O diário de Ana Capítulo IX

Carlos começou a comparar a vida de Ana com a sua própria vida, percebeu como ambos sofreram com um pai agressivo, mas tinham uma mãe amorosa e também comparou como eram distraídos.

-Que coincidência, pensou ele. Com certeza mera coincidência.

Carlos não era muito de acreditar nas coisas, sua mãe era religiosa e seu pai era ateu, por motivos esses que ele desconhece.

Carlos sentia muita falta de seus pais apesar de tudo. Dava para aliviar a saudade com seu irmão Lucas no qual ele fielmente mantinha contato.

Os pais de Carlos morreram num trágico acidente. No dia todos estavam no carro, a mãe , o pai, o irmão e ele próprio, iam visitar o pai de Estêvão que estava muito doente.

Até que eles nunca chegaram, o pai de Carlos perdeu a direção e eles desceram barranco abaixo, Carlos não se lembra de nada, o impacto foi muito forte, ele e o irmão ficaram entre a vida e a morte, porém sobreviveram, seus pais morreram na hora. Carlos estava com dezesseis anos e seu irmão com oito, ambos perderam os pais precossemente. Os avós maternos ficaram com a guarda dos netos. Carlos e principalmente Lucas sofreram muito, e os dois se uniram ainda mais.

O tempo foi passando e Carlos completou o ensino regular, estava confuso se iria cursar uma faculdade ou não, surpreendentemente sua avó, dona Leda, mãe de Estêvão quis se aproximar mais dos netos, e se dispôs a arcar com a faculdade do neto, bem como a estadia e os custos do curso.

Carlos ficou surpreso sim com esta aproximação, pois seus avós paternos eram muito distantes, e mesmo depois que Estêvão morreu e também seu marido um mês depois, a avó de Carlos ainda se mostrava ausente.

Foi quando numa noite chuvosa e de trovoada, dona Leda apertou a campainha da casa dos avós de Carlos, todos ficaram pensando sobre quem seria pelas tantas da noite?

Era dona Leda, que ao entrar na casa se atirou no chão chorando e implorando o perdão dos netos, a outra avó de Carlos por sua vez deu sinal aos garotos que fossem abraça-la, pois seu choro era forte e persistente como se quizesse por muitas coisas para fora.

O choro dela só cessou quando ouviu uma voz dizendo:

-Vovó, não fique assim, e não te perdoamos porque não há o que ser perdoado, compreendemos que a senhora passou por muita coisa em tão pouco tempo, e eu fiquei esperando esse momento de enfim poder abraça-la.

Nesse momento a avó de Carlos começou a chorar novamente, porém dessa vez emanou um choro silencioso e sereno, tentanto entender como aquele que agora rapaz, disse a ela palavras tão lindas e verdadeiras, sabia que ele sofreu muito nas mãos de Estêvão, e que quando criança Carlos ia visitar seus avós paternos eles eram sim muito distantes, foi quando ela perguntou:

-Por que isso?

Carlos olhou fixo em seus olhos e respondeu:

-Todo mundo precisa de uma chance para mudar, eu confesso que senti muita falta da senhora e do vovô por todos esses anos, e não entendia o porquê de tanto afastamento, mas tudo isso já passou, o que importa é que a senhora está aqui agora.

Naquele noite todos foram dormir maravilhados com a atitude de Carlos, pois poderia tratar dona Leda de uma outra forma, ou talvez ignora-la o que seria até compreensível, mas não, abraçou-a e beijou-a, todos perceberam como Carlos havia se tornado um rapaz de um coração grandioso.

O irmão de Carlos não quis se manifestar, mas no final consentil tudo que ele havia dito e também abraçou dona Leda.

Continua...

Patrícia Onofre
Enviado por Patrícia Onofre em 30/12/2018
Reeditado em 22/10/2019
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