INTERROGAÇÃO

Quem quer chorar, por dias, todos os dias, quem quer gritar mais um dia? Guarde o amanhã para quando acordar pela manhã, talvez construa seus passos lembrando dos sonhos que ficaram na lembrança.

Quem carrega o drama de ser perfeito, mesmo na idiotice de acreditar em si mesmo? O mais que perfeito ficou na escola, tão imperfeito quanto o pretérito perfeito da esmola, e as ruas vazias acolhem blocos que foram do carnaval ao luto de uma dor infernal.

Dia a dia passa essa vida, uma pequena história dentro de outras muitas histórias, e tudo gravado nos poemas desconhecidos dos amantes, ardentes, momentâneos...

Quem duvida da própria loucura, falando sozinho diante do espelho, pensando no novo, quando se vê velho o bastante para tentar novamente?

Quem são as pessoas que se cruzam no silêncio, na solidão de um dia cheio?

O que dizem os olhares perdidos na descrença de um mundo violento, os olhares na cruz de uma eternidade recebida a custa da falta de liberdade de pensamento?

Quem ainda pensa em chorar quando a dor de um é a salvação de uma multidão?

Quem aguenta um discurso perfeito parafraseado no peito de um retirante, se o maior dos oradores engana o próprio sentimento?

Quem quer gritar a dor do semelhante se sua verdade não enxerga a própria ignorância?

Seguem as noites com a lua em sua fase mais nua, a lua de mel de uma caricatura, e os homens dormem a vida que nunca tiveram ou se propuseram a ter.

Assim morre essa história de amor, já que as perguntas são a própria afirmação do fim.