Sobre a reconciliação II

Reconciliação, sim, perdão, sim; impunidade, não, passar a mão na cabeça, não!

Aceitar o pecador, sim; aceitar o pecado, não!

O que fazer com o pecador? Dar-lhe orientações, condições para ir e não pecar mais.

O que fazer com o transgressor? Ensinar-lhe de novo as regras.

O que fazer com o infrator que sabe as regras e infringe as leis? Punir, deter, tirar-lhe o direito e a liberdade de ir e vir, para que ele não faça pior; dar-lhe condições de se reeducar para viver novamente em sociedade.

O que fazer com o doente mental, o psicopata que se conduziu desordenadamente entrando nos direitos do outro? Tratar de sua saúde e dar-lhe condições de viver sem que agrida a si próprio e aos seus semelhantes; conduzi-lo a canalizar a sua ação para o trabalho, as artes; tirá-lo do convívio comum e vigiar indefinidamente a sua conduta; dar-lhe meios para que possa viver com dignidade; caso tenha alguma sanidade, ensiná-lo a contribuir para a comunidade em que vive: limpando, plantando, pintando, etc..

E se o infrator, o agressor não chegou a cometer crimes, mas ofendeu, feriu a dignidade do outro, magoou profundamente, traumatizou _o seu cônjuge, o seu filho, o seu pai, o irmão, o empregado, o patrão, o companheiro, o colega_ com seus hábitos, vícios, seus descontroles, suas paixões desregradas? E se ele envergonhou, humilhou uma ou mais de uma vez o seu semelhante no trabalho, no lazer, no lar? Ele não pode ficar impune! Ele tem que mudar de vida, tem que aprender a valorizar, a respeitar, a ser digno; tem que se converter, não pensar só em si, saber conviver, dar a sua contribuição, não ser peso morto, não ser problema, trazer soluções. Dele tem-se que exigir. Amor-exigente cura, resgata, liberta!! Fazer que não viu, não! Fazer com que ele aceite conversar sobre o erro e acate a condição de transformar-se.

Só que é preciso saber que há casos em que se erra só uma vez e perde-se para sempre a confiança do outro, o outro não quer e não sabe dar a sua cara a bater novamente, tem medo e não tem a coragem de confiar porque, pensa, do jeito que foi, o transgressor vai fazer de novo, e ele, vítima, não vai saber suportar. O que fazer então? Então, amigo, aí, só Deus. Só Deus para mudar corações, o do transgressor, o da vítima.

Só também que, nessa vida, uma hora se é vítima, outra, se é transgressor; então, novamente, só Deus para converter, para mudar. E às vezes mudar de relacionamentos também não resolve: na vida se desempenham papéis. É preciso livrar-se do papel de vítima, de transgressor. Se se acostuma a sempre resolver as coisas com gritos, com choro, na brincadeira, mentindo,trapaceando, aceitando abusos, sendo permissivo, então é preciso refazer as escolhas de como agir e reagir para não levar o outro a agir e reagir inadequadamente.

Entretanto, que não é fácil, ah, não é. Convivência é difícil, relacionamentos são difíceis, nada é estável, não se tem garantia de nada, nunca conhecemos bem o outro, sempre nos surpreendemos com as nossas próprias ações e reações nesta vida. Somos continuamente chamados a aprender e ensinar nas mais diversas situações. É preciso, pois, confiar numa Força Maior, que, para mim e no meu caso, é Deus. Deus é que tudo pode; Ele, sim, é perfeito, nEle, sim, eu posso confiar sempre. Porque eu e meus semelhantes somos humanos e humanos sempre erram, falham, deslizam, caem,pecam. Quando conseguimos nos libertar de todos os tropeços, é porque já estamos do outro lado, onde, acredito, não mais se peca, porque aí já se está do lado ou na frente de Deus!

E lá, na frente de Deus, por tudo o que sei, é o Acerto Final; lá não há como trapacear; Ele tudo vê e viu. Lá não se tem mais a oportunidade de regenerar-se, só de pagar pelos próprios erros; lá não se pode fazer mais nada por si, só pelos que ficaram, orando e intercedendo. Os que ficam, esses, sim podem orar e interceder uns pelos outros e pelos que vão ou foram, mas os que vão ou foram não podem mais orar ou interceder por si, nem pelos que também já se foram. Então, meu amigo, melhor é acertar tudo o que puder por aqui mesmo, enquanto há tempo. Quem sabe, começar por perdoar, pedir desculpa, perdão, desculpar, retratar-se, emendar-se? E pedir pela misericórdia de Deus, que é Pai, mas é Justissimo. Eu acho melhor.

Neusa Storti Guerra Jacintho
Enviado por Neusa Storti Guerra Jacintho em 03/08/2009
Reeditado em 29/11/2009
Código do texto: T1735048
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