O CLUBE DA LULUZINHA, epílogo: A sombra de Fátima

 

EPÍLOGO

 

A SOMBRA DE FÁTIMA

 

(O caso da estalagem misteriosa foi resolvido! Deixando os criminosos em poder da polícia local, Irina e Anselmo, utilizando seus respectivos pistolões, livraram-se de permanecer no local como testemunhas para a instrução. E agora se retiram sob a reprovação da polícia local. Para Andréia, Carol e Fátima isso é ótimo, pois querem prosseguir com Irina a caça ao Conde Bruxelas. Anselmo, liberado também por ordem de seu tio, pretende continuar seguindo Fátima, como uma sombra. Um homem apaixonado é capaz de tudo...)

 

 

O tempo estava ainda encoberto e nuvens ameaçadoras se encastelavam nas escarpas da serra, pouco dispostas a se retirar. Carol se distraía em avistar figuras nas nuvens, mas já anoitecera e o exercício era difícil. Anselmo abriu as portas do seu carro e apressou a turminha:

— Vamos, porque não quero permanecer aqui mais tempo.

— Para falar com franqueza, nem eu — respondeu Irina. — De repente, passei a não querer mais respirar o mesmo ar dessa gente... inclusive os policiais.

Voltou-se para as garotas:

— Vocês se acomodam no banco de trás com o vira-latas, ok?

Andréia fez uma cara de falsa raiva:

— Que desplante, o Malhado é de raça...

Anselmo deu a partida e o auto lá se foi roncando de forma preocupante. O detetive pôs-se a divagar:

— Eu estou pensando...

— Que assombro! – debochou Carol.

— Estou pensando — prosseguiu ele, sem se dar por achado — em todas as hospedagens e estalagens que existem por esse Brasil afora, em estradas secundárias e esquecidas... onde

quase ninguém dá com os costados... estou pensando em quantos crimes, em quantos estalajadeiros existem por aí, dispostos a matar os hóspedes eventuais, enterrá-los e ficar com os seus despojos... não deixa de ser uma fórmula para salvaguardar esses estabelecimentos da falência... isso poderia explicar o alto número de sumiços e desaparecimentos que ocorrem...

Andréia observou: – Anselmo, sumiço e desaparecimento é a mesma coisa... você incorreu em redundância...

— E daí? É uma ênfase. De qualquer modo, estou pensando em começar a investigar esse assunto. Se eu conseguisse dessa forma esclarecer um grande número de homicídios, tornar-me-ia o policial mais famoso do Brasil.

— Desejo-lhe boa sorte, mas não conte comigo — disse Irina. — Eu tenho mais o que fazer.

— Mas o que vocês estão fazendo afinal? — perguntou ele, enquanto o velocímetro subia gradativamente. — Se está numa investigação sigilosa, Irina, porque não leva a sua equipe em vez dessas amadoras?

— Essas o que? — gritou Carol.

— Acho que você não tem nada com o que estamos fazendo, Anselmo — respondeu Irina. — Aliás, em breve iremos nos separar.

— Você acha que eu não raciocino? Sei muito bem que vocês estão à procura do “fantasma do apito”. Só pode ser. E essas meninas viram quem é, por isso você as está levando. Mas veja bem, Irina, isso é irregular e expõe leigas ao perigo. Acho que vocês vão precisar de mim.

— Talvez sim, talvez não. E suponho que você não irá nos denunciar.

Ele deu uma olhada de esguelha em Fátima.

— Não é do meu interesse – disse simplesmente.

 

 

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Em Ibatinga elas fretaram uma carruagem para prosseguir a viagem, e chegou a hora da despedida. Anselmo beijou Fátima e sussurrou-lhe:

— Lembre-se: você me deu esperança.

— A esperança é a última que morre... — comentou ela, meio fria. A situação lhe causava constrangimento.

Acomodaram-se no interior da carruagem, que era dirigida por uma mulher. O destino era Lucasville. Sonolentas, ajeitaram-se da melhor maneira, espalhando travesseiros e edredons.

— Não olhe agora, Fatinha — falou Carol, sorridente. — Mas aquele sobrinho do tio continua atrás de você. Ele vem vindo.

Olharam todas pelas venezianas da traseira do veículo e observaram o Ford de Anselmo, que seguia no encalço delas.

— Ele seguirá Fátima até o fim do mundo... — suspirou Andréia, alisando os pelos do Malhado, que espreguiçava satisfeito com sua nova vida.

— É um cabeçudo como eu nunca vi — comentou Irina, agastada. — E era só o que nos faltava.

Subitamente, Fátima percebeu que Andréia soluçava quase silenciosamente.

— O que há com você? Por que chora?

Andréia enxugou algumas lágrimas.

— Eu estou pensando... você, querida Fátima, ainda tem quem a siga apaixonado, ainda que você não o queira. Mas eu estou só. Eu tive na minha vida um desgosto amoroso muito sério, que fez de mim uma pessoa triste... eu carrego comigo uma grande tristeza... e agora já nem sei se algum dia voltarei a ter uma existência normal. Não sei o que poderá advir dessa nossa aventura de caçar um criminoso... eu não tenho vocação para Nick Holmes... queria amar alguém, casar, ter filhos e uma vida normal e saudável... mas como pensar nisso agora? E quando poderei escapar desse labirinto?

Ela pôs as duas mãos em concha no rosto e chorou baixinho. Comovida, Carol enlaçou-a carinhosamente e apertou sua cabeça contra o peito:

- Não está só, Andréia. Nós estamos com você. Somos suas amigas para sempre. Você encontrará o seu amor, algum dia.

Fátima enlaçou-a pelo outro lado e as três amigas permaneceram naquele amplexo por alguns momentos. Malhado a tudo assistia, com um olhar choramingas.

 

 

F I M

 

(Assim termina a novela "O Clube da Luluzinha", primeira parte da duologia "Tempo das caçadoras" e direta sequência de "O fantasma do apito". Acidentalmente o grupo - com grande ajuda do dálmata Malhado - encontrou um cemitério clandestino atestando os crimes dos três responsáveis pela misteriosa e decadente estalagem. Um parênteses na luta contra o Conde Bruxelas e tudo o que ele representa. Mas atenção! A saga da Liga Mundial continua. A Detetive Irina não desistirá facilmente. Mas afinal, o que aconteceu no passado que tornou inimigos Irina e Bruxelas? E o que houve no passado entre Irina e o Detetive Anselmo? A motivação de Anselmo resume-se a Fátima? O que Carol, Andréia e Fátima descobrirão sobre a guerra secreta entre a Liga Mundial representada por Irina e a Rede, representada por Bruxelas?

Em breve, neste espaço, poderemos acompanhar a parte 2 de "Tempo de caçadoras": O OLHO MORTAL. O olho esquerdo, que restou ao Conde Bruxelas, depois que Fátima lhe vazou o direito com um canivete, durante a luta travada no sótão do Colégio Modelo, em "O fantasma do apito".

O olho que olha com um ódio mortal...

Sim, na próxima novela o terrível Conde Bruxelas vai reaparecer.)

 

 

imagem pixabay

 

 

Miguel Carqueija
Enviado por Miguel Carqueija em 12/02/2025
Reeditado em 13/02/2025
Código do texto: T8263304
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