Hoje vou transcrever um texto que achei muito interessante ... Este texto foi escrito por uma grande amiga,  um grande ser humano, dotada de uma inteligência e transparência incrível !! Lá vai !!! 

                                         MOÇOILA

Comecei a semana irritada. Desconfortavelmente, incomodada. Sábado trabalhei até a 1h30 da manhã de domingo e no mesmo domingo, cheguei às 8h30 na sede da empresa. Parte das minhas atividades são diretamente ligadas a fechamentos de contratos e lidar com clientes é condição "sine qua non". Qualquer erro da minha parte na condução das negociações, pode levar a "queimar a mesa" - expressão usada no seguimento em que milito, em outras palavras, desistência do cliente. Para mim é um trabalho prazeiroso e o faço com muita naturalidade, desembaraço e dinamismo. Tenho facilidade em dominar uma mesa, um assunto, uma negociação e as minhas "mesas" se concluem com sucesso, outras com elogios, também.

Sábado contudo, essa satisfação no fechamento, pela primeira vez, não aconteceu. E fiquei frustrada com minha inabilidade em lidar com uma cliente, completamente insegura, na realização do negócio pretendido e perdi a tolerância. Foram três horas de explicação, argumentação, apaziguamento e quanto mais eu tentava, mais ela acuava. Ao final, perguntada se estava satisfeita com os esclarecimentos, ela me responderia que era frágil e que eu estaria lhe sufocando. Fiquei "bege"!

Cheguei ao meu limite aceitável.

Ainda que com educação, pedi licença e saí da mesa. Exausta, frustrada e irritada, me afastei. Sugeri que outra pessoa conclui-se a mesa e uma colega acabou por fazê-lo. Ainda bem que não se perdeu a negociação, pois demos como concluída, apesar das pendências, já que a minha substituta extraviou ou rasgou documentos, diante do circo que se formou em torno dessa cliente, que se não bastasse, antes da conclusão alegou que a caneta dela havia sumido. A mesa era composta da cliente, duas irmãs, um cunhado, duas sobrinhas menores de idade, um advogado, para darem o suporte psicológico que ela tanto desejava... Do lado da empresa, euzinha, mais três profissionais, garçons, barulho, evento e cansaço, muito cansaço...

Querem saber a profissão dessa frágil, insegura e sufocada moçoila? Psicóloga!
Pensava até uns anos atrás que bacharel em psicologia fosse um ser habilidoso, emocionalmente bem resolvido, capaz de fazer pontes e sair das dificuldades da vida, com honra ao mérito. Quanto mais vivo, mais aprendo. Preciso retomar minha recuperação, na busca da minha tolerância, mas não mais com psicologos. Da terapia me dei alta, há três meses, já que minha terapeuta era mais zureta que eu mesma. Quanta loucura...
Ainda resta um gosto amargo... mas sei que tudo passa.