19 - EPISÓDIO 6- A ARCA

1

- Você é a única que consegue entrar lá.

- Pelo visto vocês já tentaram.

- Sim. O governo enviou u a tropa, homens por terra e homens pelo ar. Cinco helicópteros desapareceram do radar.

- O que aconteceu?

- Bateram em alguma coisa invisível.

Fiquei olhando para o homens por alguns instantes e então ele falou:

- Achamos que é algum tipo de campo eletromagnético. Uma espécie de sono que está envolvendo a clareira.

- É interessante. Uma barreira que somente os zumbis são capazes de romper.

- Isso mesmo.

- E porque?

- Não sabemos, mas eu tenho uma teoria.

- Sou toda ouvidos.

- Acho que estão usando os zumbis como combustível.

- O que?!

- Eu disse que é apenas uma teoria.

Eu suspirei olhando à minha volta.

- Isso tudo é... Muito difícil de engolir, esse negócio de alienígenas.

- É a verdade.

- Então o corona vírus é uma coisa alienígena, um ataque de outro mundo?

- Exatamente.

- E qual é o propósito dos...dos alienígenas? Porque nos atacar?

O homem deu de ombros.

- É o que precisamos descobrir. O que você nos achará a descobrir. Temos o vírus e ele é uma realidade. Todas as pessoas estão infectadas...

Arregalou os olhos.

- Você disse todos?! Mesmo os sobreviventes?!

- Sim. Ninguém conseguiu escapar. Descobrimos o covid em 100% dos sobreviventes testados.

"Eles estão na arca. "

- O que é isso?

- O lugar onde acreditamos que a humanidade terá a nova chance. Mas todos estão infectados. É uma coisa da qual não podemos escapar. Só nos resta descobrir os porquês. Queremos saber qual é a intensão dos alienígenas.

"Temos algumas teorias mas não passa disso."

- Tudo isso é muito lindo, moço, uma história e tanto. Quanta imaginação! Mas... Eu quero saber onde eu entro nessa história. Quero saber que lugar é esse, e porque estou aqui.

- Acho muito justo. Como eu Disse você está na arca. Estamos na zona de quarentena agora. Quanto à primeira pergunta, o governo mundial quer saber qual é o plano dos alienígenas. Precisamos saber se devemos nos aliar a eles ou se devemos combatê-los. E é aí que você entra. Você é a única capaz de entrar na clareira.

- Porque eu sou uma zumbí.

- Não. Você é algo mais. Ainda não sabemos ao certo o que. Mas sabemos que você pode controlar essa coisa. Existem mais pessoas como você no mundo, e elas estão sendo procuradas. Nós achamos você.

- E querem que eu entre lá e descubra o que os alienígenas querem?

- Exatamente.

- E o que aconteceu com os homens que estavam por terra?

- Estão lá, enfrentando os zumbis. Eles vem de roda a parte atraídos pela clareira. Um forte foi montado há dez quilômetros da clareira, a única maneira de chegar até lá é de helicóptero.

Eu pensei nas minhas possibilidades. Uma garota de quase 16 anos, sozinha em um mundo caótico e apocalíptico. O que eu tinha a perder?

- Certo cara. Vou fazer essa merda que vocês estão pedindo.

O homem sorriu.

- Ótimo. Agora vou te mostrar aonde está.

*****

2

Fui levada dali por um grupo de pessoas que usavam roupas brancas e máscaras cirúrgicas. Atravessamos corredores brancos que eu bem conhecia e fui deixada numa enorme sala que parecia ser de chumbo, à julgar pela cor das paredes.

Era uma sala bonita, totalmente desprovida de móveis. Havia um pequeno lago ali, com peixes e plantas artificiais. Uma grande vidraça mostrava a paisagem de uma floresta. Fiquei olhando para aquilo desconfiada de que não era uma paisagem real quando alguém me chamou:

- Micaela.

Olhei para trás e vi um homem negro, de uns quarenta anos. Estava vestido com uma impecável roupa preta, a barba por fazer tinha sinais de brancura. Ele sorria mostrando dentes perfeitos.

- Olá. Eu sou Kenan. Me siga. Vou levar você até a arca.

Segui o homem pela sala e uma gigantesca porta foi aberta revelando uma coisa incrível.

O que meus olhos estavam vendo era aparentemente uma cidade futurista. Havia pessoas andando de um lado para o outro, todas usavam roupas brancas e máscaras cirúrgicas.

O lugar era abarrotado de árvores, havia até mesmo árvores suspensas, em estruturas estranhas que pareciam flutuar.

Meus olhos brilhavam vendo a cena, e Kenan ficou parado por alguns instantes vendo minha reação. Depois falou:

- Bem vindo à arca. Nós a chamamos de Nova Babilônia.

- Onde exatamente fica esse lugar? Ainda estamos no Brasil?

Kenan sorriu.

- Isso não existe mais. O mundo não está mais dividido em países. Agora existem zonas. Estamos na zona 1. Temos agora um governo mundial chefiado por uma junta de representantes daqueles que eram os países do mundo de outrora.

- Então é aqui que vocês pensam reconstruir o mundo. - Olhei para as pessoas à nossa volta. - Com pessoas infectadas.

- Todos estão infectados, é verdade. Tudo o que podemos fazer é esperar. Os cientistas estão estudando as diversas mutações do vírus. Mas as verdadeiras respostas estão na clareira.

- Sim. A clareira. Já me falar dela.

- Esperamos que você possa nos trazer respostas. Me siga. Vou levar você até seus aposentos.

Eu segui Kanan pelas ruas de Nova Babilônia e não podia deixar de estar maravilhada com aquele lugar. Como puderam construir aquilo?

Esperavam que aquele fosse o lugar em que a humanidade pudesse ter um recomeço, mas não parecia promissor, todas aquelas pessoas estavam infectadas, pareciam bem, mas estavam infectadas. Olhei para as pessoas à minha volta e me lembrei daquele dia no supermercado em Pindamonhangaba. O dia em que vi a sombra do covid-19.

Entremos em um imponente prédio e logo Kenan abriu uma porta e ficou à soleira para que eu pudesse entrar.

Era um apartamento, um lindo apartamento. Havia uma mobília futurista e uma sala com uma enorme vidraça que se abria para a maravilhosa paisagem de um lago.

- Eu espero que esteja do seu gosto. - Disse Kenan.

Caminhei até a vidraça, depois olhei para ele e sorri.

- Está sim.

- Ótimo. Vou deixar você descansar. Será contatada quando for preciso.

- Ok.

Kenan sorriu e saiu me deixando sozinha.

Voltei a olhar pela vidraça.

A sensação que eu tinha, era de uma estranha irrealidade.

*****

3

A floresta era como uma sombra.

Alguém me chamava da escuridão, e a voz ecoava:

-MicaelaMicaelaMicaelaMicaela.

Era a voz de meu pai, ou uma versão bizarra dela.

- É o cavaleiro amarelo filha, e o nome dele é morte. Fuja.

Eu corria pela floresta, e o cavaleiro vinha atrás.

- Fuja Micaela! Mas não escapará do juízo dele!

Quem era ele?

Um ser terrível! Um ser tão terrível que a mente Humana não podia conceber. Era o ser que estava oculto dentro da esfera. Ele era o alfa e ele era o ômega. Ele era o agente da criação e ao mesmo tempo de toda a destruição.

Eu corri e de repente estava na clareira.

Agora o lugar estava diferente.

A esfera ainda estava lá, pairando no ar, e pulsando. Mas os seres que abarrotavam a clareira não eram humanos, eram apenas cópias, eram invólucros esperando os seres que os habitariam.

Olhei para a esfera amarela e vi os tentáculos. Um deles se enrolou por meu corpo e me ergueu do chão.

O que eu vi era algo semelhante a um tubo, eu estava literalmente sendo sugada. Meu corpo não deveria caber dentro dele mas eu estava lá.

Havia sangue, muito sangue.

Eu percebi que estava dentro do sangue. Era como se eu estivesse em uma piscina de sangue. Havia pessoa lá e algumas delas ainda estavam vivas.

Senti uma coisa me sugar e submergi no sangue.

Houve escuridão, depois uma luz começou a piscar ofuscando meus olhos.

- VOCÊ NAO PODE ME DETER!

A voz era trepidante. Senti minha carne se desgrudarem dos ossos quando aquilo falou.

- NÃO PODE FICAR NO MEU CAMINHO! NINGUÉM PODE! EU SOU DEUS!

Ousei abrir meus olhos e eles começaram a queimar.

Vi estruturas estranhas parecidas com imensos castiçais. Havia um ser parado entre eles e ele está a literalmente queimando.

O ser tinha os cabelos brancos. Eram tão brancos que emitiam luz. Seus olhos eram duas bolas de fogo. Os pés dele pareciam ferro derretido.

Meus olhos estavam queimando e eu comecei a gritar, mas mesmo assim ousei olhar.

À direita do ser havia pequenas esferas brilhantes que pulsavam. Contei pelo menos sete.

A coisa falou novamente e uma coisa saiu de sua boca. Algo estranho parecido com uma espada.

Eu não ia aguentar. Eu estava derretendo.

- EU SOU O ÚLTIMO E SOU O PRIMEIRO, MICAELA. DIGA A ELES.

Então a luz que vinha daquele ser explodiu consumindo tudo ao redor.

*****

4

Acordei gritando e em pânico.

Eu estava queimando. Sentia uma coisa queimar dentro de mim.

Meus ossos estralavam. Era como se alguma coisa estivesse dentro de meu corpo e quisesse sair.

Me levantei e cambaleei até o banheiro.

Abri a torneira do lavatório e enfiei o rosto lá dentro.

Eu sentia a coisa. A coisa falava na minha mente querendo tomar a controle.

Olhei minha face no espelho e era uma máscara de terror. Meus olhos estavam vermelhos. As veias saltadas, a pele enrugada.

Eu precisava controlar, sabia que era capaz de fazer aquilo.

Foi então que ouvi um alarme.

Era um som trepidante e intenso.

Gemendo de dor e segurando pelas paredes fui caminhando até sair do prédio.

Agora estava do lado de fora, nas ruas da Nova Babilônia.

Era de noite, os habitantes da Arca estavam todos nas ruas e havia algo errado com eles.

Me juntei a eles e sai na rua.

Aquele som terrível invadia a minha cabeça.

Olhei para as pessoas à minha volta e vi que eles estavam olha do para cima como se estivessem hipnotizados.

Olhei na mesma direção e vi sete pontos de luz que enchiam o céu escuro e opaco.

Algo começou a acontecer com as pessoas ao meu redor. Todas abriram suas bocas e de repente seus olhos, bocas e narizes se acenderam.

Eu soltei um grito e de repente me vi na mesma situação. A sensação que senti era que minha alma estava sendo literalmente separada do corpo.

Abrimos os bravos e flutuamos, e enquanto flutuávamos sentimos que alguma coisa entrou ali, no lugar onde a alma era dividida do corpo.

A coisa durou mais ou menos um minuto e de repente todos voltamos ao normal.

As pessoas estavam sem entender o que estava acontecendo, acho que estávamos diante de um caso de sonambulismo coletivo.

Olhei para cima. O céu estava negro como um saco de silício. As luzes estranhas haviam desaparecido.

Contínua.

Luis Fernando Alvez
Enviado por Luis Fernando Alvez em 14/05/2020
Reeditado em 14/05/2020
Código do texto: T6947436
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