A VERDADE MENTIROSA CAP 01 - PRIMEIRO CONTATO

- Pois não, seu guarda! Quer olhar os documentos do carro?

- Antes disso quero avisá-lo que não deve seguir por este caminho, que vai dar numa base militar, e é vedado a civis ou qualquer outra pessoa que não tenha autorização especial.

- Como esta aqui?

- Permita-me conferir a autenticidade. É o protocolo que devo seguir.

Mesmo tendo o documento em mãos, não acredita que alguém como eu, cabeludo, desalinhado, num carro velho, tenha autorização tão restrita. Volta acabrunhado, pede desculpa e me manda seguir. Eu mesmo quase não acredito que tenha encarado tal aventura.

- Tudo em ordem, cidadão! Desculpe a demora e pode prosseguir! Já o esperam na base.

Grande novidade! Detalharam-me até a quantidade de paradas para identificação a enfrentar, até estar lá dentro. Parece que faz um tempão que me contataram e convidaram a participar de algo fantástico, mas apesar de estar meio tonto, com tanta coisa espantosa, ainda sei que dia é hoje, que só estou nessa há uma semana, e que só entendi que não era apenas minha imaginação, quando a autorização apareceu no porta luvas do carro.

- Bom dia, Noah! Sou o tenente Matos. Vou acompanha-lo até a unidade breve de residência.

- Até que ponto me conhece, tenente? E até onde pode me esclarecer todo o mistério?

- Meu trabalho aqui é periférico, Noah. Cuido da segurança e funcionamento da base, mas não do núcleo interno de atividades. Só sei que você foi contatado através de um sistema que fui conhecer há poucas semanas, superficialmente, e vai trabalhar junto aos cientistas.

- O senhor é bem simplista, tenente. O contato aconteceu “dentro” de minha mente, como num sonho ou delírio, e por pouco não achei que estivesse enlouquecendo. Vim só por curiosidade, mas acho que me meti numa enrascada. Por que disse que minha residência aqui é breve?

- Você se internará no núcleo, e quem vai para lá, quase nunca aparece por aqui.

- O que quer dizer com isso? Até onde posso imaginar, esse núcleo deve ser aqui na base!?

- Chegamos! Pode deixar o carro aqui mesmo, entrar, ficar à vontade, que alguém virá vê-lo.

Desconversou! Cafofo confortável, banho gostoso, cama macia e um barulho chato.

- Perdão pelo ruído, Noah! Estou sincronizando sua mente com nosso equipamento.

- Quem é você? Como entrou em minha cabeça? Vai começar tudo de novo?

- Chamo-me Radesh, e vou orientá-lo, mentalmente, para que venha até nós, no núcleo.

- Como faz isso? Não vou vê-lo? Não vou ter uma explicação razoável, antes?

- Por favor! Siga meus sinais e, estando entre nós, poderá saber mais.

Nunca gostei de games, nem sou fã de realidade virtual, mas foi só o tal de Radesh pôr seus "sinais” em minha cabeça, que passo a ver o caminho a seguir, qual se estivesse usando óculos especiais e tivesse uma câmera parametrizada diante de mim. Fascinante e estranho!

Ando por vários locais da base, sem que me parem ou perguntem algo. Olham e nada fazem. Quando me aproximo de porta enorme, aparentemente blindada, o guarda de prontidão a abre para eu passar, em silêncio. Parecem acostumados àquilo. Dentro, a escuridão inicial se converte em luzes feéricas e trilhas luminosas, até que sinto meu corpo perder peso, flutuar mesmo. Sinto-me como sob efeito de algum narcótico, pois vago, sensorialmente, sem sentir tocar, pisar em algo concreto, até que tudo vai voltando ao normal. Normal? Nem tanto!

- Bem vindo ao núcleo, Noah! Sou Radesh! Sente-se até que a confusão desapareça.

- Vejo tudo meio esfumaçado e luzes coloridas. Quanto tempo até voltar a ficar sóbrio?

- Alguns minutos somente. Movimente a cabeça para os lados, devagar, e melhorará logo.

- Está clareando. Não faça mais isso comigo, cidadão!

- Procedimento padrão! Peço que me desculpe, mas agora Dionísio o orientará.

Morenão, quase dois metros, careca, forte como um touro e de cara fechada.

- Já o esperam na sala do conselho coordenador. Acompanhe-me, por favor!

- Todos aqui usam esse macacão cinza? São militares ou civis? Você é militar?

Nenhuma resposta. Nenhuma palavra ou olhar. Simpatia não é seu forte.

Sala ampla, paredes envidraçadas e mesa oval, com nove pessoas sentadas. Cinco mulheres e quatro homens, com idades variando entre trinta e poucos e sessenta.

- Seja bem vindo, Noah! Sei que tem muitas perguntas, e as respostas só virão com o tempo e devagar. Todavia, queremos situá-lo e esclarecer o básico, para que seja capaz de discernir sobre onde está, com quem e porque. Não queira saber demais, por ora, certo?

nuno andrada
Enviado por nuno andrada em 12/04/2020
Reeditado em 17/04/2020
Código do texto: T6914943
Classificação de conteúdo: seguro