Fechado para reformas

(...lendo "Um tanto de coisas" de Ana Nunes)

Hoje resolvi ficar comigo

Não vou atender a porta, nem o telefone.

Hoje resolvi deixar de existir lá fora

Pra fazer-me existir apenas dentro de mim.

Ah, quantas coisas desarrumadas por aqui...

Uma tempestade passou e eu nem havia percebido.

Andei me abandonando, me ocupei demais com o mundo que vivo

E esqueci-me de viver o universo que sou.

Percebo agora que “Um tanto de coisas” quiseram morar em mim,

Como um pássaro que hoje me deu um tremendo susto

Querendo entrar na minha casa e deu com a cara na janela de vidro fechada.

E ele, como tantas outras coisas, pousou ofegante no galho da árvore ao lado olhando pra mim

Com cara de dor e frustação.

Mais que nunca, é hora de abri minhas portas e janelas.

É hora de me enxergar melhor para sofrer menos.

Talvez, assim, vou dar conta de que as pedras do caminho

São pedras preciosíssimas.

Que entrem os “sacis e as fadas”... os pássaros e suas cores.

Uma árvore cresce do lado de fora e um galho quer invadir meu quarto.

Pensei em podar... Mas por quê?

Dei-me conta, é um abacateiro e o que ele quer é trazer seus frutos pra dentro de minha casa!

Meu Deus! Como tenho me existido tão pouco.

Como tenho resistido a isso tanto assim?

Por isso, a partir de hoje, me proponho a viajar para o interior;

Para o interior de mim mesmo.

Hoje, quero ouvir o que eu tenho pra me dizer.

Vou deitar no colo do meu espírito e pedir cafuné

E ouvir as suas verdades...

Estou em obras... Fechado para reformas.

Vavá Borges
Enviado por Vavá Borges em 09/02/2014
Reeditado em 09/02/2014
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