Dos quadrados

Após várias experiências e tentativas, fases e situações, o indivíduo pode achar-se em elevado grau de evolução ou de decadência ou ainda, em um meio termo, nem tão evoluído, nem tão decadente.

No caso da segunda e da terceira opção, ou em algum ponto entre elas ou entre elas e a primeira, você olha pra trás e se conseguir enxergá-lo, pode encontrar um conselho em sua mente extraído da própria situação: “O pior erro é aquele que não foi cometido, por não se ter ao menos tentando acertar”. E uma coisa que dificulta tal encontro é justamente um outro conselho, porém um tanto torto, que geralmente algumas pessoas, às vezes até bem intencionadas, dão a outrem ou a si mesmas. E este é: “Não interessa o passado nem o futuro, o que importa é o presente.”.

Ora! Imagine que o presente é você estar em um quadrado. Você teve que dar um passo pra chegar até ali e estava em outro quadrado antes de dar este passo. Bem! Se o passado e o futuro não interessam, então você vai morrer no quadrado em que se encontra. Como, ao ignorar o passo dado, dar-se-á o próximo passo?

Pois que eles fiquem “cada um no seu quadrado”. Eu prefiro o meu presente sonhando, imaginando ou planejando o meu futuro olhando beeeeeeem pro meu passado.

Procure um só historiador que não tenha ao menos uma bugiganga velha em sua estante. Com certeza não será esta uma tarefa tão difícil quanto seria encontrar um que tenha apenas uma única peça.

Faça uma busca bem menos exaustiva e vai se deparar com vários tecnicistas presos em seus quadrados, com seus mundinhos totalmente práticos, jogando fora até as letras mortas (imagine as vivas), pra que nada fique no caminho de seu eterno afã em satisfazer um sistema.

Por essas e outras é que os bolsos dos psicólogos e dos farmacêuticos estão cheios. Quero deixar claro que não tenho absolutamente nada contra as referidas profissões, mas o fato é que, a vasta clientela tecnicista e sistemática não lhes deixa faltar o pão. Enquanto isso, os mesmos profissionais estão mais preocupados com o quanto vai lhes custar a viagem de férias com a família no fim do ano, do que com a crise “deprê” dos seus habituados.

Também por isso é que eu prefiro tomar uma dose de conhaque com sal, ou puro mesmo, do que um antiinflamatório pra combater uma simples dor de garganta. Admito que só cheguei a esta conclusão após gastar salários com antiinflamatórios, mas este foi apenas um dos meus muitos erros cometidos e um dos poucos que pude consertar. As consequências por uma atitude que magoou uma pessoa ou gerou ira em seu coração, são certamente bem mais complicadas do que um dinheiro que se gastou de forma errada.

Contudo! Ainda que eu tenha que conviver com algumas consequências insolúveis, ainda que em meu coração eternamente arda o desejo de que as coisas tivessem tomado outro rumo, não vejo apenas uma forma quadrangular preta sob meus pés, vejo também que há uma branca atrás de mim e outra à minha frente, outra preta logo mais e assim por diante.

O passado é tão importante quanto o presente, na construção do futuro. Não ande olhando pra trás, exercite sua memória ou então aprenda a ter olhos nas costas; não caminhe olhando pra baixo como quem só considera o momento, desembarace sua percepção e desenvolva sua intuição; mas, acima de tudo, nunca esqueça seu passado.

Pessoas não são degraus, mas a soma das experiências é que faz de cada situação uma lição. A vida é realmente um jogo e, o jogo da vida é como um torneio de xadrez, onde cada situação é uma partida diferente e tem seu próprio tabuleiro. Mecha uma única peça na hora errada e isso pode fazer com que você entregue o jogo definitivamente, ou pior, poderá ficar tão desconcentrado que provavelmente perderá outras partidas. Porém, ainda que a vida seja um jogo, nunca jogue com a vida de outras pessoas, isso fatalmente lhe trará consequências inimagináveis.

A vida é uma arte e não há um único ser humano que não seja um exímio artista. Os que assim não procedem são apenas ledos preguiçosos.

Sou apenas mais um maluco a teorizar idéias. Nada do que digo ou escrevo deve ser tomado como ideal absoluto da verdade, apenas ponderações.