O FANTASMA DO APITO, capítulo 13: A reação heróica de Fátima

 

(No capítulo anterior, como se recordam, a Capitã Detetive Irina liderou as garotas numa incursão ao sótão do colégio, por terem descoberto que aí se encontrava o esconderijo do inimigo, o Conde Haroldo Bruxelas, proprietário do estabelecimento.

O episódio terminou com Irina, Carol e Andréia presas numa rede, que as içou para o teto. Fátima, tendo sobrado, viu-se frente a frente com o assassino e seu robô Adamastor, programado para matar...

Quem desejar, confira o capítulo 12:

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CAPÍTULO 13

 

A REAÇÃO HERÓICA DE FÁTIMA

 

- Mire nos olhos, Fátima! – bradou Irina, em desespero de causa.

CAROL – Irina, quem disse a você que a Fátima sabe atirar?

Fátima correu, com o monstro em seus calcanhares. Silencioso e tétrico, Adamastor moveu-se rapidamente. Como podia um robô ser programado para matar, pensava Fátima; porém o caso não permitia dúvidas. A garota reconheceu que a sua vida estava por um fio.

O Conde Bruxelas, com seu narigão de abutre, acompanhou a caçada de seu homem mecânico. A garota pulou obstáculos, tais como rodas quebradas e velhos discos de vinil, pedaços de gelosias e lambris, estragados pingüins de geladeiras e ripas de madeira. O robô foi levando tudo de roldão e, rápido como era, não deu chance à menina de ganhar distância. Logo os três contendores se afastaram dos olhares angustiados das prisioneiras.

De repente Fátima tropeçou num cacaio ou alforje – um dos muitos trastes espalhados naquele chão – e se viu caída, quase indefesa. O autômato moveu as pinças para baixo. Fátima deu-se conta de que ainda segurava a pistola – mas que adiantava, se não sabia atirar direito? Então, em último recurso, ela lembrou-se do que Irina falara sobre os olhos da coisa - e arremessou a arma na direção deles.

O olho esquerdo do monstro se espatifou, espalhando gotas de cristal em redor. Adamastor hesitou, volteou meio a esmo, e Fátima, agarrando um sarrafo, golpeou-lhe as pernas. Com agilidade, a pequena pôs-se de pé, e sarrafeou o outro olho. O robô entrou em parafuso, pôs-se a girar, perdeu o equilíbrio e, ao desabar no chão, levou parte desse chão com ele... indo se arrebentar no pavimento inferior, em meio a uma nuvem de faíscas de curto-circuito.

Fátima se afastou do buraco aberto no assoalho e sacudiu a poeira das vestes – mas o Conde Bruxelas acercou-se, gritando histericamente:

- Sua vaca, sua cadela! O que você fez com o meu lindo robô, que levei tantos anos a construir?

 

Existem momentos na vida em que a raiva supera o medo.

 

Fátima acertou um bofetão violentíssimo na cara de Bruxelas, arremessando-o de encontro à parede. Ela então agarrou-o pelo colarinho, sacudiu-o e atirou estas palavras:

- Seu bandido... seu calhorda... O que interessa não é o que eu fiz com o seu maldito robô! O que interessa agora é o que você fez com George e o que eu vou fazer com você!

Acertou-o de novo no rosto, jogando-o ao chão espetacularmente. Tornou a pegar o sarrafo, e nesse ponto Bruxelas, tentando se recuperar da surpresa e dos golpes, buscou uma arma no interior de seu casaco. Quando ele a puxou, Fátima fez com que ela voasse longe, indo se enganchar metros adiante, numa das frestas do assoalho arruinado.

- Boa, Fátima! – gritou Carol ao longe. – Acaba logo com ele!

Mas quando ela tentou sarrafear de novo, o Conde Bruxelas, com a expressão desfigurada pelo ódio, agarrou a madeira no ar e puxou com energia, desequilibrando a sua adversária. Fátima foi atingida por um violento soco e jogada no chão. Bruxelas chutou-a brutalmente, escoriando-a. Poderia ter prosseguido com a agressão, mas preferiu buscar em seu traje outra arma, um punhal afiado e curvo. A garota levantou-se com presença de espírito e correu, voltando a se aproximar do trecho onde estavam as companheiras de aventura. Bruxelas em grandes pulos ganhou terreno e atacou, mas a moça se esquivou e agarrou o seu braço direito, atracando-se com o assassino. Os dois se chocaram com o aparelho de som, que acidentalmente se ligou e um disco “long-play” começou a girar na vitrola, e a voz tonitruante de Eduardo Araújo foi ouvida, esgoelando-se naquela famosa canção dele e Carlos Imperial, o “Goiabão”:

 

Squindolé-lé...

 

bicho do pé...

 

moringa quente...

 

espanta a gente, yééé...

 

Fátima torceu o braço de seu oponente, fazendo-o largar a faca. Tropeçou, porém, numa gaveta, pois o piso estava cheio de obstáculos, e quase caiu. Bruxelas deu-lhe um pontapé brutal na bacia e tentou apanhar de novo a arma branca; furiosa, a pequena pegou o velho guarda-chuva que também estava jogado no chão e acertou com ele o pulso do conde. A arma voou e atravessou pela abertura de um vidro quebrado, caindo em alguma cornija das que circundavam grande parte do sótão.

 

Ele é o manjado paquera,

 

sempre está na boca de espera,

 

canta todo mundo

 

mas sempre fica na mão...

 

Bruxelas pulou sobre Fátima, que desta vez não conseguiu segurar o ímpeto de seu enfurecido inimigo. Um golpe de braço esquerdo desequilibrou a garota, que já tinha sangue escorrendo na face. Bruxelas esmurrou-a sem dó nem piedade, derrubando-a. A jovem esforçou-se para não perder os sentidos, auxiliada moralmente pela torcida das amigas: não podia decepcioná-las!

 

Goiabão, goiabão, goiabão

 

Goiabão, goiabão, goiabão

 

Goiabão, goiabão, goiabão

 

GOIABÃO, GOIABÃO, GOIABÃO

 

Ele pegou um arquivo de aço enferrujado e brandiu-o sobre a menina, visando esmagar-lhe o crânio. Mas, naquela sapucaia toda, era fácil improvisar armas com o que havia ao alcance da mão. Fátima pegou uma bengala e desviou o golpe. Em seguida, movida por grande energia nervosa, já com a corrente sangüínea repleta de adrenalina, ela se ergueu novamente e golpeou por sua vez, acertando em cheio a testa do brutamontes.

- Esqueceu de faxinar a sua casa, canalha.

 

Lelé da cuca

 

coisa maluca

 

só dá mancada

 

não é de nada yeááá

 

Ela tentou bengalar de novo o patife, mas ele, já com o sangue escorrendo da testa e cheio de pisões, conseguiu prender o objeto e puxou com força. Fátima e Bruxelas, ofegantes, disputaram cada centímetro com todas as suas forças. Fátima achou que seus pulmões iam estourar de tanto esforço.

ANDRÉIA – Fátima, não desiste! Você vai conseguir!

Os incentivos das amigas moveram a estudante. Ela trançou sua perna com a do aristocrata, tentando desequilibrá-lo. Mas Bruxelas pesava muito mais do que ela e não era um adversário fácil de dominar.

 

Chato nele é apelido,

 

acho que ele é doido varrido,

 

canta todo mundo

 

mas sempre fica na mão...

 

Empurra pra cá, empurra pra lá, os dois se derrubaram mutuamente. Foram rolando por um chão atulhado de bruzundungas que às vezes até machucavam, o ensandecido agressor buscando ferozmente alcançar o seu pescoço. Fazendo das tripas coração, Fátima agüentou o rojão até que a parede deteve a ambos e a moça, num golpe inspirado, bateu com os nós da base dos dedos da mão direita em cheio no nariz do conde, atordoando-o temporariamente. Livrando-se do psicopata, a jovem levantou e aspirou fundo, esgotada de tanto lutar.

 

Goiabão, goiabão, goiabão

 

Goiabão, goiabão, goiabão

 

Goiabão, goiabão, goiabão

 

GOIABÃO, GOIABÃO, GOIABÃO

 

- Eis sua arma – sussurrou Carol, espremendo-se toda.

- É perigoso atirar agora – disse Irina, arfando. – Não quero acertar a Fátima.

Bruxelas jogou um peso de papéis sobre Fátima, atingindo dolorosamente o seu ombro esquerdo. Vendo estrelas, a menina não teve o reflexo suficiente para evitar o novo assalto do facínora, que socou o seu peito e, com fúria, agarrou-a pelo braço esquerdo, forçando-a a se virar. Ela percebeu, com horror, que ele ia quebrar-lhe o braço numa chave. Em desespero de causa Fátima enganchou com a mão esquerda seu próprio cinto, para evitar que ele completasse a torção fatal, e com a mão direita pescou num bolso dianteiro da calça jeans, seu canivete de mola. Abriu-o, deu uma olhadela para a posição do inimigo às costas, e jogou o braço direito para trás...

 

Ouviu-se um berro medonho e a pressão no braço esquerdo de Fátima se relaxou instantaneamente. Ela puxou de volta a mão direita e a lâmina do canivete retornou manchada de sangue. Fátima se voltou: o Conde Haroldo Bruxelas afastava-se com as mãos cobrindo os olhos.

- Sua maldita! Sua rameira! Você vazou o meu olho!

O meliante correu, com as mãos nos olhos, certamente vendo o caminho com a vista esquerda, ainda sã. Fátima ia correr atrás dele, quando imperiosos chamados a detiveram. Andréia e Carol a chamavam, mas foi principalmente a voz de Irina que se fez ouvir, taxativa:

- Fátima, não vá atrás dele! Solta a gente primeiro!

- Está bem!

Mas quando ela ia se aproximar das amigas ainda presas na armadilha, sua atenção foi despertada pelo conjugado de som, que pusera o disco para repetir automaticamente e continuava berrando:

 

Goiabão, goiabão, goiabão

 

Goiabão, goiabão, goiabão

 

Goiabão, goiabão, goiabão

 

GOIABÃO, GOIABÃO, GOIABÃO

 

- CALA A BOCA!!! – num assomo de cólera Fátima acertou com uma cadeira de vime no aparelho de som. Mas precisou de mais umas cinco cadeiradas para silenciar de vez a geringonça.

A voz de Irina se fez ouvir agora com um tom de raiva:

- Fátima, pára com essa besteira, que merda! Tira logo a gente daqui!

- Está bem, desculpe!

A mocinha, toda moída de pancada, aproximou-se das amigas...

- Como é que eu vou fazer para tirar vocês daí?

- Muito simples – esclareceu a detetive. – Já consegui puxar do meu bolso um isqueiro e vou queimar essa rede até que ela se rompa o bastante para que a gente caia...

- Mas vão se machucar!

- Eu sei! O que você tem que fazer é pegar aqueles colchões imundos e infestados de percevejos que estão jogados ali naquele canto, e espalhá-los embaixo da gente. Assim nós evitaremos fraturar as costelas.

- Ah, bom! Tudo tem seu jeito! – suspirou Fátima, aliviada.

 

(A tremenda luta sustentada por Fátima terminou com a surpreendente vitória da moça! Porém, mesmo com um olho a menos, Bruxelas escapou. Com as quatro de novo reunidas, conseguirão pegar o vilão? E quais serão as consequências, levando em conta que Bruxelas é o proprietário do Colégio Modelo?

A seguir nesta novela:

CAPÍTULO 14

ESPADA DE DAMOCLES)

 

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Miguel Carqueija
Enviado por Miguel Carqueija em 29/11/2024
Reeditado em 29/11/2024
Código do texto: T8207993
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