OS DESEJOS DO CORAÇÃO. Cap. 2

Capítulo 2°

Lembranças que passeiam pelos pensamentos da jovem esposa. Gomer teve uma história de dor em seu passado, e só mesmo ela com a verdade de seus muitos pensamentos para saber, lutava sem muito sucesso contra a força de um passado marcado pelo pecado.

Enquanto Oséias, tanto mais amor, dia e noite lhe dedicava, o exemplar esposo na tentativa de ser diferente, dedicado cristão, político incansável. Uma pequena estrela que aos poucos se despontava. No entanto, Gomer não conseguiu corresponder.

Diante desse vivo amor escancarado pelo marido, Gomer aos poucos o negava em seu íntimo sem perceber que cedia aos desejos do coração. Os anos de servidão ao pecado tornou o seu entendimento incapaz de reconhecer e aceitar o amor sincero. Pensamentos, sonhos, desejos fermentados no mais profundo da sua alma, no âmago do coração. Eram esses desejos tão mais forte do que ela, insuportável, incontrolável a danação pela vontade alheia, resquício do passado, insuportável vontade contrária a sua nova natureza cristã, natureza essa, não bem aceita por ela de livre escolha, porém, de certo modo, imposta pelas circunstâncias do momento, pelo marido e familiares.

Ainda assim, Oséias incansavelmente tanto mais no amor se esforçava em seu dia a dia, buscando agrada-lá em tudo e todo momento, na ânsia de suprir todas as suas vontades e caprichos e provar aos familiares que os mesmos estavam errados quanto a ela.

Era crescente os desejos contrários no coração de Gomer, uma maligna sombra encobrindo o seu intelecto, dia a dia amadurecidos nas sombras, prontos a pôr em prática na calada da noite.

E de fato foi no apagar das luzes, tenebrosa imagem a consumia em vis desejos, mensagens carinhosas de feroz lobo trajado de cordeiro. Oséias que em sua inocência despercebida, tranquilo, não notou o abismo que se estendia debaixo de seus próprios pés pelo próprio amigo.

Gomer e sua incontrolável vontade, no oculto o pecado era lentamente planejado, degustado, mensagens de carinho, que aos poucos, foram para o amor, proibido amor...

Mensagens trocadas entre Carlos "Amigo de Oséias" e Gomer.

( " Amigo" )

" Olá, boa noite lindona, tudo bem? Estou com saudades, você não respondeu às minhas mensagens".

( Gomer )

" Oi… Boa noite. Mil perdões Carlos, dias difíceis sabe… "

( "Amigo" )

" O que houve com a minha flor? Como assim?"

( Gomer )

" Eu estou com um certo distanciamento do Oséias, coisa chata mesmo, ele tão preso às coisas da política. Estamos dormindo na mesma cama, mas parecemos separados".

( "Amigo" )

" Se quiser falar sobre isso, de repente, desabafar. Sou todos ouvidos".

( Gomer )

" Obrigado Carlos, você é um amor, sempre atento comigo".

( "Amigo" )

" Imagina gata, você que é maravilhosa, merece toda atenção".

( Gomer )

" Exagero seu… Sou não… Estou me sentindo um trapo".

( "Amigo" )

" A Ana tentou voltar comigo, mas não dei chances, cortei logo de cara, ela não me deu valor, perdeu".

( Gomer )

" Ah… Eu penso nisso todos os dias sabe, queria ter essa coragem, jogar tudo para ar e vê no que dá, mas, tão pouco tempo de casada, o que vão pensar?".

( "Amigo" )

" E vai ficar sofrendo mulher, sendo esquecida aos poucos, logo mais o Oséias te esquece, te trocar pela política. Separa logo, Oséias é político, daí a pouco te esquece".

( Gomer )

" Sei não… Depois tem a igreja, nossas famílias, e todo o falatório que isso vai dar. Sem dizer que eu é que vou sair por mal, tem o meu passado também... Sei não".

( "Amigo" )

" Você é tão linda Gomer, tão especial, 'se me permite a ousadia' a mulher dos meus sonhos".

( Gomer )

" Nossa! Não é pra tanto vai, exagero seu, nem sou tudo isso, me deixou ruborizada agora".

( Amigo )

" É isso e muito mais".

.......

As mensagens continuaram mais quentes, dia após dia, partindo para pequenas fotos, que foram ficando sensuais, ousadas, inapropriadas.

Pecado planejado, pecado feito.

Não demorou para o jovem e inexperiente político Oséias perceber o repentino distanciamento da esposa. Não era ela aquela mesma mulher com quem casará, e nem tão vivido era o seu amor, Oséias lembrou-se e temeu de que os parentes tivessem razão.

Veio-lhe na memória todas as acusações ditas na ocasião do casamento.

Pensava triste enquanto observava Gomer em seu mundo perdido virtual, era um abismo que crescia seguindo a outros mais, mensagens ocultas a luz do luar, Gomer estava tão cega que não percebia os rastros de perdição pelo caminho.

Ao vê-los todos, Oséias horrorizou-se com cada erro, cada picante mensagem no celular, Oséias chorou copiosamente, endureceu-se, era o passado de Gomer se fazendo presente.

Descobriu tudo o que jamais desejaria um dia ver, e da pior forma possível, mensagens, o amante, o pecado, as fotos, perdição, a virtual maldição no alcance de um toque.

Noites em claro, a dor que dilacerava de dentro para fora, tanto amor dedicado, e agora Oséias fora traído, estava arrasado e com seu coração partido, confrontou duramente Gomer, que não negou o horrendo ato. Não havia mais o que fazer a não ser separar-se, a dor era tão maior, difícil de explicar, aliás, palavra alguma explica o inexplicável. Cabisbaixa, Gomer nada dizia, seus lábios eram apenas silêncio.

- Desaparece da minha vida. disse Oséias entre gritos, vai embora para não voltar, desapareça para sempre. Ah! Se eu tivesse dado ouvidos meus tios...

Finas lágrimas escorriam dos olhos pintados de Gomer, que nada respondeu. Perdia tudo, em um instante, o tudo se fez em nada. Último olhar, discreto aceno, sem resposta, adeus no caminho extremo, Oséias fechou a porta, sentou-se no chão frio da cozinha, chorou no desespero de sua dor.

Noites e dias que se completam, a dor não que cessa, que nunca para de doer em seu flagelado coração. Quisera Oséias apagar da mente tudo quanto viveu naquele trágico primeiro ano de casado, toda mancha de pecado, toda angústia, toda lágrima, quisera ele reescrever tudo novamente. Mas, as lembranças... Os lábios, a doce voz, o toque de suas mãos, era tudo tão complexo.

O coração ardendo ainda mais, sangrando sem nunca parar, Oséias caminhava sempre solitário por entre a multidão, sem voz, sem brilho, sem vida.

A casa, de repente, ficou tão pequena que as flores do Jardim murcharam e perderam a cor. Noites e dias se completam em meio a sua confusão na alma. Na mesa da cozinha, o copo de café vazio, uma rosa desbotada, fotografias jogadas ao chão.

Noites e dias se completam, amor, dor, muita dor, desejo, angústia, resquícios de arrependimento fugitivo.

'Talvez haja arrependimento naquele desolado coração', pensava ele, era a dor de amar se fazendo maior que a dor de se perder.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 23/07/2021
Código do texto: T7305856
Classificação de conteúdo: seguro