É engraçado como pode ser insignificante o espaço entre dois extremos de uma régua. Mesmo que essa régua represente o espaço entre abraços, carícias e discórdias. Centímetros que podem transformar um sorriso em dessabor de tristeza ou tristeza em sabor de alegria. Estranho como nossos anseios, medos e frustrações nos ligam intensamente à verdadeira essência de quem somos. Culpados por vezes, outrora retrógrados ou ininteligíveis. Humanos. Existe uma distância entre nossa compreensão de quem podemos ser e de quem, de fato, somos – talvez do protagonista vilão ou mocinho, depende do momento.

Espaço. Há realmente um espaço que nos separa do que consideramos felicidade? Existe algo que explica que nossos conhecimentos natos – aqueles de que sabemos sem ter nunca aprendido a respeito – são responsáveis por nos dar um embasamento de determinadas situações e reconhecimentos de ações, por exemplo: Ao aproximar o indicador do olho de qualquer pessoa é sabido que a pálpebra dessa pessoa irá se fechar, mesmo sendo ela uma criança, mas por que? Porque somos detentores do conhecimento nato. E isso quer dizer que existe uma linha tênue que separa o que reconhecemos imediatamente como felicidade daquilo que desejamos como tal.

Talvez um dia o meu maior desejo tivesse sido ser escritor, e a minha felicidade em decorrência disso seria ter um livro devidamente publicado. Algo que, com certeza, enche os olhos de qualquer escritor iniciante de lágrimas. Felicidade desejada; porém talvez eu esteja levando a vida todos os dias com as mesmas tarefas e encarando problemas similares, e de repente recebo uma promoção. Felicidade reconhecida. Na vida existem as escolhas, e para cada escolha que fazemos é um caminho que tecemos dentro de nós mesmos. Essa é uma estrada que, uma vez um passo dado, não permite retrocesso e recomeço. Salvo o recomeço das tentativas. Digo isso porque possuímos conhecimentos que nos aproximam de quem somos, indagações que facilitam nosso entendimento a respeito dos outros, do universo e de nossa essência.

Nós somos os extremos. Nos momentos em que o sorriso nos diz que tudo vai bem, e no outro em que brotam, de nossos vívidos olhos, águas puras que surgem de nossa alma e nos beijam ternamente os lábios como símbolo da vulnerabilidade que nos representa. Sejamos a escolha que devemos fazer cotidianamente entre o certo e o errado, em ser o mocinho ou o vilão, saibamos caminhar por sobre a régua que nos separa de nós mesmos em nossos extremos infinitos. Sejamos como aquela árvore frutífera que dá seu fruto na estação primeira, sejamos coerentes e árbitros. O mundo – aquele que existe dentro de cada um – precisa ser regado um pouco a cada dia para que possa gerar grandes frutos, que poderão ocupar cada pequeno espaço existente em nossa passagem terrena, mesmo que seja assim apenas no momento de nossa partida. Existem escolhas difíceis. Pesadas! Que transformam nossos pensamentos em nuvens nebulosas e que nos distanciam de nosso outro eu lá na outra ponta de nós mesmos e nos faz cegos do saber nato.

A felicidade se refugia no recôndito de nosso espírito sempre à espreita de nossa ansiedade pelo desconhecido, pelo desejado e pelo querido. Existe um espaço que nos impede de saber um pouco mais sobre a verdadeira felicidade, é a ininteligível distancia que liga a mim daquele a quem percebo do outro lado do espelho, que anseia, que se frustra, que chora e que sorri, mas que no final das contas só quer desfrutar um pouco da felicidade plena e pura.
Hilton Luzz
Enviado por Hilton Luzz em 13/04/2014
Reeditado em 11/03/2021
Código do texto: T4767710
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