Diante de Ti, Senhor!

“Senhor, cubra-me na aflição e na dor. Livra-me da angustia das incertezas.”

Através dos séculos o homem aprendeu recorrer ao Teu divino amparo, que aos que creem vem norteando em todas as dificuldades. E eu aprendi nos catecismos cristãos, nos conselhos e ensinamentos de meus pais, a Tua constante presença batendo à porta do meu coração. E então, até inconscientemente recorro a Ti e aprendi aceitar a Tua vontade.

Em meus momentos de solidão, como uma criança em desamparo busca seus pais eu busco a Tua graça e a Tua clemência, como um enfermo busco a unção por teus santos óleos e aceito tua vontade.

Também em meus momentos de solidão recorro ao Teu auxílio em minhas visitas aos templos que o homem Te fez e sento-me frente ao teu altar para que Tu vejas o meu olhar e me oriente na minha caminhada.

Mas, no meu batismo Tu selaste a minha vida, e como uma visão de teus profetas me foi reservada a sorte de terminar meus dias em solidão. Na minha infância e na minha mocidade vivi casa cheia, entre amigos na minha escola, entre parceiros em meu ambiente de trabalho e me destes também uma companheira. Mas, estava determinado que o tempo se encarregasse de fazer cumprir a profecia, e me reconduzisse à minha condição original de solidão.

Também Jesus sofreu o abandono e a solidão, em Seu sofrimento bradou no alto da cruz “Eli! Eli! Lamá sabactani?” Como se tivesse sido traído e desprezado.

Também a história do mundo mostrou-me centenas de momentos de casos de ascensão e queda de homens e de impérios. Muitos momentos levam homens a situações de abandono e descrédito, ao desânimo. Experimentam, às vezes, a traição ou a desconsideração e negação de afetos, amores, como Caio Júlio quando foi assassinado no senado romano: Tu quoque, Brute, fili mi?

Assim é. Sou barro da terra, apesar da minha imagem e semelhança a Ti, como me mostra o livro do Gênesis. Sou carne e estou sujeito aos males que dela advém. Como superar ou como aceitar sem estar em sintonia com a Tua mente?

Nasci só, vivo assim em meu íntimo, e assim morrerei, porque sou único, fui moldado na Tua oficina e a mim foi dada a vivência e experiência que me cabia pela Tua vontade. Ninguém nasce ou morre por mim, ninguém vive na dependência de minha vida.

Morreram meus avós e meus pais continuaram a viver por eles, morreu o meu pai e minha mãe continuou por ela, morreu a minha mãe e eu permaneço aqui, aguardando Tua vontade. Meus irmãos todos constituíram a própria família e se foram. Gerei um filho que me compensa na minha luta. Mas, seguindo os caminhos da humanidade ele também constituiu a própria família e assim voltei à minha condição original.

Esta é a solidão que insiste em bater à minha porta e lembra-me que estar só é a condição original de todo homem. E como lidar com isto?

A solidão me coloca em situação de liberdade e também de abandono. Por isso concedeste-me o livre arbítrio. Aceito a solidão como preço da minha libertação. E temo quando me sinto abandonado por Ti à minha própria sorte. Abandonado por tudo que me é bom, por que gosto e que preciso.

É o preço da minha escolha que abre em mim a porta da angústia.

E a angústia provocada pela solidão é o sentimento que experimento quando me vejo só no Teu mundo. É o mal-estar que se instala quando descubro possibilidade de morte de meus anseios, de meus sonhos, a morte de cada uma das minhas possibilidades de existência plena, a morte de cada desejo, de cada vontade, de cada projeto.

Estas são as nuances da solidão que me oprimem e me obrigam a te procurar, como um filho pródigo a implorar Teu perdão, a Te pedir que não me permita ser um estranho e um ator de baixa categoria no teatro da minha vida.

Afasta de mim esta amargura, Pai. Domine meus pensamentos e minha alma concebida na Tua imagem, Ampara-me na minha busca, livra-me da angustia e da dor, não permita que eu seja um andarilho em Teus domínios, seja minha fonte de vida, seja minha unção na morte.

O tempo, Senhor, já é o algoz da minha existência e pouco a pouco vai cerrando as cortinas do palco da minha vida. Permita-me a cura das lesões que em mim provoquei, ajude-me na superação de minhas derrotas, ensina-me a sentir o Teu amor, como um pai zeloso pelo filho.

E, no tempo que me resta, que eu veja com positivismo as lições que recebo pelas minhas tendências, pelos meus descuidos e pela minha negação em manter a sintonia entre o meu espírito e os Teus sinais de rumo.

Dá- me o prazer e a intensidade de viver com orgulho a minha solidão, que eu possa ter minha autossuficiência e não projete meus sonhos, minhas vontades e o tempo que me resta na existência alheia. Que eu não faça do homem o meu apoio e seja fiel à Tua infinita bondade.

Senhor, por herança deste-me toda a terra e a liberdade de ir e vir, também a força do teu espírito para que eu cruzasse todos os meus anos que já estão no teu livro de juízo.

Ampara-me nos anos vindouros e prepara-me para a eternidade de meu espírito à tua semelhança.

Permita-me Senhor, que meus erros sejam reparados para que possa ser feliz em teus domínios.

Da-me força para suportar as tuas provações, burile meu espírito. Seja meu guia e minha luz, prenda-me, Senhor, no teu propósito de manter minha vida em ti!

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" Confia no Senhor teu Deus de todo o teu coração, de todo o teu ser e tudo Ele te dará."

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Paulo de Tarso
Enviado por Paulo de Tarso em 13/01/2019
Reeditado em 09/10/2019
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