"LIVRE ARBÍTRIO 02"
 


     Sentou-se num baú de guardar roupas e ficou ali, chorou e se calou muitas vezes, até que seu pai chegou. Tinha recebido a noticia de que o filho havia sido mordido por uma cobra dada por um companheiro que estava trabalhando também no local e fora procurá-lo. Bateu na porta e ninguém atendeu, chamou o filho e ouviu um lamento, estranhou e ainda pensou que talvez fosse devido ao ferimento causado pelo réptil, avisou, estou entrando! Chegou à porta improvisada e a abriu, viu a cena e o alcance da tragédia que se abateu sobre seu filho, chorou e choraram juntos.


     O senhor Firmino não sabia como consolar o filho, mas sentia que tinha que ser ele a tomar as decisões, a custo tirou o filho dali, fez com  que ele deixasse a espingarda no local e andou em direção da capoeira, quando chegaram à borda da mata o pai lhe disse: vá para a caverna no alto da floresta e esconda-se lá, ainda hoje irei levar alimentos para você, terá que passar três dias antes de se entregar a policia para fugir ao flagrante. Viu o filho se afastar cabisbaixo e voltou á cena do crime, fechou as portas e janelas da casa e se foi.


     O delegado veio com seis soldados, à cidade de Jenipapo era próximo e o próprio Firmino fora no seu cavalo até lá dar o aviso. Acompanhou os policiais até a choupana e abriu às portas. A movimentação fez os curiosos se ajuntarem perto da casa e em pouco tempo mais de cem pessoas, entre parentes e amigos estavam no local, foi uma comoção geral. Todos achavam que era uma pena a tragédia, mas o machismo fazia com que dessem razão ao assassino que lavara sua honra com o sangue dos traidores.


     Até os pais do garoto, mesmo chorando à morte do filho disseram que nada fariam com José, o mesmo dizendo o pai de Jesuína, a mãe ficou calada, pois se falasse qualquer coisa ainda era capaz de ser acusada de não ter sabido criar a filha. O delegado fez as investigações de praxe e liberou os corpos para o velório, exigindo de Firmino que estava a espera deles liberarem os corpos. Estava num canto do terreiro e quase em tom de cumplicidade, falou baixo. Diga a seu filho para permanecer fora das vistas das pessoas até o final do flagrante, mas fique sossegado, não vamos procurá-lo.


     Continua na próxima sexta feira, conto com os amigos mais uma vez para acompanhar este relato de ficção e se encontrarem qualquer nome ou fato parecido, será mera coincidência.


 
Por quê?

Esta é uma revolta dura incontrolável
Que faz o coração e a alma sangrar,
Vendo todo seu doce porvir sonhado,
Como castelo de areia a desmoronar.

Sentindo aquela vergonha humilhante
Mudando o sentir de bondade e amor,
Transformando-o num monstro de ódio,
Jogando-o no mundo sórdido de terror.

E volta-se para o Deus e lhe pergunta,
Você ainda existe e quer que eu creia?
Se ainda vive, por que zomba do povo?
Eu, só posso pensar que você nos odeia.

Pois aceitou que aquele padre maldito,
Abençoasse em seu nome a minha sina
Realizando o meu sonho, o mais bonito.
Que era me casar com a bela Jesuína.

Depois de me dar a felicidade completa,
Afaga-me na lama do meu próprio pranto
Chorando lágrimas com gosto de sangue,
Por matar dois entes que eu amava tanto.

Não meu Deus, pode ser que ainda exista...
Ou se aposentou e agora vives longe a sós,
Quem sabe após a criação e toda a glória,
Foi criar novo universo e se esqueceu de nós?

Trovador
Trovador das Alterosas
Enviado por Trovador das Alterosas em 16/05/2019
Reeditado em 17/05/2019
Código do texto: T6649022
Classificação de conteúdo: seguro
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