Q.B. - DOIS QUARTOS NO FIM DO MUNDO - PARTE 7

III - DOIS QUARTOS NO FIM DO MUNDO

Don’t judge us by distance or the difference between us…

(Não nos julgue a distância, ou a diferença entre nós...)

…try to look at it with an open mind...

(...tente olhar para isso com a mente aberta...)

…because where there is one room... you always find another…

(...pois onde há um quarto... você sempre encontrará outro...)

Os planos de Bernie haviam-se tornado outros, bem diferentes de seus anteriores. O motivo de ter recusado o convite de Elton a continuar sendo seu letrista, no final do ano anterior, era por querer fazer coisas diferentes do seu usual.

Ele sabia que era um letrista de prestígio dos mais respeitados na Inglaterra e na América. Que tinha valor como escritor e até como produtor, mas queria tentar outro lado seu: seu valor como cantor também.

Esse era seu mais recente projeto, mas teria que ser realizado por ele, sem a presença de Elton como parceiro. Deveria ser um trabalho independente com, no mínimo, a parceria de alguém que lhe pudesse dar música às letras, já que ele não era mesmo capaz de fazê-las sozinho, apesar de todo seu conhecimento musical.

A oportunidade finalmente veio quando, depois de separar-se de Elton John, e recusar parcerias famosas como as de Peter Frampton e Boz Scaggs, ele conheceu Dennis Tufano, líder vocalista do grupo Buckinghams, uma banda de Chicago. Tudo começou em 77, com uma amizade informal.

Dennis tinha o mesmo gosto pelo estilo de vida que Bernie tinha, e começaram a curtir música, juntos. Bernie foi a alguns shows dos Buckinghams e gostou de seu estilo até que um dia, o cantor leu algumas poesias que Bernie tinha escrito no período em que tinha se afastado de Elton e pediu para musicá-las.

Bernie não achou que as letras fossem muito comercias para serem gravadas, pois eram grandes textos que não tinham nada de lírico ou fácil de decorar e as gravadoras não gostavam de canções muito longas.

O letrista sabia como Elton tinha sofrido para gravar canções como “Indian Sunset”, em 72, “Ticking” em 74 e “Philadelphia Freedom” em 75 porque eram muito longas musicalmente e ele conhecia a política das gravadoras. Mas, como na época, não estava muito a fim de seguir a nenhuma norma ou lei da música, concordou, e Dennis começou a trabalhar com suas letras.

Era ele que batia na porta.

- Oba! Está ocupado? - perguntou Dennis, quando ele abriu a porta.

- Não, entra! Que bom que você veio!

- Por quê?

- Vem comigo até o estúdio.

Os dois e Vodca entraram no estúdio. O cachorro de deitou no tapete e sossegou, olhando para eles.

- Vim logo que você ligou. Cara, eu estou viajando nas canções que fiz pra você. Estão muito legais!

Bernie pegou sobre a escrivaninha uma folha de papel e entregou a ele.

- O que é isso? - perguntou Dennis.

- A lista dos caras que confirmaram que vão tocar com a gente.

- Uau! Que bárbaro! - disse Dennis, abrindo o papel, indo sentar-se num banquinho, ao lado da escrivaninha.

- Dee Murray! Ele não está com o Elton?

- Quase... Não tem nada muito certo na vida do Elton, por enquanto. Dee foi... dispensado por ele em 75 e está mais ou menos disponível.

- Ahn, sei... Marty Grebb... David Foster, cara! Sou doido pelo trabalho desse cara! Kenny Passarelli... mas... ele não é o... da sua ex?

- É, mas... Está tudo bem agora. A gente já se entendeu.

- Sério?

Bernie balançou a cabeça confirmando e ergueu as sobrancelhas. Dennis continuou lendo.

- Michael Boddecker... Legal, muito legal. Só ia te perguntar uma coisa... Eu acho suas letras muito intensas, bem escritas e inteligentes, mas...

- Mas...? - perguntou Bernie.

- Você não acha muito arriscado colocar sua vida exposta desse jeito pra todo mundo ler? “Approacching Armageddon” conta tua vida inteirinha, Bernie! Além de ser imensa! Ficou linda, mas é imensa!

Bernie sorriu e pegou a carteira em cima da escrivaninha para acender um cigarro. Depois falou:

- Eu não posso deixar esse material guardado na gaveta, Dennis. Eu tenho que exorcizar meus demônios de uma vez ou eu não vou conseguir viver minha vida, meu futuro!

- Eu entendo... É, amigo, se está disposto a isso... vamos lá! Estou aqui pra te ajudar.

- E você não sabe de nada ainda... disse Bernie, dando uma tragada no cigarro e sentando-se na cadeira diante da máquina de escrever.

Ficou batendo nas teclas a esmo e completou:

- Eu pretendo convidar Elton John pra cantar com a gente.

Dennis pigarreou e perguntou, surpreso:

- O quê?... Cantar junto com você?

- Não junto comigo... fazer backing...

- Você... não cheirou nada hoje, não, né?

Bernie apenas sorriu enigmático e balançou a cabeça, negando.

- Você está mesmo com raiva dele...

O letrista bateu numa tecla e ficou sério.

- Não é mais raiva, Dennis... Eu fui vê-lo em Woodside em dezembro passado... Entrei naquela casa... pela primeira vez em anos... e descobri que o que eu sinto ou senti por ele, foi tudo menos raiva... Mas eu quero ver se ele está crescendo mesmo... Se vai ter a humildade de cantar atrás de alguém que não é ninguém no mundo da música.

- Mas você não é ninguém...

- Sou, sim, Dennis. Ninguém conhece a voz de Bernie Taupin, cantando, só as palavras, na voz dele.

Dennis respirou fundo e ponderou:

- É... o risco é seu, meu caro. E se ele não aceitar?

Bernie deu outra tragada e deu de ombros.

- Então ele mereceu tudo que eu escrevi e vai merecer ouvir todo mundo cantar “Approacching Armageddon” bem alto em seus ouvidos.

- E “Love (The Barren Desert)”!

O letrista ergueu-se, como se acordando, e foi pegar o violão que estava sobre o sofá ali perto.

- Me surgiu na cabeça essa madrugada, uma melodia, mas eu quase não soube como fazer para retê-la. Eu fico maluco com isso!

- E porque não me liga?

- Parece tão idiota. Seria mais idiota ainda, eu acordar você às três horas da manhã pra dizer que estou inspirado...

- Não seria idiota, seria embaraçoso, mas tudo pelo bem da arte... Dennis falou, rindo.

Bernie pegou o gravador e o ligou.

- Eu gravei alguma coisa bem por cima. Vai ouvindo, enquanto eu tomo um banho. O Elton vem aqui hoje, disse ele, saindo.

- Genial! Tenho o direito de ficar nervoso? - brincou ele.

- Não! - gritou Bernie, subido as escadas.

Dennis sorriu e pegou o gravador, indo para perto do piano no salão do lado. Colocou o aparelho sobre ele e sentou-se, passando para o teclado o que a voz de Bernie lhe sugeria na canção, chamada “Venezuela”.

DOIS QUARTOS NO FIM DO MUNDO – PARTE 7

CONTINUA...

DEUS ABENÇOE A TODOS E NUNCA PERCA SUA FÉ!

OBRIGADA E BOM DIA!

Velucy
Enviado por Velucy em 03/08/2019
Reeditado em 06/08/2019
Código do texto: T6711230
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