A pedra vermelha.
Ela entrou na sala e encontrou seu amigo olhando o quadro na parede. Sua face cansada mostrava a preocupação que a perseguia sabe Deus à quanto tempo. Sentaram-se e serviram-se de uma paz instantânea.
Os olhos dela faiscaram e não era necessário ela contar a história para o amigo, ele já sabia de tudo.
***
Hoje eu queria apagar meu passado. Na verdade tenho tentado fazer isso há tanto tempo, mas fui impedida em todo instante por algumas pessoas que me amam, mas nunca percebi o amor que elas tinham por mim e minha nossa, como me envergonho disso.
Cheguei a querer derrubar o guarda-roupas e retirar cada papel amassado do fundo, alinhar cada pensamento estranho e deletar tudo de uma só vez.
Pensei em arquivar algumas bobagens só para poder me lembrar de alguns momentos bons, mas tudo sempre leva ao mesmo ponto, porque passado é passado e fica sempre uma mistura no mesmo pacote.
(Você não pode esquecer quem você é só porque apagou algumas cicatrizes)
Um eco que permaneceu em minha mente por pouco tempo e foi o suficiente para desistir de apertar o botão “delete” naquele instante.
(Você pode precisar disso um dia. Todo mundo precisa de um passado. Até as pedras tem passado.)
E foi estranho, pois estive tanto tempo guardando arquivos de minha vida apenas pelo fato de alguém pedir pra guardar e no exato momento que estamparam na minha face a besteira que eu estava prestes a fazer eliminando minhas marcas eu desisti.
A sensação de errar foi iminente.
(Você só vai apagar o seu passado e o que é uma pessoa sem passado? )
Eu realmente não sei meu amigo, não sei.
Agora olho minhas mãos e as vejo mais jovens do que pensei estar. Estava tão pesada carregando coisas que não precisava, mas percebi que não precisava apagar para me livrar do peso.
(Deixe em casa... ).
E lá ficaram as lembranças ruins que não faço questão de mexer.
E lá permaneceram todas as mágoas e todos os desejos não realizados.
E as palavras dos muitos momentos vividos escritas em folhas já amarelas.
***
O amigo entregou uma pedra vermelha e ela encarou com total paciência.
- Obrigada!
- Você não precisa me agradecer.
- Você me ajudou.
- Não! Nada fiz. Apenas aceitei e apoiei a sua decisão. Através disso você percebeu que a responsabilidade seria sua. Já não haveria quem culpar.
***
Senti um prazer imenso em armazenar toda aquela história e agora, a nostalgia me acompanhava alegremente aonde quer que eu fosse...
Junto à reluzente pedra vermelha que cintilava calmamente o seu passado inapagável.
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Alisson, obrigada por me dar a pedra vermelha.
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