JANEIRO

Pega a agenda e abre em janeiro. Parece adequado rabiscar as páginas vazias. Reflete sobre a metáfora de preencher o vazio e desiste; não quer falar sobre isso. Encher-se de linhas com baboseiras existenciais é tudo que janeiro não precisa! Concorda.

Pára com os rabiscos e conversa sobre as novelas. Faz o social e sente-se bem. Bem? Não, sente-se, no máximo, confortável.

Abre e fecha o celular. Faz disso um ritual. Fantasia que o mundo existe ali dentro do aparelho e novamente desiste; um torpedo absurdo chega.

Confere e surpreende-se com um estranho desapontamento: a agenda é de fevereiro.

Desiste por fim.

Patricia Florindo Martins
Enviado por Patricia Florindo Martins em 10/08/2011
Reeditado em 11/08/2011
Código do texto: T3151904
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