Mensagem pela passagem dos dias

Pelo calendário romano, apropriado há séculos pelos cristãos e outros povos ocidentais, o dia 31 de dezembro marca o fim de um ciclo inexato de 365 dias que se convencionou chamar “ano”.

Seja pelo calendário romano, hebreu, chinês ou marciano, o tempo sempre passa inexoravelmente.

O tempo de nossa civilização é marcado pela rotação da Terra em torno de si mesma ou em torno do Sol. É marcado ainda pela subjetividade das esperanças humanas que fazem a cada ciclo mais uma época de promessas e intenções.

Cinicamente eu creio na imbecilidade da raça humana que seguirá o mesmo padrão, seja em 2012 ou 3500.

Farei previsões fáceis e óbvias que se concretizam no exato momento que teclo estas mal traçadas linhas. Morrerão motoristas imprudentes na estrada, inocentes também morrerão por conta desta imprudência egoísta e epidêmica.

Jovens embriagados morrerão ao volante matando outros jovens embriagados ou não. A morte é um fato consumado para esta geração que se julga invencível e que o pior só acontece com os outros.

Guerras eclodirão aqui e ali, como sempre por séculos e séculos até o final dos tempos. É o fardo da raça humana, tentar de todas as formas caminhar para o extermínio.

Crimes continuarão a acontecer, assassinatos, assaltos, tráfico de drogas. Mais jovens se drogarão e farão besteira e as mães chorarão tarde demais.

Estes mesmos crimes que são alimentados por aqueles que “recreativamente” usam drogas de todos os calibres, sejam elas “legais” ou ilegais.

Mais corruptos serão denunciados pela imprensa enquanto os corruptores de sempre navegarão em águas tranquilas. E nós, meros mortais, corruptores e corruptos em pequena escala, cinicamente nos escandalizaremos sem nos dar conta que jogamos o jogo sujo da sociedade ocidental.

Pois é... 2012 entra pela porta dos fundos, as boas almas pedem por paz, alegria e riqueza (pois o materialismo é inerente à condição humana).

Nosso planetinha azul dá suas voltinhas em torno do sol, alheio aos nossos desejos. Ele já existia antes e continuará a existir depois que nos formos.

Eu só posso desejar, uma vez que meu cinismo não me impede de ter esperança, que você que bebe, não dirija. Que você que usa drogas, saiba que são as drogas que te usam, que você que é brigão, seja menos imbecil antes que um imbecil mais forte ou armado apareça pela sua frente.

Desejo ainda que a ética sirva para todos, que antiético não é só aceitar suborno, mas também colar na prova ou roubar no troco, ou trocar etiquetas de preço, ou mentir por qualquer motivo, ou trair o (a) namorado (a) ou esposo (a), ou dar uma “cervejinha” pro guarda, ou..., ou... tudo aquilo que normalmente se faz como e só é condenável se alguém nos flagra.

Desejo do fundo de meu coração amargo como fel, que ninguém julgue sem antes julgar seus próprios atos, desejo que os homens sejam menos fúteis e as mulheres menos vulgares, que os cristãos usem a palavra de Cristo olhando para o espelho antes de olharem para a vida alheia.

Desejo que os políticos não roubem o futuro de nossas crianças com a anuência bovina de eleitores que só se indignam de tempos em tempos e esquecem tudo nas próximas eleições. Os políticos são nossos empregados e nós somos péssimos patrões.

Desejo que nossos impostos tenham um bom destino e que os sonegadores sejam menos hipócritas e parem de condenar os atos alheios, uma vez que justificam sua incapacidade de contribuir com a sociedade pelos altos valores dos impostos sonegados. Estes mesmos, que ainda que tivéssemos um sistema tributário justo, ainda assim sonegariam.

Enfim, como bom macaco, desejo que olhemos para o nosso próprio rabo, antes de olharmos para o rabo alheio.

Mauro Gouvêa