Dos cozinheiros

Cada nova situação, cada nova fase de uma vida é o resultado de experiências e tentativas que ora deram certo, ora não. O normal é dizer que não se pode saber o que acontecerá no futuro, entretanto, não é difícil imaginar qual o resultado de quando se mistura água quente e pó de café num saco de pano. Sabemos que essa mistura vai resultar em uma bebida que não é a limonada. Há quem goste de adicionar açúcar, há quem aprecie essa bebida “in natura” e ainda, quem prefira não usar o saco de pano ou coador, apenas cozinhar o pó e esperar até que este se assente. Mas o que tem de comum em ambos os casos? É claro que todos sabem no que vai dar.

Então, conseguimos concluir satisfatoriamente tarefas simples como passar um café, assar um bolo de chocolate ou produzir uma limonada, mas não conseguimos realizar com o mesmo êxito uma tarefa ainda mais simples. A vida humana é lamentavelmente conturbada e confusa, por que achamos mais difícil viver do que executar as tais simples tarefas.

É certamente mais difícil dar um bom dia a um mendigo do que coar um café; preparar um bolo não pode ser mais simples do que cuidar da própria vida e avaliar única e exclusivamente os próprios erros; mas, seguramente, o ser humano prefere tomar o suco de quinze limões, espremidos com casca e sementes, adicionando à bebida amido de milho, polvilho azedo, bicarbonato de sódio, pimenta e sal de fruta, do que admitir que esteja errado.

Um recado, um olhar, uma opinião, ditos ou direcionados, às vezes até pra pessoa certa, mas na hora errada, é como colocar sal no café, terra no bolo ou qualquer outra coisa que não seja açúcar pra adoçar a limonada. Está obviamente claro que vai dar algo errado, mas ainda assim insistimos e, depois não queremos comer o bolo de barro tomando um café salgado ou uma limonada com gosto de talco pra chulé.

Tudo bem! Nada de errado em jogar a porcaria fora e tentar fazer de novo do jeito certo, mas não se devem esquecer os elementos que foram acrescentados erroneamente, ou os futuros resultados serão tão ou mais desagradáveis do que o anterior.

Pode ainda acontecer dos ingredientes acabarem ou que os que se tinha estocado fossem suficientes apenas pra uma receita. Quando isso acontece, ao invés de tentar outra receita, provavelmente o indivíduo ira até o mercado ou à padaria mais próxima e vai comprar um bolo pronto ou uma garrafa de refrigerante. Nem todos os vizinhos têm à mão limões ou ingredientes para um bolo, mas ainda bem que a maioria deles tem pó de café e açúcar, então ao menos o café ainda dá pra garantir. Com certeza isso seria melhor do que esquecer o passado ou viver dos sonhos de: “... e se eu não tivesse dito...,... e se eu tivesse esperado um pouco mais...,... e se eu estivesse em outro lugar naquela ora...,... e se...,... e se...,... e se...”.

Viver é certamente a mais simples das tarefas humanas. Temos os elementos necessários, todos os ingredientes à mão, mas insistimos em fazer do jeito errado. Pode-se enfeitar ou rechear um bolo com nozes, mas há quem prefira pedras. Acrescente hortelã ao suco de limão, vai ficar muito saboroso, mas há quem prefira “outras ervas”, ainda que o gosto seja horrível. É com amor que se adoça a vida, mas o dinheiro é preferível, não importa o quão amargo e artificial seja o seu gosto, é tecnicamente mais saudável.

Obs.: Neste texto, em momento algum tome as expressões bolo, limonada e café como a coisa em si, mas sim como representações da vida.

Sou apenas mais um maluco a teorizar idéias. Nada do que digo ou escrevo deve ser tomado como ideal absoluto da verdade, apenas ponderações.