O que faz o filósofo da educação?

Wilson Correia

O que um filósofo da educação faz é colocar a própria vida entre a admiração e o espanto.

Nesse misto de pasmo e estranheza, ele problematiza aquilo que tem a ver com a educação.

O problema leva-o à perplexidade, garatujeiro de soluções, caminhos, trilhas e itinerários.

As teses conflitantes não abalam o filósofo da educação. Ele se deleita nos contraditórios.

Ele contrasta entendimentos e, para tanto, mobiliza a razão e o perceber, o sentir e o intuir.

Transcende a maqui e enleva-se no entusiasmo que o coloca para além do certo ou errado.

Para o filósofo da educação a realidade não se apequena na binaridade do é “sim” ou “não”.

O maniqueísmo do “isso ou “aquilo” não cabe na problematização do filósofo da educação.

O filósofo da educação enamora-se da raiz, da rigorosidade. Ama trilhas. É avesso a trilhos.

Abominando a rigidez e alimentando a flexível dialeticidade, ele pergunta, indaga, interroga.

Nem por isso, o filósofo da educação chega a esperar resposta em “3 por 4”. Clara. Distinta.

Para ele, não pode haver resposta “certa” quando o certo é a impermanência de suas razões.

O filósofo da educação vive o provisório, não sem autoconsciência, sensibilidade e emoção.

Ele não privilegia a lógica da fixidez exata, mas, sim, a existencialidade de problemas vitais.

Para o filósofo da educação, não há liberdade desprovida de disciplina e de responsabilidade.

Ele entende que a transmissibilidade não é tudo, como não o é a construção solitária do saber.

Para ele, o trabalho cognitivo individual não dispensa a convivência com o ato de transmitir.

Ele valoriza a tradição, mas toma-a como o imenso platô para as maquinarias das inovações.

O filósofo da educação não se dá o direito de fechar o livro, o ouvido, os olhos e o coração.

Ele tenta ver a parte e o todo, o cininho e o tigre, a árvore e a floresta. Por isso é complexo.

O filósofo da educação acredita em mestre ignorante e sabe que sabe para nunca saber tudo.

O que o filósofo da educação coloca ante seus olhos é a vida mesma, a sociedade, o mundo.

O filósofo da educação não vê a educação desvinculada da filosofia. Acredita no vice-versa.

Enfim, o filósofo da educação é um raio de vida no mundo. Procura, antes, o si mesmo de si.

Por isso ele não quer seguidores ou discípulos. Quer que o outro se ache no si mesmo que é.