Capítulo 60: Afiando as mágoas O SEGREDO DO PORTA-MALAS (ÚLTIMOS CAPÍTULOS) Parte 1

Intrigada com a recém conhecida Sara resolve voltar para sua casa, ainda que tenha que enfrentar seu pai. Cassiano está sentado no sofá em silêncio com olhar fixo no chão, ainda pensando na discussão com a filha. Sua expressão é uma mistura de frustração e raiva. Sara então entra na sala, mas não percebe o pai que lhe assusta ao pedir para conversarem.

__ Onde pensa que vai com tanta pressa? Sara, precisamos conversar. – Alerta ele ao perceber a entrada dela.

__ Pai que susto! Não o vi aí, não temos nada para falar. Já não foi o suficiente tudo que eu soube? – despreza ela a conversa com ele sem nem o olhar.

__ Não vou permitir que fuja dessa conversa. Você não tem escolha, ainda que não queira sou seu pai. – Aproxima Cassiano.

__ Mais mentiras? Não quero ouvir nada que tenha a me dizer, naquela conversa sobre o passado tinha prometido que seria honesto comigo. – Vira ela para ele dando um passo para trás ao ver que se aproxima.

__ Ainda que não acredite, eu fiz o que achei melhor na época. Não tinha condições para ser pai. É tão difícil de entender minha filha? – Continua Cassiano tentando se explicar.

__ Melhor pra quem? Pra você? Já esqueceu o que você disse? Desejou a morte de uma criança, pior que você mesmo abandonou. – Sara pausa. É pouco pra você? – Confronta Sara se exaltando novamente rindo sarcasticamente.

__ Não era assim que eu pensava. Estava tão desesperado! Enfrentava ali os meus demônios. – Murmura Cassiano.

__ E isso justifica o que fez? Se acha isso é lamentável. E agora quer que eu carregue o peso da sua escolha? O que sentiu não importa, tinha outra vida ali. Nunca parou pra pensar? – Repete Sara com lágrimas nos olhos.

__ Eu não sabia lidar com tudo isso! – Murmura ele novamente percebendo o desprezo.

__ Exatamente! Não soube lidar. Agora você que sofra as consequências. Você foi covarde, ouviu bem? – Afirma ela olhando diretamente em seus olhos.

__ Um pai que deseja que um filho não exista, acha que merece que eu simplesmente esqueça e perdoe? Não, se quisesse mesmo que nada disso acontecesse teria lutado pelo meu irmão e não o deixado pra trás. – Vira Sara decidida a sair para seu quarto.

__ Sara, por favor... – desesperado toca Cassiano os ombros da filha.

Sem pensar duas vezes Sara afirma ao pai ainda nervosa com ele.

__ Não peça por favor para mim. Você precisa entender tudo que fez primeiro, ainda não entendeu. E isso pode levar uma vida inteira.

No dia seguinte Red vai ao café cheiro de Grão, e por acaso encontra Sara que decide conversar com ele um assunto delicado, a família do amigo. O ambiente está movimentado, mas não barulhento. Sara e Red estão sentados em uma mesa no canto, com duas xícaras de café à frente. Sara parece curiosa, enquanto ele está mais reservado, olhando pela janela de vez em quando.

__ Sara... Quanto tempo! Que bom te encontrar aqui no Cheiro de Grão. Posso me juntar a você? – Se junta ele a ela antes que responda.

__Red claro, por que não? Bom que você me explica algo que sempre tive curiosidade. Você nunca fala da sua família. Por quê? Eles não gostam de café, é isso? – Tenta ela descontrair o assunto.

Desviando o olhar, Red responde.

__ Não tem muito o que dizer... Minha família não é... Interessante no momento.

__ Todo mundo tem uma história. Algo te moldou, Red. Vai, pode confiar em mim. – Arqueia Sara a sobrancelha.

__ E por que isso importa? – Seco, responde Red tentando cortar o assunto.

__ Porque eu acho que entender pode ajudar... Só estou tentando ser mais próxima. – Respira fundo Sara, ficando séria.

__ Não sou um mistério Sara. Cresci, sobrevivi e fim da história. – Responde ele ainda sem encará-la.

__ Sabe que não é tão simples assim. Todo mundo tem algo que carrega, mesmo que finja que não. – Dispara ela levemente irritada

__ Talvez. Minha família não é exatamente um conto de fadas. Meu pai... bom, ele não foi exatamente um exemplo. – Sara hesita, mas decide falar.

__ Isso é algo que a maioria pode dizer, eu acho. – Red disfarça, mas mostra interesse.

__ Ele abandonou uma criança. Recém-nascida. Só... sumiu. – Olhando para o café me tom mais sombrio, revela Sara.

Red congela por um instante, sua mão para no meio do movimento de levar o café à boca. Ele coloca a xícara de volta na mesa lentamente.

__ Parece que muita gente tem o talento de desaparecer quando deveria ficar. – Confessa ele tentando manter a voz neutra.

__ Pois é. Acho que nunca vou entender como alguém consegue fazer isso. Deixar um bebê sozinho no mundo. – Continua ela sem perceber a mudança no tom de voz dele.

__ Às vezes, é porque não sabem ser outra coisa além de ausentes. E quem é deixado aprende a sobreviver sozinho. Não que isso torne mais fácil.

__ Engraçado, fala como se soubesse como é. – Confusa, Sara se intriga com Red.

__ Já ouvi histórias parecidas. – Red sorri forçado, disfarçando o passado de sua família.

Nesse momento, a porta do café se abre e o sino toca. Asena entra, observando o lugar antes de fixar os olhos em Sara. Uma expressão de surpresa toma conta de seu rosto.

__ Ela de novo! O que ela faz aqui? – Se questiona Sara vendo Asena na porta.

Asena então segue caminhando em direção à mesa de Sara e Red.

__ Desculpa atrapalhar a conversa dos dois, mas você não é a moça que me confundiu com Isabel? Conversamos aqui outro dia e me disse que ela tinha falecido, lembra?

Red a observa estranhando o jeito da moça e fica nervoso quando escuta o nome da sua prima.

__ Isabel? É infelizmente ela se foi, mas eu a conheço. Não sei porque, mas o seu jeito não é estranho. – Interrompe ele encarando Asena.

__ Sim sou eu mesma. Eu achei que você era Isabel, mas claramente estava enganada. O que você está fazendo aqui? Bom te ver! Conhece Isabel Red? Não sabia... – Estranha Sara ao ver a reação de Red, sem saber, revelando a Asena que ele é quem ela procura.

__ Então é você! Finalmente nos encontramos Red. Estava mesmo a sua procura. Temos muito o que conversar, acredita? – Arqueia Asena o reconhecendo, mas sem demonstrar isso, já que a conhecida não sabe muito sobre isso.

__ É uma longa história Sara, depois te conto! Nós temos muito o que conversar? Não acho que está enganada, mas por que finalmente? – Se preocupa o vilão ao ouvir Asena!

Sara observa a interação em silêncio, mas antenada no tom da conversa entre os dois, percebendo o clima tenso.

__ Exatamente isso que ouviu. Fico feliz que pareço a conhecida de vocês, mas não sou quem estavam pensando. Agora tendo essa conversa é notável que tem algo muito errado aqui. – Responde Asena dando a indireta para Red, Sara não entende.

__ Qual seu nome mesmo? Mas acho que devo te agradecer você me salvou de responder muita coisa. Confesso que agora estou curioso para saber o que temos a falar. – Se interessa ele sem saber que o perigo está logo a sua frente.

__ Asena, salvei é? Não teria tanta certeza assim, mas se você diz, tudo bem. Vejo que sua habilidade em falar sem pensar continua a mesma. Deve ser fascinante viver sem medo das consequências. – Debocha Asena da fala de Red.

CONTINUA AMANHÃ A NOITE... UM FELIZ ANO NOVO A TODOS, DESCULPEM A DEMORA DESSE CAPÍTULO.

NRD
Enviado por NRD em 06/01/2025
Código do texto: T8235477
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