QUEBRANDO BARREIRAS - RESSURREIÇÃO - PARTE 20

I - RESSURREIÇÃO

Someone is in trouble, somewhere at night…

(Alguém está com problemas em algum lugar esta noite...)

And the wind gets away every yesterday news

(E o vento levou para longe todas as notícias de ontem)

“Better off dead” – do álbum gravado em 1975

Quando chegou em casa em Los Angeles, Bernie ainda não havia tirado da cabeça, a impressão que a conversa que tinha tido com Elton havia deixado em sua mente.

Entrou no apartamento, fechou a porta e encostou-se nela, olhando em volta pensativo.

Começou a ouvir música, vindo da sala de estar e ficou intrigado. Não havia deixado ninguém em casa. Pensou o pior: ladrão!? Mas nenhum ladrão seria sofisticado o bastante para tentar um assalto e ainda ter tempo para ouvir música!...

Atravessou o hall devagar e arriscou olhar para a sala. Havia uma linda morena, vestida num vestido preto muito colado no corpo esguio, sentada no tapete junto ao aparelho de som. Estava descalça e mostrava as pernas sem nenhum constrangimento.

Ele entrou na sala e ficou em pé, olhando para ela por um momento e falou:

- Invasão em domicílio dá cadeia, sabia?

Ela olhou para ele tranquilamente e sorriu.

- Oi!

Era Toni Russo, a modelo que Bernie havia conhecido na noite do lançamento do livro de Elton no ano anterior. Ela já havia se tornado alguém especial na vida do letrista. Primeiro, amiga, depois namorada, na nova fase da vida dele. A modelo havia conseguido colocar um pouco de doçura na vida solitária de Bernie, que já havia tentado muitos caminhos, alguns até desastrosos, que passaram das bebidas até as drogas, sem obter sucesso em nenhum deles.

Toni Russo se envolvera na vida dele com graça, sem pressa, já que Bernie ultimamente não estava com muita pressa de viver. Ele já tinha feito isso a vida inteira, em seus vinte e oito anos. Agora ele queria só viver...

- Oi! - ele disse, tirado o casaco de couro, jogando-o em um canto qualquer.

Sentou-se ao lado dela e a beijou, colocando a mão sobre sua perna.

- Sabia que faz uma semana que você não me liga? - perguntou Toni.

- Uma semana?

- E três horas...

- Tem certeza? - Bernie perguntou, fingindo levar a sério.

- Absoluta! - ela declarou, puxando-o pela gola e beijando-o novamente.

- E eu tenho que dizer onde estava, com quem e o que estava fazendo?

- Não... ela respondeu, encostando a cabeça no ombro dele e abraçando-o.

- Não? - ele quis saber, sorrindo, passando os braços em volta dela.

- Eu não sou possessiva...

- Que pena! - ele lamentou, deitando-a no tapete, beijando-a de novo.

- Está cansado?

- Não... Eu estive na casa do Elton, hoje... disse ele, erguendo-se e sentando no sofá, apanhando o controle remoto da TV.

- Verdade!? - exclamou ela, erguendo-se também, mas continuando sentada no chão. - E como ele está?

- Exatamente o que os jornais dizem... Mudado. É estranho vê-lo sem os óculos... Eram a marca registrada do Reg... Ele até que ficou muito bonito nesse visual novo.

- Eu acho que ele ficou um gatinho! - falou Toni, com um jeitinho engraçado.

- Mas está com cara de doido, assustado... Os olhos dele eram doces atrás dos óculos...

- Deve ser impressão sua.

Bernie continuou olhando para TV, como se não a tivesse ouvido. Estava longe, pensando na conversa tida com Elton.

- Mexeu com você, não foi? - ela perguntou, encostando o rosto no braço, apoiado na perna dele.

Ele fechou os olhos e jogou a cabeça para trás, encostando-se no sofá.

- Quer falar sobre isso? - Toni arriscou.

- Não sei...

- Se eu já conheço alguma coisa de você, não vai ficar bem, antes de colocar pra fora o que está engasgado aí dentro, falou ela, apontado para o peito dele. - Eu sei mais ou menos o que o fenômeno John/Taupin fez na sua cabeça... e no seu coração...

- Não sei se vale a pena... Isso não é mais problema meu... mas mesmo assim... eu sinto que alguma coisa está acontecendo...

Ele ergueu-se e foi até o bar, pegando um copo de vodca.

- É normal você estar mexido. Ele foi seu parceiro, foi seu melhor amigo!

- Ele é meu melhor amigo. Ele é quase meu irmão!...

Toni sorriu.

- É bonito te ouvir falando assim. Você ter ido à casa dele quer dizer que você está superando...

- Superar não é esquecer, Toni... Vê-lo de novo, depois de tanto tempo, me deu a noção exata do que aquele período fez com ele. Está... abatido, cansado, parece carregar o mundo na costas... como há dez anos. É 67 se metendo na vida dele de novo... Só que, para Reg Dwight, o sofrimento era algo que ele carregava com ele. Reg era um cara cheio de sonhos, mas acostumado a ver que momentos felizes vinham tão rápido quanto iam embora. Depois, o sofrimento começou a escassear, quando ele se tornou Elton John, e demorou a voltar... e... ele se empolgou, gostou da droga, subiu alto, divertiu muita gente, enriqueceu muita gente e a si mesmo, lambuzou-se de uma felicidade... falsa... e quando lhe tiraram a estrada de tijolos amarelos debaixo dos pés... isso acabou por colocar Elton John no chão...

Bernie bebeu todo o conteúdo do copo e ficou parado, olhando para ele.

- Se ele te pedisse pra voltar a ser parceiro dele, você voltaria? - Toni perguntou.

- Ele pediu, falou Bernie.

- E você? - ela quis saber, curiosa.

RESSURREIÇÃO – PARTE 20

CONTINUA...

OBRIGADA E BOM DIA!