Visões daqui de onde estou

Eu estava do lado de baixo e não sabia como.

Era como se metade do meu corpo estivesse mergulhado em um rio de vidro. De onde eu estava eu via pessoas passando e caminhando. Era como se eu estivesse no inferno vendo, nos vidros em cima, o que acontece no purgatório.

Vi dois brahmanes caminhando de uma forma estranha e minha mente foi comprimida de uma forma fantástica enquanto três tipos de sons diferentes ecoavam ao mesmo tempo em minha cabeça.

Lá de baixo, onde eu estava, senti como se alguma água fosse jogada em cima de mim como uma cachoeira. Imaginei a princípio que eram cuspes lá e cima.

E agora me conservo calma. Daqui de onde estou, debaixo da água, sei que não consigo ver meus pés de forma clara, mas sei que estão lá.

Assim como tenho certeza que sinto meus braços, embora não possa vê-los.

A minha cabeça continua sendo pressionada e meu nariz não existe mais.

Por instantes meu suor me ocorre de forma que eu esteja escorrendo. Parte do meu cérebro eu não sinto – o lado direito. Parece que alguém mordeu meu lado direito do cérebro.

E minha orelha esquerda está quente e desaparecendo aos poucos. Sei que ela não está lá. Então eu tenho três pernas, dois braços longos e apenas uma orelha.

Meu lado direito do cérebro – a parte restante que não foi mordida – começa a querer sair por cima de uma geosfera diferente daquela que eu tinha imaginado. E então começo a empurrar minha massa encefálica para fora do meu crânio. Não com as mãos, evidentes, mas com uma força interna que eu empurro com o pulmão.

Três coisas coloridas, que eu não soube identificar, apareceram do meu lado e ficaram me olhando por muito tempo. Azul, Vermelho e Rosa. Eram cores fortes mas deixou de me incomodar depois de um tempo.

Pode ser sugestionismo, eu não me importo. Eu noto nitidamente uma massa fazendo barulho. Molhe sua mão e coloque numa vasilha farinha e muita água. O barulho dessa massa mexida com a mão molhada. È exatamente esse barulho que ouço.

Também consigo ouvir as artérias do meu coração. E sei quando ele pulsa, porque ele está no meu ouvido, está do lado de dentro do meu cérebro.

O vento, quando bate minha inexistente orelha esquerda, me faz sentir náuseas e meu corpo dói. Mas estou preocupada mesmo é com a náusea.

Os três espectros coloridos ainda me acompanham, e mesmo não conseguindo visualizar onde ficam seus olhos, sei que estão me vendo. Não tenho medo. Sei que eles não podem me fazer nada. Sei que são meus amigos. Mais pelas cores do que por qualquer coisa. Nenhum ser cor de rosa atacaria, tenho certeza.

Maria Aguilar
Enviado por Maria Aguilar em 23/03/2007
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