AMANDA VI - DESPEDIDA IX - PARTE 1

I – DESPEDIDA

Como tinha planejado, Marco foi até a agência do banco Itaú, onde Teo trabalhava, retirou de sua conta apenas o dinheiro com o qual tinha pagado seu apartamento e depositou na conta do pai, ficando assim mais tranquilo com sua consciência, correndo o risco de brigar de novo com o pai.

Durante o tempo que esteve na agência, Marco percebeu que Teo estava diferente. O rapaz se portava diferente por estar em seu ambiente de trabalho, claro, mas nem tanto como naquele dia. Seu tom de voz estava mais grave e contido. Por isso, Marco sentiu vontade de falar com ele, mas não poderia fazer isso dentro do banco, já que o rapaz estava em horário de trabalho. Esperou pelo amigo dentro do carro no estacionamento da agência, depois que ela fechou, e quando Teo o viu, estranhou, aproximou-se do Escort e perguntou:

- O que você está fazendo ainda aqui?

Marco nem saiu do carro e pediu, abrindo a porta do passageiro:

- Entra aí.

- Eu vou na casa da Cleo agora, Marco. Se não for agora vai ficar muito tarde pra voltar... Ela mora em Pirituba.

- Eu sei onde ela mora, qualquer coisa eu te levo lá.

- Eu estou de carro, cara.

- Teu Fusca não corre mais que o meu Escort. É só um minuto. Entra aí. Que saco!

Teo entrou no carro e, ao fechar a porta, ainda reclamou:

- Eu fico tão ferrado da minha vida quando você me joga a potência do seu carro na minha cara... Esse Fusca já te ajudou muito nessa sua vidinha besta, lembra?

- Claro que lembro. Não vou esquecer nunca, mas você provocou.

- O que você quer?

- Estava esperando pra te agradecer. Obrigado, por tudo, cara. Estou me sentindo mais leve.

- Seu pai vai te matar, mas se você está feliz com isso... foi um prazer te ajudar...

- Não, ele não vai fazer isso. Depois eu me entendo com ele. Agora desembucha: o que você tem?

- Eu?... Nada...

- Como nada? Teo, se eu não te conhecesse há vinte anos...

- Você não me conhece há vinte anos...

- Não, um pouquinho mais, mas isso não vem ao caso. Você não está normal, não está bem e eu vejo isso estampado na sua cara. Nos seus olhos. Você está com cara de quem ou não dormiu direito ou chorou pra caramba ontem. Aconteceu alguma coisa? A Cleo não foi pra faculdade hoje. Vocês... brigaram?

- Não... Ela... está doente...

- Doente? Alguma coisa com o bebê?

Teo ficou em silêncio e apoiou o braço na janela do carro, olhando para a rua.

- Fala, cara! O que está pegando? – insistiu Marco.

- A Cleo... perdeu o bebê...

Marco olhou para o amigo rapidamente e por um instante não soube o que dizer. Sua garganta travou.

- Perdeu...? Como?

Teo passou a mão pelo rosto e disse:

- Nem ela sabe direito. Quando eu cheguei ontem na casa dela, ela já estava no hospital. Não deu nem tempo de avisar pra mim. Foi... aborto espontâneo. Palavras do médico.

- Sinto muito, cara. Sinto mesmo...

Teo sorriu, mesmo com lágrimas nos olhos que ele fazia o possível para enxugar.

- De alguma forma... quando eu disse pra você que não queria ter filhos lá no seu apartamento em 89, eu estava prevendo que ia passar por alguma coisa assim. A sensação não é legal, cara. Dói muito. Eu já estava começando a sonhar com... meu filho... ou filha. Agora eu não sei mesmo se eu posso... sonhar com isso...

Marco colocou a mão no ombro do amigo e o puxou para si, abraçando-o forte.

- Não fala besteira, Teo... Não diz isso. Não começa com isso de novo. Não era pra ser dessa vez, mas... você vai ser casar com a Cleo em dezembro e aí vocês vão ter outro ou outros filhos, eu tenho certeza.

- Nem tivemos tempo de saber se era menino ou menina, Marco. Se fosse menino... ia ser Arthur... e se fosse menina... ia ser Guinevere... escolha dela.

- Eles ainda virão, amigo. Isso vai passar. Essa dor vai passar. Sempre passa, você disse isso pra mim uma vez.

Teo chorou muito recostado no ombro dele, mas logo se afastou e enxugou o rosto.

- Eu vou passar na casa dela agora. Vou ver como ela está.

- Quer que eu vá com você?

- Não... Ela também não está muito a fim de ver ninguém.

- Eu entendo, mas eu não preciso nem entrar na casa dela. Só quero te levar até lá.

- Não precisa... Minha tartaruga ainda dá pro gasto, melhor do que seu supersônico aqui, pode deixar.

- Diz pra ela que eu mandei um beijo grande e diz também que... que ela tenha fé. A gente vai rezar por ela... por vocês.

- Obrigado...

- Olha eu... vou viajar pro Rio amanhã, mas... vou voltar em três dias e eu passo na casa dela pra vê-la ou na sua... Tá bom?

- Boa sorte no Rio, Teo disse, sorrindo. – Manda ver. Você vai explodir lá, tenho certeza.

- Obrigado.

- Tchau, Imperador...

- Tchau, Teo. Te amo, irmão. Força.

Teo sorriu triste e bateu em seu ombro, saindo do Escort e indo para o Fusca vermelho.

DESPEDIDA

PARTE I

UM ANO NOVO DE REALIZAÇÕES A TODOS!

FÉ E OTIMISMO SEMPRE!

OBRIGADA! FELIZ 2019!

Velucy
Enviado por Velucy em 28/12/2018
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