesperada condição!

ai! ai! ai! quantos ais, enfim, o são?

tantos quantos se fizerem, do humano coração,

todos, filhos e rebentos da mais certa perversão!

ai! ai! ai! quantos ais, precisos são?

ai! ai! ai! infinita condição!

o Dilúvio, pois, findou e, então, para Si mesmo,

o Altíssimo declarou que não mais, ó que não mais,

por conta do humano ser, a terra, amaldiçoaria,

ó de Deus, a palavra! ai humano coração!

desde sua tenra idade, faz-se o homem, inclinado

para o mal, inteiramente! ai que nunca mais

o Senhor destruiria os vivos seres todos

como, então, Ele o fizera! ó que, enquanto

a terra durar, plantio e colheita, frio e calor,

verão e inverno, dia e noite jamais cessarão!

e uma aliança estabelece Deus com o homem:

ó que pelas águas de um dilúvio

nenhuma forma de vida nunca mais ceifar-se-ia!

para a terra, destruir, dilúvio nunca mais haveria!

ó divino arco-íris! ó sinal da aliança,

o arco de Deus, nas nuvens, colocado!

ó Deus e Senhor, o arco-íris aparecendo,

eis que, de Sua aliança, lembrar-Se-á!

ó eterna aliança

entre Deus e todos os seres vivos de todas

as espécies os quais na terra vivem!

ó arco-íris, eterno sinal de Deus!

mas ai humano ser, da vaidade, senhor!

não aparta-se da dor, esta faz-se o seu penhor!

eis ó torre de Babel, confusão numa só língua,

ai humana condição! ai gravíssima situação!

o humano coração, corrompido e pervertido,

geração após geração!

V

"AI SODOMA! AI GOMORRA! AI LASCÍVIA! AI PERVERSÃO!"

VOZ OCULTA (NARRADOR)

Ai homens de Sodoma e Gomorra!

pelos seus próprios desejos carnais corrompidos,

eis que foram, por conseguinte, destruídos!

não entendem, não percebem, não compreendem,

muito menos, a Deus, glorificarem,

jamais aprendem e nunca apreendem,

vez glorificarem a si mesmos tão somente!

consigo levam, à sepultura descendo,

à úmida e escura cova, mãe da eterna solidão,

o obstinado coração o qual não vê, não ouve, não fala

além de seus próprio sentidos e de suas próprias sensações,

todos em ação, em toda a completude,

na mesmíssima condição, com a mesma atitude,

ai obstinação muito maior do que a de um bravo cão!

ai insano coração! empedernido e sofrido!

LÓ (rosto em terra, prostrando-se)

Ó por favor, meus senhores, do servo seu,

à moradia, acompanhem-me! dessa forma,

ó que poderão os pés lavar, a noite, pois, passar

e, então, pela manhã, prosseguimento

ao seu caminho, assim, dar!

ANJO I

Não há porque incomodar-se, ó gentil homem!

ANJO II

Passaremos a noite na praça! não preocupe-se!

Ó que, necessário, não faz-se isto!

ó não, senhores, de forma alguma! de maneira nenhuma

senão que eu insisto-lhes: faz-se imenso prazer

recebê-los em minha moradia! convido-os

com o mais sincero desejo, como o grato hospedeiro

pela chegada de ilustres hóspedes! venham! venham!

adentrem meu lar, acomodem-se, conosco

venham jantar e descansem para a manhã vindoura!

são-me, de gloriosa honra, meus convidados!

por favor, venham! de maneira alguma

devem passar a noite ao desabrigo de meu teto,

sob o relento da noite adentro! venham! entrem!

ofereço-lhes minha casa com grande satisfação!

façam dela como se, dos senhores, ela fosse!

ANJO II

Com tamanha insistência, aceitamos, então,

seu gentil convite: com sua pessoa, iremos!

ANJO I

Mister não fazia-se a fim de preocupar-se,

no entanto, agradecidos ficamos

por conta de sua hospitalidade!

Então venham, por favor, e sintam-se à vontade!

agradecido fico eu com suas ilustres presenças,

ó senhores! honram-me com elas!

portanto, venham, entrem!

VOZ OCULTA (NARRADOR)

Mas ai que o mal, ao coração do homem, intrínseco já era!

ai povo de Sodoma! ai povo de Gomorra!

destruição! destruição! ai lascívia! ai perversão!

potestades demoníacas! rebentos da mais certa perdição!

ai homens de toda parte de Sodoma!

às suas práticas carnais, sempre se entregaram!

ai paixões desenfreadas!

ai que, assim, uns pelos outros se inflamaram!

ai reprovável disposição mental!

ai que, de Deus, o conhecimento, desprezaram!

plenos de toda sorte de vaidade e ganância!

luxúria e depravação! engano e malícia!

ódios e rivalidades! homicídios e maldades!

invejosos, bisbilhoteiros, caluniadores, insolentes!

arrogantes e presunçosos! rebeldes e orgulhosos!

de Deus, pois, inimigos, e das trevas, fiéis amigos!

insensatos e desleais! abomináveis e implacáveis!

ai pecaminosos desejos do humano coração!

ai que se entregaram a mais plena degradação!

estes, homens de toda parte da cidade de Sodoma,

ai que dos mais jovens aos mais velhos,

todos eles, todos eles,

a casa de Ló cercaram e por Ló chamaram!

CÔRO MASCULINO (OS HOMENS SODOMITAS)

Ó Ló, onde estão?

onde estão os homens que vieram à sua casa?

traga-os para fora! traga-os para fora!

traga-os para nós! desejamo-los avidamente!

traga-os para nós! traga-os para nós!

desejamo-los ardentemente!

que tenhamos relações com eles!

traga-os para nós! traga-os para nós!

LÓ (de casa saindo e fechando a porta atrás de si)

Ó amigos meus, não!

tal perversidade, não a façam!

vejam! de duas moças, inda virgens, sou pai!

o que, com elas, intentarem fazer, ai!,

pois façam! até vocês trá-las-ei!

no entanto, a estes homens, nada façam!

encontram-se eles sob a proteção do meu teto!

CÔRO MASCULINO (OS HOMENS SODOMITAS)

Saia da frente, ó homem! saia da frente!

ninguém impedir-nos-á de satisfazermos os nossos desejos!

ai! saia da frente! ó repentina escuridão!

nada vemos! nada enxergamos! ai que

a porta de entrada da casa de Ló não a vemos!

tateamos ao ar livre e preso estamos!

aprisionados pela mais plena cegueira!

ai escuridão! ai escuridão!

Ó que, repentinamente, todos parecem ter se tornado cegos!

ANJO I

De completa cegueira, feridos foram todos!

ANJO II

Ó que, mais alguém na cidade,

genros, filhos ou filhas, ou outro parente qualquer,

tem você? este lugar, porque, para o destruir, estamos,

daqui, tire-os, todos!

ai que, tantas são, contra este povo,

as acusações, ao Senhor, feitas, que, a cidade,

para a destruir, enviou-nos Ele!

VOZ OCULTA (NARRADOR)

Ai assolação! ai destruição! ai devastação!

ai que os futuros genros de Ló, pois, riram!

ai que pensaram verdade não ser!

eis que os anjos, com Ló insistiram e,

para não serem, Ló e sua família, mortos

quando castigada fosse a cidade,

ai que, apressadamente, abandoná-la deveriam!

mas eis que, então, Ló hesitou! ó anjos do Senhor!

à força, tiraram Ló, mulher e filhas da cidade prostituída,

ai Sodoma amaldiçoada!

ó Senhor, Deus Soberano, o Qual,

por Ló e sua família, grande misericórdia demonstrou!

ai que, pois, à vida, por amor, fugir, deveriam!

para trás, olhar não poderiam!

muito menos parar, os não permitiram!

fujam! fujam! e para trás não olhem!

fujam! fujam! e assim, vida escolhem!

ó Ló! reconheceu a benevolência e o favor de Deus!

ó que Deus foi-lhe bondoso, a vida lhe poupando!

tal calamidade sobre eles não caíra!

salvos ficaram! pelo mal não passaram!

mas ai que sobre Sodoma e Gomorra

o próprio Senhor fez chover do céu fogo e enxofre!

ai Sodoma! ai Gomorra!

com todos os habitantes e a vegetação,

completamente destruídas!

mais ai, mulher de Ló! para trás olhou,

e numa coluna de sal se transformou!

eis que na vindoura manhã, para Sodoma e Gomorra

olhou Abraão! ai que, como de uma fornalha,

a fumaça, da terra subindo, a densa fumaça,

avistou Abraão! ai catástrofe!

ai arrasadas cidades da planície, Sodoma e Gomorra!

ai que a história da humanidade fôra pautada

muitíssimo mais pelo mal do que pelo bem!

não há paz! somente guerras!

não há amor! somente desamor!

ai infindo mal no qual seu coração,

angustiada e desgraçadamente, jaz!

ai! ai! eternos e aterrorizantes ais!