LIBERTATEM - capítulo 04

Quem não sonha em atender a uma gata, que bate à porta e quer lhe conhecer?

Só que entre sonho e realidade há um abismo, e a coisa tinha sido complicada aqui.

Ela me olhava, sorria e disse que tínhamos muito que discutir.

- Isso está esquisito, garota.

- Não tema! Não vou lhe fazer nenhum mal.

Não era medo, senão desconfiança, mas deixei que dissesse o que bem entendesse.

Disse que já sabia bastante sobre meu passado e jeito de ser, e diante do assombro que demonstrei, explicou que enquanto me energizava aproveitou para vasculhar minha mente, em busca de informações. É claro que tal explicação teve um efeito explosivo, ao me colocar em situação fora de contexto. Tentei reagir ao que estava sendo dito, mas ela antecipava cada palavra que eu pretendia dizer, como se lesse meus pensamentos (o que, hoje sei, realmente aconteceu). Estava atordoado, mas queria ver até onde ia a coisa, porque minha intuição me dizia que a presença dela tinha relação com o desenho que encontrei e todas as pataquadas por que passara, nos últimos dias.

- Tudo bem, Thráfs . . .

- Thráfsma! É um nome grego. Significa fragmento.

- Tá! Vou chamá-la de Thráf, certo? Fragmento, é? Interessante.

- Está certo! Pode chamar-me como quiser.

- Sabe de meu passado, meu jeito, leu meu pensamento, mas ainda não disse porque está aqui, o que quer comigo e como chegou a mim.

- Tem razão! Nada disse sobre isso.

(Silêncio demorado)

- Então? Estou esperando. Quero respostas.

- Perdoe-me! Não entendi que queria explicações.

Disse que me procurou, sabendo dos problemas que enfrentei. Pretendia ter certeza sobre minhas intenções e evitar contratempos adicionais, instruindo-me sobre obstáculos que poderia encontrar ao pesquisar o desenho achado no livro. Não precisei perguntar como sabia do desenho, porque disse que tinha lido minha cabeça. Falou que LIBERDADE LIBERTATA era, inicialmente, iniciativa de estudiosos para contatar civilizações extraterrestres, mas se transformou em algo maior e secreto, envolvendo governos, militares, cientistas e outros.

- Cê acha que vou engulir isso?

- Pensa que estou mentindo?

- Sei lá! Só sei que minha cabeça estava bagunçada e você conseguiu piorar tudo.

- Peço que me desculpe. Como posso melhorar a situação?

- Apresente provas e detalhes do que contou.

- Vamos às provas, então! Ponha as mãos em meus ombros.

Fui com tudo, achando que ia me dar bem com aquele corpão e, surpreendentemente, atravessei a menina, como se fosse somente imagem, bem nítida e consistente. A cara de espanto que fiz provocou-lhe riso, e tive de rir também, mas estava nervoso.

- Como já deve estar imaginando, sou visitante, mas não faço parte de nenhum dos grupos contatados. Estou há muito tempo por aqui, e aprendi sobre humanos. Ajudo outros visitantes recentes a contatar, seletivamente, seus conterrâneos.

- Seletivamente, por quê?

- Porque, majoritariamente, vocês são agressivos, gananciosos, falsos e perigosos.

- E você dá aulas a eles, falando mal da gente?

- Não! Só facilito acontecimentos e previno problemas.

- É tão complicado assim?

- Protegemos os visitantes, selecionando humanos e facilitando a comunicação. É o modo que encontramos de preservar iniciativas, transpondo barreiras com segurança. Meus iguais cultivam bastante a discrição extremada.

- E por que está se expondo a mim? Ainda não enguli toda essa conversa.

- Sem problema, Natan! Vamos agir, ao invés de tagarelar.

Isso foi a deixa para começar a reviravolta em minha vida.

nuno andrada
Enviado por nuno andrada em 28/10/2019
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