O CLUBE DA LULUZINHA capítulo 4: A visita da morte
Uma história passada numa Terra alternativa, onde no século 21 ainda não existem várias tecnologias que utilizamos em nosso mundo e ainda se viaja de carruagem e balão dirigível.
CAPÍTULO 4
(No capítulo anterior vimos como em sua busca pelo Conde Bruxelas, nosso quarteto de heroínas acabou pernoitando numa estalagem horrorosa de beira de estrada, no meio de uma pavorosa tempestade. Fátima, que não deixa de olhar em seu caleidoscópio para saber a quantas anda, atravessa um pesadelo em sono pesado... dando um grito ao acordar. Na sequência veremos o quanto sua intuição funcionou pois, como se a adversidade as perseguisse, ocorreu uma nova morte violenta...)
A VISITA DA MORTE
Malhado latiu, e Irina sacudiu a garota:
— Que é isso, se acalme!
— Foi só um pesadelo — disse Andréia.
Fátima livrou-se das cobertas:
— Não! Aconteceu alguma coisa, eu juro!
— Espere! — chamou Irina. — Aonde vai?
— Ver o que aconteceu.
Irina segurou-a:
— Não seja quixotesca. O que é que você acha que aconteceu? Sua vidência está funcionando?
— Eu creio que sim.
— Então vá com mais calma. Se descobrirem que você é vidente, vamos ter problemas. Aprenda a ser discreta.
— Serei discreta como um personagem de Machado de Assis. Mas tenho que descobrir o que houve.
— Vamos nos vestir e tomar um banho. Não pode ter havido nada que nos diga respeito diretamente, e se sairmos daqui procurando...
— Você quer dizer vamos tomar um banho e nos vestir. Não ponha a carruagem na frente dos cavalos.
— Pombas, Carol...
Fátima, porém, colocou umas calças e saiu sem atender o conselho de Irina. Carol resolveu segui-la.
Estavam no primeiro andar e ao saírem não viram vivalma. Desceram para a recepção e encontraram a mulher caolha revisando o livro de registro.
— Por favor, senhora... onde é que o Labrego está?
— Quem?
— O condutor da carruagem em que nós viemos.
— Ah, sim! Ele está num quartinho lá nos fundos, deve estar dormindo ainda...
— No fundo daquele corredor?
— Sim, a última porta à esquerda, antes da porta dos fundos...
— Tá, obrigada. Nós vamos lá. Como é mesmo o nome da senhora?
— DIOCLECIANA!!! – berrou a mulher, parecendo irritadíssima.
As duas se afastaram.
— Por que será que ela se zangou tanto? – indagou Fátima, admirada.
— Eu sei porque, Fatinha. É claro que ela se irritou por ter de revelar que o seu nome é tão
feio.
— E que culpa temos nós?
— Não sei. Não sou psiquiatra.
— Cadê os outros hóspedes? Até agora só vimos três pessoas e nenhum hóspede...
— É, também notei. Se ninguém aparecer vou perguntar que história é essa. Será que esse lugar está às moscas?
Bateram na porta do Labrego.
Nada.
Carolina levou a mão à maçaneta, mas Fátima segurou-lhe o pulso com uma força inusitada.
— Que há? — indagou Carol, admirada.
— Deixa comigo.
Fátima enrolou a mão direita num lenço e girou a maçaneta, constatando que a lingüeta da fechadura não estava passada. Foi entrando, seguida pela aturdida Carol.
Labrego estava esparramado no chão, entre roupas de cama espalhadas, banhado em sangue, a boca aberta numa expressão de pavor.
— Vá chamar Irina e Andréia – ordenou Fátima.
— Está bem, bruxinha — atendeu Carol, afastando-se.
Fátima cruzou os braços e cogitou:
“Isto é uma nova armadilha do destino. Será que nós três, ou nós quatro, somos ímãs que atraem as forças do mal? Estaremos realmente nas mãos das Parcas?”
A porta ao lado se abriu, aparecendo uma velha descabelada, mais magra que a Olívia Palito e com uma cara de enorme escândalo.
— Oi, houve alguma coisa?
— Por que diz isso? – Fátima foi taxativa.
— Escutei alguma coisa...
A garota olhou-a desconfiada.
— Nos últimos minutos não ocorreu nenhum ruído anormal. Ou a senhora escutou alguma coisa antes?
— Você está louca? Aqui não é o quarto daquele carruageiro simpático?
— Não posso acreditar que você tenha dito isso — Fátima, já meio irritada, esquecera o tratamento de “senhora”.
— Ele está aí?
A mulher tentou espiar pela porta entreaberta, mas Fátima procurou detê-la.
— É melhor não olhar.
— Que há? Sai pra lá!
Ela afastou a jovem e olhou, e viu... e gritou escandalosamente.
— Assassina! Assassina! Chamem a polícia!
Assim dizendo, a velha saiu correndo na direção da portaria.
— Oh, não! — lastimou-se Fátima — Vamos começar tudo de novo? Vão achar outra vez que nós somos assassinas?
Felizmente as outras já vinham, e também a tal da Diocleciana.
(Uma baita encrenca se atravessou no caminho de Irina e as garotas. Mais uma pessoa que teve contato com elas foi morta. O que poderá ter causado o assassínio de Labrego, um condutor de carruagem? Mas agora um novo fator se intromete na jornada do quarteto: um personagem importante na trama reaparece. Mas não, ainda não é o vilão, o Conde Bruxelas pois esse, como revelado no caleidoscópio, está bem mais adiante, e tudo indica que ainda se recupera do ferimento do olho direito, vazado por Fátima durante a luta que ela sustentou com ele na parte final da novela "O fantasma do apito". Vejam a seguir, quem é o personagem que reaparece:
CAPÍTULO 5
A INESPERADA INTROMISSÃO)
imagem pixabay