Manifesto do Não Império

Macapá, 22 de dezembro de 2013.

Não, não quero ser imperador

Ganhar e escravizar outros

Retirar da mesa o pão de quem suou

Por causa do banquete que hoje terei

Não, não quero ser imperador

Derrubar o piquiá que foi da tua infância

Ver a tua casa de apenas uma parede

Enquanto passo com mil árvores ao teu lado

Como se fosse nada dali a não ser uma parede

Não vou ganhar dinheiro

Às custas do teu sonambulismo

Ver a tua juventude se esvaziar

Num um falso cachimbo da paz

Se estarei apenas de passagem por esta terra

Por que não plantar para deixar um legado?

Acho que o mundo precisa dar um tempo de imperadores

Pois eles têm trazido menos alívios e muito mais dores

Eu juro que entendi de Darwin ser o mais adaptado

Não o mais forte, mais chique, o mais endinheirado

Como as abelhas, coletivo.

Será que o mundo ainda depende de um imperador?

Não podemos decidir juntos o caminho que for?

Tantos sábios disseram na brisa que ecoa

Para todos há lugar e que esta terra é boa

E no conjunto, permanecer faz sentido.

Não quero pisar nos direitos de ninguém

Atropelar a história de tantas gerações

Cimentar o convívio seu com o seu riacho

Enquanto bebo champanhe na piscina

Percebi então que meu Carrão

Valia em moeda mais do que uma escola

E antes eu só tinha sujos aguerridos

Um lápis quebrado e uma borracha

Ficou para trás a criança

Que sonhava com justiça e seres iguais?

Talvez o mundo não precise tanto de imperadores

Que inundam as mentes com tão falsas cores

Que enchem as casas em mais aparelhados

Que dizem pais e avós ultrapassados

Pois o que vale é o momento

Espartanos modernos são os novos imperadores

Não quero esta paz que mata inocentes e flores

Nações inteiras sem ideal

Quem manda é o capital

Afinal, Homem, extinguir-se é o intento?

Da minha parte,

Trago ainda um fardo cheio de esperança.